Atenção
Aumento no limite do empréstimo consignado deve ser visto com cuidado
Governo medida provisória elevando de 30% para 35% o teto do valor que pode ser descontado mensalmente no pagamento do trabalhador, aposentado ou pensionista
Por: Tatiana Nascimento - Diário de Pernambuco
Publicado em: 20/07/2015 08:08 Atualizado em:
Não é pelos 5%
Em 2013, um monte de gente foi às ruas protestar contra o aumento das passagens de ônibus. “Não é pelo R$ 0,20”, diziam. Será que não vale a pena a gente protestar agora contra o aumento dos cinco pontos percentuais no limite do empréstimo consignado? Faz uma semana que o governo publicou no Diário Oficial da União uma medida provisória elevando de 30% para 35% o teto do valor que pode ser descontado mensalmente no pagamento do trabalhador, aposentado ou pensionista. Estranho, para dizer o mínimo. No final de maio, a presidente Dilma tinha vetado a ampliação de 30% para 40% do limite aprovada pelo Congresso.
Ao justificar o veto, a presidente afirmou que “sem a introdução de contrapartidas que ampliassem a proteção ao tomador do empréstimo, a medida proposta poderia acarretar um comprometimento da renda das famílias para além do desejável e de maneira incompatível com os princípios da atividade econômica”. Afirmou também que “a proposta levaria, ainda, à elevação do endividamento e poderia resultar na ampliação da inadimplência, prejudicando as próprias famílias e dificultando o esforço atual de controle da inflação”. O que aconteceu para Dilma mudar de ideia em menos de dois meses?
O argumento de que esse percentual a mais, de 5%, só poderá ser usado para pagar as despesas com cartão de crédito não justifica a mudança. Se a ideia é fazer o brasileiro se livrar das dívidas “mais caras”, por que não “carimbar” esses 5% dentro do teto de 30%? Bem melhor do que permitir um comprometimento ainda maior da renda com empréstimos, quando o país vive um período de aumento do desemprego e inflação em alta. Parece óbvio para todo mundo – menos para o governo – que essa elevação do limite amplia o risco de inadimplência, que já está em alta.
Um dia após a publicação da medida provisória pelo governo, o SPC Brasil divulgou que, em junho, 56,5 milhões de consumidores constavam de cadastros de devedores inadimplentes. Segundo o levantamento, cresceu o volume de débitos por devedor. Em média, o inadimplente tem 2,12 dívidas em atraso. Está vendo? Melhor pensar duas vezes antes de achar que o consignado é a solução para todos os seus problemas. É um empréstimo como qualquer outro. Você não vai ganhar o dinheiro. Terá de devolvê-lo depois, com juros.
Abra o olho
O educador financeiro Reinaldo Domingos orienta sobre a tomada do empréstimo consignado. Vamos às dicas:
É importante tomar consciência de que o custo de vida deverá ser reduzido, já que a prestação será retirada diretamente de seu salário ou benefício de aposentadoria
É muito comum usar o consignado para quitação de cheque especial, cartão de crédito e financeiras. Isso é recomendável. Mas a troca simplesmente de um credor por outro, sem descobrir a causa do verdadeiro problema, apenas alimentará o ciclo do endividamento.
A linha de crédito consignado não pode fazer parte da rotina de um assalariado ou aposentado. Sua utilização deve ser pontual para um objetivo relevante.
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