Energia Alta da conta de luz faz efeito cascata nos preços dos serviços Além do aumento na fatura de energia, consumidor sentirá no bolso o impacto dos reajustes dos serviços e produtos que vêm pela frente

Por: Rosa Falcão

Publicado em: 01/03/2015 10:07 Atualizado em: 01/03/2015 10:11

Iolanda Revoredo já sentiu o aumento de R$ 1,3 mil na conta de luz da panificadora por conta do reajuste de janeiro
Iolanda Revoredo já sentiu o aumento de R$ 1,3 mil na conta de luz da panificadora por conta do reajuste de janeiro


Da indústria ao salão de beleza. O aumento da conta de luz vai bater forte no caixa das empresas. As tarifas extras das bandeiras tarifárias em janeiro e fevereiro, a revisão extraordinária para as distribuidoras pagarem o uso das usinas térmicas a diesel e o reajuste anual da tarifa da Celpe vão provocar o efeito cascata nos custos do setor produtivo. A conta será repassada para o consumidor, que além de pagar energia mais cara, sentirá no bolso o aumento de preços dos produtos e serviços. Pelo menos todos estão no mesmo barco: a alternativa é cortar o consumo de energia e dos supérfluos.

Na panificadora Capibaribe, a conta de luz já está mais salgada. “Já começamos a sentir o primeiro rebate do aumento da energia em janeiro. A gente pagava R$ 6.200 e a conta passou para R$ 7.500”, conta a proprietária, Iolanda Regina Revoredo de Almeida , 41. Como não pode desligar as máquinas elétricas e o forno, Iolanda vai desligar o ar-condicionado e controlar o uso das lâmpadas para reduzir o consumo.

“Vamos tentar tirar a diferença do aumento dos custos da energia sem repassar para os nossos clientes. Não sei se vamos conseguir.” Ao mesmo tempo, a dona da padaria percebe a redução do consumo de supérfluos pelos clientes. Segundo ela, o pãozinho francês ainda é o carro-chefe, mas as pessoas já reduziram a compra de tortas, queijos, derivados de leite e outros produtos mais caros.

A microempresária Maria do Carmo Carvalho dos Santos, 42, tem um salão de beleza na Madalena há cinco anos. O pipoco na conta de energia foi sentido em janeiro. A fatura mensal passou de R$ 350 para R$ 500. “A gente fica entre a cruz e a espada, porque não pode deixar de dar conforto aos clientes”, explica. Ela se refere ao uso intensivo de ar-condicionado, secador, chapinha, forno de esterilização, entre outros equipamentos elétricos. “Estou conscientizando os colaboradores para controlar o ar-condicionado e apagar a luz quando não tem cliente.”

Os hotéis e pousadas terão que apertar o consumo de energia. Ponto para Silvana Rondelli, dona da pousada Beco de Noronha. Há dois anos ela começou a implantar, com a ajuda do Sebrae-PE, um plano de eficiência energética. Com o uso de energia solar nos apartamentos ela economiza na conta de luz. São duas casas cujas faturas mensais de energia variam de R$ 800 a R$ 900.

Para tornar o uso de energia mais eficiente, Silvana conta que trocou as lâmpadas comuns por lâmpadas de modelo eficiente (LED). Além disso, um sistema de sensor controla o uso do ar-condicionado nos quartos. “Com esse investimento, esperamos ter menor impacto agora na conta de energia”, comenta Silvana.

 

Indústria estima impacto de 20%

A indústria é o setor econômico mais impactado com o aumento do preço da energia elétrica. O presidente em exercício da Fiepe Ricardo Essinger estima o impacto de 20% nos custos de produção do setor industrial. Esse percentual poderá ser maior nas empresas com uso intensivo de energia. “Mesmo as indústrias que usam pouca energia sofrerão o impacto. A estimativa é de um repasse entre 7% e 8% para o produto final.”

Essinger critica a política energética do governo federal. Segundo ele, os reajustes do combustível e de energia elétrica foram represados e repassados de uma só vez para o consumidor. Para reduzir o impacto dos aumentos de energia no setor industrial, o dirigente da Fiepe sugere o diferimento do imposto estadual (ICMS) calculado em cima do combustível e da energia elétrica. O diferimento adia o pagamento do imposto. O argumento é que os governos estaduais terão aumento de caixa porque vão arrecadar mais ICMS.

As indústrias do setor metal-mecânico serão atingidas em cheio pelo tarifaço. “Esses aumentos de energia vão provocar tremendo aumento de custos das nossas empresas”, comenta Alexandre Valença, presidente do Sindicato da Indústria Metal-Mecânica de Pernambuco (Simmepe). De acordo com ele, a maioria das empresas investiu em máquinas para fornecer insumos aos pólos naval e de petróleo e gás.

No comércio, a energia representa entre 10% e 12% do custo dos lojistas. Esse percentual poderá ser maior nas lojas de shopping center. Segundo Eduado Catão, presidente da Câmara de Dirigentes Lojistas de Recife (CDL), as empresas já adotam algumas medidas para reduzir o consumo, mas as lojas têm que ser bem iluminadas e o cliente não abre mão do ar-condicionado. “Não tem outro jeito. O aumento terá que ser repassado ao consumidor.”



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