Consumo O pé no freio da classe C Alta de preços força os cortes nas compras do supermercado de uma faixa da população que já foi a estrela do consumo

Por: Rosa Falcão

Publicado em: 01/03/2015 10:04 Atualizado em:

Para enfrentar a alta de preços Jackson Ferreira está diminuindo as compras de mês
Para enfrentar a alta de preços Jackson Ferreira está diminuindo as compras de mês

A nova classe C está perdendo o fôlego. Pudera. A inflação em alta, aliada ao aumento da conta de luz e dos combustíveis bateu na trave do consumo. As famílias que surfaram na onda da maior oferta de crédito, para realizar os sonhos de consumo, colocaram o pé no freio. Pesquisa do Instituto Data Popular revela que 47% dos entrevistados da classe C compraram menos nos últimos seis meses. A expectativa para frente é mais preocupante : 45% das pessoas estimam reduzir as compras no futuro. Um sinal que o carrinho do supermercado ficará cada vez mais magro.

O frentista Jackson Alves Ferreira, 41, experimenta o gosto amargo do aumento da gasolina e do diesel. “O resultado a gente já sentiu no bolso. Antes eu gastava menos na feira e levava mais comida. Subiu tudo, principalmente a carne e os cereais.” Para enfrentar a alta de preços a família de Jackson está diminuindo as compras de mês. “A gente leva o básico. Estou comprando menos verdura e material de limpeza”, completa. Outra estratégia de Jackson é arranjar um “bico”nas horas vagas para fechar as contas.

Na casa da auxiliar-administativa Rosana Sobrinha, 42, o verbo “cortar” está em alta. “Ao invés de comprar 24 ovos, a gente troca por uma bandeja com 12 ovos. Eu levava seis pacotes de biscoito para os meus filhos e agora são apenas dois”, conta. A subida da conta de luz e do botijão de gás pesaram no orçamento da família. Rosana diz que vai procurar uma renda extra para não abrir mão do consumo conquistado. “Ninguém quer voltar para trás. Baixar a gente não vai”, garante.

O presidente do Data Popular, Renato Meirelles, é taxativo: “É clara a redução do consumo. A inflação maior atinge os de menor renda que não têm maior ganho salarial.” Segundo ele, para driblar a alta de preços, o consumidor já busca as marcas mais baratas nas prateleiras dos supermercados. Ele acrescenta que o mais preocupante é a intenção de redução do consumo nos próximos seis meses, o que poderá se agravar com o desemprego. O Data Popular estima a renda da classe C em R$ 2.900.

Para a professora de pós-graduação e gestão de negócios da Faculdade Guararapes, Karla Oliveira, a classe C só vai reduzir de tamanho quando houver a retração do mercado de trabalho. “Por enquanto, a classe C se retraiu e reduziu o consumo para não se endividar mais. As famílias estão priorizando as compras no início da semana para aproveitar as promoções”, assinala. Outro movimento observado pela especialista é a mudança de hábitos de consumo das pessoas. “Elas estão dando adeus aos supérfluos e evitando comprar bens de consumo duráveis mais caros, como o carro e trocar o celular.”

O carrinho de supermercado da classe C

Intenção de compras nos últimos seis meses
47% Menos
41% Mesma quantidade
12% Mais

Intenção de compras nos próximos seis meses
45% Menos
36% Mesma quantidade
19% Mais

Amostra
18 a 29 de janeiro de 2015
3.050 entrevistados
1.603 classe C
150 cidades do Brasil
Fonte : Data Popular

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