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CINEMA

A mão de obra da ação

'O dublê', com Ryan Gosling e Emily Blunt, é mistura autoconsciente de gêneros que celebrar trabalho da categoria constantemente invisibilizada pela indústria do cinema

Publicado em: 02/05/2024 06:00 | Atualizado em: 30/04/2024 18:05

 (Universal/Divulgação)
Universal/Divulgação

A discussão sobre a importância de criar uma categoria nas principais premiações da indústria para dublês vem ganhando mídia a cada ano, mas nenhum grande lançamento até agora captou o calor da conversa ao ponto de transformá-la em uma bandeira tão evidente quanto a comédia de ação O dublê, já em cartaz nos cinemas. A razão é clara: o longa é dirigido por David Leitch (Atômica, Deadpool 2 e Trem-bala), ex-dublê de estrelas como Brad Pitt e Matt Damon, além de coordenador de stunts. Uma das principais vozes de tal debate em Hollywood hoje, Leitch imprime a esse trabalho um ar ao mesmo tempo de paródia e de celebração.

 

A trama é inspirada na série Duro na queda, da década de 1980, e acompanha o dublê Colt (Ryan Gosling), que está em pleno romance com Jody (Emily Blunt), a diretora do filme em que trabalhava, quando sofre um acidente grave durante as gravações de um filme. Afastado e recluso da profissão, ele só aceita voltar ao trabalho pela chance de reconquistar a cineasta, mas acaba se envolvendo em uma teia criminal quando o astro do projeto, Tom Ryder (Aaron Taylor-Johnson), desaparece misteriosamente.

 

Assim como nos seus últimos dois filmes, Leitch combina a ação estilizada e comédia autoconsciente com resultado irregularmente positivo. Chama atenção a energia de caos controlado com que ele coordena as coreografias de combate e perseguição – sempre a um passo de ficar completamente absurdo e se aproveitando ao máximo de possibilidades presentes nos cenários. Ajuda que a maioria das interpretações compreenda bem o registro propositalmente canastrão do todo, sobretudo a figura de Gosling, ator que se encontrou totalmente na comédia levemente autodepreciativa e parece se divertir muito com ela. 

 

A subtrama de mistério é genérica, mas simples o suficiente para que O dublê jamais fuja da sua brincadeira de transformar essa função invisibilizada pela indústria em quase uma resistência de super-herói. Cada ‘fase’ do roteiro, portanto, é menos a tentativa de expandir uma história e mais uma desculpa escancarada para o filme engatar uma set-piece de ação criativa que coloque Gosling para cair - e cair novamente. O ato final é o ápice dessa libertação meio paródica, já que todos assumem suas caricaturas e as atitudes dos personagens fazem cada vez menos sentido.

 

Mesmo com as melhores intenções, o lado ‘homenagem’ de O dublê infelizmente cai numa verbalização algo panfletária. Já existe suficiente demonstração dessa celebração que o filme propõe nas situações e nas caracterizações, mas vem se tornando comum o cinema de Leitch cair nesse inchaço textual que ora atrasa os rumos da ação (o caso de Atômica), ora reitera demasiadamente a mesma piada (Deadpool 2), ora complica o que é essencialmente elementar (Trem-bala). O roteiro e a direção também nunca encontram bem o tom do romance que está no centro da história: é bastante pueril e pouco convincente a justificativa da separação do casal e mais ainda a dificuldade da reconquista.

 

Prevalece em O dublê, além do apelo recreativo, um espírito cínico de cobrança (“tem Oscar para isso que vocês fazem?”, pergunta um personagem) e, levando em conta a natureza descartável da trama que liga as boas cenas de ação, é possível haver aqui uma porta de entrada para uma franquia que dê destaque inclusive a outras funções do set. Em um momento de crise pós-pandemia com Hollywood buscando cada vez mais enaltecer e humanizar os pilares que sustentam a sua produção, vem a calhar que a hora dos dublês comece a chegar.

Tags: o | dublê | ryan | gosling | emily | blunt | lançamento | cinema |
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