Mercado Mulheres que terminaram ensino médio têm mais chances de conseguir emprego No Brasil, 803 mil adolescentes entre 15 e 17 anos estão fora da sala de aula e tendem a perpetuar a pobreza

Por: Correio Braziliense

Publicado em: 29/11/2015 08:51 Atualizado em:

As meninas que frequentam regulamente as escolas e terminam o ensino médio têm mais chances de conseguir um bom emprego e salários acima da média do mercado. O impacto da educação na vida dessas jovens é tão profundo que os filhos delas tendem a ser mais saudáveis e a se colocar em melhor posição quando, adultos, forem em busca de um emprego. Apesar de todas as pesquisas confirmarem o quanto uma boa formação escolar faz diferença, uma em cada três meninas da América Latina não consegue chegar ao fim do ensino secundário.

O Brasil tem parcela grande de responsabilidade por esse quadro desanimador na região. A mais recente Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad), do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), revela que, no país, 943 mil garotas entre sete e 17 anos estão fora da escola, apesar da obrigatoriedade de matrícula nessa faixa etária. Desse total, a maioria, 803 mil, é composta por adolescentes entre 15 e 17 anos.

Os dados apavoram não apenas as famílias dessas meninas, que têm as perspectivas de futuro inevitavelmente afetadas, mas toda a sociedade. No entender da professora Carmen Migueles, especialista em educação da Fundação Getulio Vargas (FGV/Ebape), o impacto de uma criança fora da escola na reprodução da pobreza é muito maior se ela for do sexo feminino. “A educação das garotas é fundamental para o desenvolvimento econômico e social do país. A baixa escolaridade delas é a raiz da miséria. É a fragilidade social feminina o principal fator que leva à pobreza e à violência”, afirma.

O descaso com a formação educacional feminina é global. Mais da metade — 52,3% — das 59,3 milhões de crianças fora da escola no mundo são do sexo feminino. Isso significa que 31 milhões de garotas em idade escolar não estão estudando, segundo a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco). Delas, 17 milhões nunca pisarão em uma sala de aula — muitas, por restrições da própria família. “Quanto maior o número de garotas fora da escola, maior o baque no desenvolvimento do país. A pobreza tem gênero: ela é feminina”, alerta Carmen.

Os números assustam, acrescenta a professora. Ela ressalta que mais de 80% dos miseráveis do mundo são mulheres e crianças com menos de 10 anos. “As mães de menor renda não têm suporte à maternidade, o que faz com que criem crianças em situação vulnerável. Como muitas são abandonadas pelos maridos e não podem deixar os filhos sozinhos, criam famílias sem perspectiva de melhora econômica, o que perpetua a miséria”, explica.

Filme repetido
No favela do Sol Nascente, no Distrito Federal, a triste realidade se impõe. “Sempre gostei da escola, quando frequentava. Matemática era minha matéria preferida”, lembra Ketlen Juliana dos Anjos, 15 anos. Ela deixou a sala de aula antes de terminar o quarto ano do ensino fundamental, logo depois de descobrir que estar grávida aos 13 anos. “Fiquei sem opção”, diz, com voz contida, o rosto abatido pelo cansaço.

A mesma decisão foi tomada pela mãe da Juliana, quando tinha a mesma idade da filha. “Talvez por isso ela não tenha ficado irritada comigo, nem com as minhas duas irmãs, que também abandonaram a escola”, ressalta a menina. “É como se a vida se repetisse”, acrescenta. Priscila, 21, a irmã do meio de Juliana, deixou a sala de aula antes de terminar o ensino fundamental, para se dedicar à nova família.

Na casa de Priscila, em Ceilândia, enquanto o marido garante o salário, no lixão, ela cuida dos dois filhos. Jaqueline, 28, a irmã mais velha, conseguiu ir um pouco além: foi a única mulher da família a ingressar no ensino médio. Mas desistiu de continuar os estudos antes de chegar ao segundo ano, quando engravidou pela primeira vez. “Depois disso, ela teve mais dois filhos. Nunca mais voltou para a escola”, conta Juliana, desanimada, como se estivesse prevendo o próprio futuro. Pelos cálculos da ONU, das jovens que avançam até o ensino médio, 45% não se formam.

 

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