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LUTO

Fundador da primeira galeria de arte no Recife, Carlos Ranulpho morre aos 94 anos

Galeria do Ranulpho recebeu obras de Cícero Dias, Wellington Virgolino, Reynaldo Fonseca, José Cláudio e Vicente do Rego Monteiro

Publicado em: 15/04/2024 10:32 | Atualizado em: 15/04/2024 17:26

Carlos Ranulpho é pioneiro na promoção de exposições em Pernambuco (Crédito: Divulgação)
Carlos Ranulpho é pioneiro na promoção de exposições em Pernambuco (Crédito: Divulgação)
O marchand Carlos Ranulpho, conhecido por sua longa história como mediador entre artistas plásticos e a sociedade pernambucana, faleceu na madrugada de ontem aos 94 anos. É creditada a ele a formação do público local que consome arte, quando começou a patrocinar exposições e mostras no Recife. Ranulpho, que faria aniversário em duas semanas, estava hospitalizado desde o sábado de Aleluia para tratar de uma infecção, mas não resistiu. O velório será nesta segunda (15), a partir das 9h, no Cemitério Morada da Paz, em Paulista, e o sepultamento está marcado para as 13h.

Carlos Ranulpho de Albuquerque nasceu em 28 de abril de 1929, na Rua da Praia, no Recife, como filho de Maria José e José Ranulpho. Seu pai, ilustrador e caricaturista, despertou nele um apreço pela beleza da arte. A começar pelas jóias, seus primeiros objetos de valor a serem comercializados. Sua primeira incursão comercial, antes de ingressar na marchandaria, foi a loja It Presentes, situada na Rua da Aurora, que mais tarde se tornou a Ranulpho Joalheiros. O sucesso das vendas levou à divulgação do seu nome nos jornais da cidade. 

Foi nesse período que ele vislumbrou a possibilidade de criar uma galeria de arte profissional, algo que ainda não estava estabelecido no Recife na década de 1970. A Galeria do Ranulpho iniciou suas atividades às margens do Rio Capibaribe, onde permaneceu até ser realocada para um casarão em Boa Viagem em 1975. Dois anos mais tarde, a galeria abriu uma filial na nobre região dos Jardins, em São Paulo, e desde 2001 está instalada na Rua do Bom Jesus, no Recife Antigo. Seu primeiro trabalho como marchand foi com o artista plástico cearense Chico Silva. Outros nomes importantes como Cícero Dias, Wellington Virgolino, Reynaldo Fonseca, José Cláudio e Vicente do Rego Monteiro também tiveram suas obras expostas no espaço.

Na biografia do merchand publicada pela Cepe em 2018, o autor e jornalista Marcelo Pereira descreveu Ranulpho como "mercador de beleza". “Um profundo conhecedor do mercado de arte e seus meandros. Era inquieto e inovador nos negócios, também muito atento às tendências. Procurava fazer negócios com os artistas que fossem bons para os dois lados, procurando ser justo e valorizar os que eles produziam”, exalta. Segundo Pereira, Ranulpho deixa como principal legado a profissionalização do mercado de arte do Recife. “É um mercado difícil e sensível, diferenciado. Arte é prazer estético, é cultura. É também comércio e investimento. Para Ranulpho, o marchand não pode ter preconceito e, mais importante do que o gosto pessoal, é ter a sensibilidade de conhecer o gosto do cliente”. 
  
O olhar aguçado de Ranulpho contribuiu no reconhecimento obtido por alguns artistas, como é o caso do xilogravurista J.Borges. Marcelo Pereira revelou na biografia que “Ranulpho procurou o dramaturgo e escritor Ariano Suassuna para lhe mostrar as matrizes de gravuras que adquirira de J. Borges. Ariano ficou surpreso, pois não conhecia, e com o maior entusiasmo declarou que, depois de Samico, ele era o maior gravador do Brasil”. Naquela época, a elite artística e intelectual não via com bons olhos a aproximação do merchand com artistas populares.
 
A Secretaria Estadual de Cultura (Secult-PE) e a Fundação do Patrimônio Histórico e Artístico de Pernambuco (Fundarpe) lamentaram, em nota divulgada nas redes sociais, o falecimento de "um dos principais galeristas do Brasil e considerado o principal marchand de Pernambuco". Na sequência, o comuniacado expressa que "o grande legado deixado por Ranulpho à arte brasileira e pernambucana jamais será esquecido". 
 
A Galeria Ranulpho se pronunciou sobre a morte do fundador. Segundo a instituição, Ranulpho estava à frente da sua geração no que diz respeito à compreensão da arte. "Ele dedicou 56 anos de sua vida ao mercado de arte. Respirava e dormia sonhando com as próximas exposições. Um marchand com um olhar à frente do seu tempo. O grande legado deixado por Ranulpho à arte brasileira nunca será esquecido", ressalta. No fim do texto, a Galeria faz menção ao faro do marchand para descobrir talentos. "Por suas mãos, passaram grandes nomes da arte moderna brasileira", encerra. 

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