Consumo Um autêntico carnaval made in China Os produtos orientais invadiram o comércio local. Mesmo com a qualidade inferior a dos itens nacionais, muitos compradores só se importam com os preços, que são mais em conta

Por: Augusto Freitas

Publicado em: 01/02/2015 08:00 Atualizado em: 27/01/2015 22:33

Sombrinha de frevo fabricada no país oriental sai por R$ 4. O produto nacional custa R$ 30. Foto: Roberto Ramos/DP/D.A Press
Sombrinha de frevo fabricada no país oriental sai por R$ 4. O produto nacional custa R$ 30. Foto: Roberto Ramos/DP/D.A Press

Faltando duas semanas para os foliões curtirem o carnaval, boa parte ainda não decidiu quais fantasias e adereços usar durante o período de festa. Aos atrasados, um aviso: o que vocês irão comprar possivelmente não é fabricado no Brasil. Vem do outro lado do mundo. Na disputa entre os produtos brasileiros e chineses, os orientais estão bem à frente. Vendem um volume bastante superior. Até mesmo a sombrinha de frevo, símbolo mais conhecido e tradicional do carnaval pernambucano, é produzida na China.

Circulando pelo comércio do Centro do Recife, é fácil comprovar. Por cerca de R$ 30 você leva para a casa uma peça nacional. Se observar mais, vai encontrá-la por apenas R$ 4. A presença dos chineses no comércio do Centro do Recife tem aumentado cada vez mais e o reflexo disso está nas vendas. “Uma conta com dez produtos brasileiros se der R$ 100, a mesma quantidade sendo chineses dará uns R$ 40. Faço pedidos três vezes ao ano que são suficientes para abastecer não apenas o carnaval, mas também outras festas”, revela Rômulo Oliveira, gerente de uma loja na Rua do Rangel.

Na loja que Rômulo gerencia, 80% do estoque de produtos carnavalescos vêm da China. Foto: Roberto Ramos/DP/D.A Press
Na loja que Rômulo gerencia, 80% do estoque de produtos carnavalescos vêm da China. Foto: Roberto Ramos/DP/D.A Press
O reinado oriental é consequência do fenômeno mundial que ocorre no outro lado do mundo: mão de obra e preços mais baratos. Some a isso a elevada carga tributária que incide sobre os produtos fabricados no Brasil. Com a oferta de fora mais em conta e preços bem mais competitivos, fica fácil entender a vantagem chinesa. “É um fenômeno mundial, que se fortaleceu nos últimos anos. Enfrentar a concorrência dos chineses é difícil. Com mão de obra mais barata é mais fácil vender”, diz Frederico Leal, diretor executivo da Câmara de Dirigentes Lojistas do Recife (CDL).

A presença dos produtos e comerciantes chineses, apesar de maciça, não possui estatísticas. O certo é que praticamente todas as lojas que vendem produtos para o carnaval possuem itens chineses em larga escala. “Não há estudos específicos de comparação sobre a quantidade de comerciantes e o volume de peças e financeiro movimentado entre os produtos brasileiros e chineses no comércio do centro. O CDL atua mais nas questões de legalização, formalização e legislação trabalhista. Mas todo mundo sabe que a presença deles é cada vez maior, pelas razões já expostas”, pontua Frederico Leal.

Máscaras diversas, adereços de fantasias, chapéus. É difícil não encontrar uma embalagem com o selo made in China. “Aqui na loja, 80% do estoque de produtos carnavalescos vêm da China e 20% são fabricados no Brasil. O cliente procura pelo preço e não se preocupa com a origem, mesmo com a qualidade um pouco inferior”, confirma Rômulo Oliveira.

Fantasias

Mariana Nogueira diz que fantasias brasileiras têm qualidade superior. Ela não trabalha com as chinesas. Foto: Roberto Ramos/D.P/D.A Press
Mariana Nogueira diz que fantasias brasileiras têm qualidade superior. Ela não trabalha com as chinesas. Foto: Roberto Ramos/D.P/D.A Press
A exceção nessa disputa desigual são as fantasias, já que os compradores têm preferido algo mais refinado, mesmo pagando mais. Mariana Nogueira gerencia uma loja próxima ao Mercado de São José cujas fantasias têm preços variando entre R$ 35 e R$ 120. As orientais estão barradas. Não há no estoque nenhuma peça made in China. “O relacionamento com os fabricantes nacionais é melhor. Embora com preços mais elevados, é possível negociar dependendo do pedido e também substituir peças com defeitos”, explica.

“O acabamento das fantasias feitas aqui é melhor, apesar do preço mais elevado. Quero gastar uns R$ 70 e acho que pesquisando dá para encontrar uma peça de boa qualidade”, diz a atendente de telemarketing Rebeca Andrade, 27. Na loja em que falou à reportagem, também não há fantasias com o selo made in China. “Para os clientes interessa o preço e as chinesas são bem mais baratas, mas prefiro vender peças nacionais, são melhores”, destaca Laura Silva, proprietária do estabelecimento.

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