Entrevista especial Stefan Ketter fala do maior desafio da sua vida profissional: construir o polo automotivo da Jeep em Pernambuco

Por: Jorge Moraes - Vrum

Publicado em: 27/04/2015 08:12 Atualizado em: 27/04/2015 09:15

Foto: Julio Jacobina/DP/D.A Press
Foto: Julio Jacobina/DP/D.A Press
O maestro do polo automotivo

 

Quinta-feira, 9 de dezembro de 2010, em São Paulo, durante reunião da Fiat com jornalistas do setor, meu telefone toca com a seguinte mensagem: “Pernambuco é o destino da nova fábrica do grupo Fiat. Investigue”. O Diario de Pernambuco antecipou tudo. Um projeto com investimentos superiores a R$ 7 bilhões arquitetado nos bastidores do governo federal e estadual, coordenado pelo então governador Eduardo Campos e que tinha também um defensor do desenvolvimento industrial do Nordeste, o presidente da Fiat na América Latina, Cledorvino Belini. Para comandar toda a operação foi convocado um profissional de confiança do CEO mundial do grupo, Sérgio Marchionne: o engenheiro Stefan Ketter, executivo com foco em qualidade e processo de modernização de fábricas atuando em plataformas na Europa, Estados Unidos e China. Ketter aceitou mudar de moradia, ganhar novamente o mundo e encontrar em Pernambuco o maior desafio da sua vida profissional: construir o polo automotivo da Jeep, o projeto mais complexo já feito na história da companhia. 

 

“Pernambuco caminha para se tornar um polo automotivo robusto”

 

Estive na fábrica e poucas vezes vi uma planta tão bem construída e tão rica como a de Goiana. A FCA transformou vidas trazendo lavradores para a produção industrial. Como falar sobre esse projeto social do grupo?
Desde o início do projeto, nossa preocupação foi aumentar a empregabilidade da população da área de influência da fábrica, para que o grande investimento econômico se traduzisse também em progresso social. Houve uma grande articulação entre a empresa, governo do estado e prefeituras, para capacitar pessoas para o projeto, seja a construção civil seja para a operação da fábrica. Os resultados colhidos confirmaram e superaram a expectativa inicial de que a implantação do agora Polo Automotivo Jeep representaria um legado para a FCA, para o estado e para a sociedade. O objetivo maior foi conquistado: desenvolver um novo time de profissionais, capazes de integrar, desenvolver e aplicar conhecimentos mais avançados da indústria automotiva para um mercado em evolução. E fizemos isto conhecendo, respeitando e estimulando as pessoas.

Voltando ao dia que Sérgio Marchionne disse “Ketter, eu preciso de você lá”, como foi que o senhor aceitou assumir o projeto de renascimento da Jeep Brasil, como parte da estratégia global ds FCA? A missão o surpreendeu em algum momento?
Uma decisão deste porte – mudar-se da Itália ou dos Estados Unidos para o Brasil – impacta sua vida e causa surpresa. Mas foi uma surpresa positiva, que me trouxe muitas alegrias e realizações pessoais, além de profissionais. A construção do Polo Automotivo Jeep foi o projeto mais complexo já feito na história da companhia, considerando o objetivo de construir não só a planta, mas também um parque de fornecedores integrado, além da produção de carros de classe mundial e do relacionamento com vários stakeholders. A complexidade foi imensa.

Primeiro Suape, de repente sai a região do porto e chega Goiana, tudo muito longe do complexo industrial de Betim, e do eixo Sul/Sudeste do país. Localmente nasce um novo polo automotivo, que inclui sistemistas e toda a cadeia produtiva. Na sua opinião o que pontuou a favor do Nordeste?
O Nordeste tem grande potencial de crescimento e Pernambuco oferece um excelente ambiente de negócios. O estado está em pleno processo de desenvolvimento industrial, que tem conseguido atrair empresas de diversos setores, como siderurgia e metalurgia, energia eólica, farmacoquímico, bebidas e alimentos, além do setor automotivo. Pernambuco conta com atrativos para os negócios do porte do Complexo Industrial Portuário de Suape e de inúmeros parceiros estratégicos para o setor de TI, graças à presença do Porto Digital.

