Atoleiro Sob Dilma, a recessão mais longa em 50 anos Desacertos do governo podem fazer o Brasil amargar 11 trimestres consecutivos de retração da atividade econômica. Rombo das contas públicas quadruplicou desde 2010 e minou confiança

Por: Rosana Hessel -

Publicado em: 04/08/2015 08:40 Atualizado em:

Tudo indica que o Brasil registrará, entre 2015 e 2016, o mais longo período de retração da economia dos últimos 50 anos. Entre os especialistas, as apostas mais sombrias são de até 11 trimestres seguidos de contração do Produto Interno Bruto (PIB) quando comparado ao mesmo período do ano anterior, o que fará do governo Dilma Rousseff o maior desastre desde a redemocratização do país.

Segundo Ivo Chermont, economista-chefe da Itaim Asset, com a esperada queda entre abril e junho deste ano, já serão cinco os trimestres de recuo da atividade. “Olhando para a frente, é difícil imaginar recuperação tão cedo da economia”, diz. O recorde que pode ser quebrado foi registrado entre 1981 e 1983, quando o Brasil computou nove trimestres consecutivos de retração, acumulando, no período, perdas de 8,5% que deram início às duas décadas perdidas da qual todos se ressentem até hoje.

Boa parte da fatura contratada por Dilma tem a ver com o estrangulamento das contas públicas, que detonou uma onda de desconfiança sem precedentes no país. Para elegê-la, seu antecessor, Lula, pisou no acelerador dos gastos. Esperava-se que, com a posse da petista, a responsabilidade fiscal voltasse ao radar. Mas o que se viu foi o descontrole total, com abuso da contabilidade criativa e das famosas “pedaladas fiscais”, que cresceram de forma exacerbada em 2014 e, agora, estão sendo questionadas pelo Tribunal de Contas da União (TCU).

O quadro é tão dramático que o rombo do setor público chegou a 8,12% do Produto Interno Bruto (PIB), ou seja, R$ 462,7 bilhões, no acumulado dos 12 meses terminados em junho deste ano. Quando assumiu o poder, Dilma herdou um deficit nominal de R$ 93,7 bilhões e não se intimidou em quase quadruplicá-lo. Não à toa, o Brasil deverá perder o grau de investimento dado em 2008 pela Standard & Poor’s, a mais conceituada das agências de classificação de risco do mundo.

Para o economista-chefe da Austin Rating, Alex Agostini, perante o que se vê hoje nas contas públicas, o Brasil terá que fazer uma revolução. O problema é que aquele que poderia fazer os ajustes necessários, o ministro da Fazenda, Joaquim Levy, está cada vez mais fraco. A promessa de uma arrumação rápida na casa foi para o lixo. Na melhor das hipóteses, a melhoria das contas só aparecerá em 2018, quando o superavit primário, a economia para pagamento de juros da dívida, chegaria a 2% do PIB. Em 2015, a promessa é de um saldo positivo de 0,15%, podendo haver deficit de até 0,3% do PIB, o correspondente a R$ 17,7 bilhões.

“O governo tem que apresentar um plano de redução de despesas de custeio muito ousado para conseguir fazer caixa, não ficar apenas pensando em aumento de receitas. Mas é difícil imaginar o que poderá conseguir, pois o país perdeu a confiança e qualquer plano que seja apresentado talvez não tenha eficácia esperada”, afirma Agostini, que vê a dívida pública em disparada, ameaçando superar os 70% do PIB.

Piora total
Na opinião de Simão Davi Silber, professor do Departamento de Economia da Universidade de São Paulo (USP), o que ocorreu foi uma longa deterioração na área fiscal, sem que o governo demonstrasse qualquer sinal de preocupação. “Muito pelo contrário. Começou a enfeitar os números com a contabilidade criativa e finalizou com as pedaladas. Foi uma irresponsabilidade fiscal gigantesca”, explica. No entender dele, são grandes as chances de o país perder o selo de bom pagador. “O risco é inexorável, especialmente com esta meta de superavit de 0,15% do PIB e de dívida bruta de 70%”, concluiu.

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