A Jeep estreia o Renegade, a planta da FCA produzirá no fim do ano a picape Fiat e, em 2016, um outro veículo utilitário da Jeep. O que podemos saber mais sobre esses dois projetos globais?
Nós pretendemos que os próximos lançamentos encantem e surpreendam os consumidores. Para que isto aconteça, eu nada posso falar sobre os próximos lançamentos, para não estragar a surpresa.

O coração, a sede do grupo FCA, poderá em breve ficar em Pernambuco?
Pouco mais de 120 engenheiros da Fiat, Ferrari, Maserati, Alfa Romeo, Chrysler já trabalham em um prédio comercial na Zona Sul do Recife.
Seremos a Turim da América Latina?
Esta mania de grandeza dos pernambucanos... Recife já é a Veneza da América Latina. Agora vocês querem Turim também? Mas brincadeiras à parte, Pernambuco caminha para tornar-se um polo automotivo robusto, onde se faz e se pensa o automóvel. Estamos inaugurando o Polo Automotivo Jeep, em Goiana, com capacidade para fazer até 250 mil carros por ano. E esta é uma capacidade que pode ser ampliada, pois isto está previsto no projeto. Paralelamente, a implantação do Centro de Pesquisa, Desenvolvimento, Inovação e Engenharia da FCA transformará Recife em uma referência nacional e internacional em Engenharia Automotiva, estimulando todo o tecido acadêmico e científico da região. Pensar e fazer. Este binômio pode transformar a realidade do estado.

Dentro da estratégia de crescimento global da marca Jeep, o Renegade feito em Pernambuco seguirá para quais países?
Nossa prioridade neste momento é o mercado interno. A missão do Renegade é posicionar a FCA na liderança do segmento de SUVs. Vamos nos concentrar primeiro nesta nobre missão. As exportações virão a seguir.

Quero destacar o alto nível de qualidade de construção da planta com “chão de hospital” (claro e limpo) e carro, no caso o Renegade, com precisão de montagem europeia. A mão de obra já chegou no ponto ideal?
Os trabalhadores estão organizados em pequenas células de produção, com até seis pessoas, comandados por um team leader. Esta é a base de tudo, desde o processo de seleção, passando pela fase de treinamento e chegando à linha de produção. O team leader é uma pessoa que assume o papel de coordenar atividades, resolver problemas, tomar decisões e manter sua equipe unida. Ele também tem o papel de fazer sua equipe evoluir permanentemente, fazendo sempre melhor. Portanto, a resposta à sua pergunta é a seguinte: os trabalhadores já estão muito bem preparados para produzir com qualidade global, mas ainda têm muito a evoluir, porque a evolução é permanente.

Para finalizar, chateou o fato do governo não concluir as obras de infraestrutura, como por exemplo, o arco rodoviário, o porto e a ferrovia?
Não estamos chateados. Lidamos com a realidade. Temos que assegurar a competitividade do nosso negócio e para isto uma infraestrutura eficiente é essencial. O governo sabe disto, pois também precisa garantir e expandir as condições para que Pernambuco continue a crescer. O governo do estado revitalizou algumas rodovias estaduais que são importantes para nossa logística e adotamos estratégias preventivas, para evitar risco de atraso na entrega de peças que sejam fornecidas a partir da região Sudeste. Investimos em planejamento logístico enquanto aguardamos a realização de obras essenciais, como o Arco Metropolitano.

 

Saiba mais

 

Stefan Ketter iniciou sua carreira na indústria automotiva na década de 1980, na BMW. Em 1996, transferiu-se para a Audi e, no ano seguinte, alcançou o cargo de diretor de Qualidade para a América do Sul do Grupo Volkswagen, empresa na qual também atuou nas áreas de Qualidade e de Serviços nos Estados Unidos.

Sua trajetória na Fiat teve início em 2004. Em 2008, se tornou vice-presidente mundial de Manufatura e membro do Group Executive Council (GEC), a máxima instância executiva global do Grupo Fiat Chrysler.

Em junho de 2013, devido à importância estratégica para a Fiat Chrysler do Polo Automotivo de Pernambuco, Stefan Ketter passou a comandar o projeto, acumulando o cargo de vice-presidente mundial de Manufatura e de membro do GEC. A fábrica será o estado-da-arte na produção de veículos no grupo.



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