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Notícia de Divirta-se

CINEMA

Baseado no livro de Clarice Lispector, 'A Paixão Segundo G.H.' chega aos cinemas

Longa traduz linguagem complexa da escritora para as telas do cinema

Publicado em: 12/04/2024 12:29 | Atualizado em: 12/04/2024 13:35

A Paixão Segundo G.H chega aos cinemas com desafio de reproduzir drama existencial da protagonista (Crédito: Reprodução)
A Paixão Segundo G.H chega aos cinemas com desafio de reproduzir drama existencial da protagonista (Crédito: Reprodução)
Nos trechos preliminares de A Paixão Segundo G.H, Clarice Lispector avisa aos leitores que o romance é 'como qualquer outro livro'. Se considerar a bibliografia da autora radicada no Recife, o recado procede com mais veemência, já que não diverge do perfil enigmático e complexo que é uma constante no universo clariciano. A escrita meticulosa, por outro lado, dificulta a categorização de uma releitura audiovisual como ‘qualquer outro filme’. Isso se torna evidente no filme homônimo, com estreia hoje nos cinemas, que transcreve para a tela cada vírgula do livro.

A poesia introspectiva de Clarice se manifesta em um monólogo de Maria Fernanda Cândido. A atriz interpreta G.H, uma escultora da elite de Copacabana que decide arrumar seu apartamento após o fim de uma paixão. Quando chega no quarto de serviço, ela se depara com uma enorme barata que revela seu próprio horror diante do mundo, reflexo de uma sociedade repleta de preconceitos contra os seres que elege como subalternos. Diante do inseto, G.H. vive sua via-crúcis existencial. A experiência narra a perda de sua identidade e a faz questionar todas as convenções sociais que aprisionam o feminino até os dias de hoje.

Responsável pela adaptação de A Lavoura Arcaica, romance de Raduan Nassar, o diretor Luiz Fernando Carvalho repete a abordagem de pouca ação da sua primeira releitura feita em 2001. Ao Viver, porém, Carvalho contesta a ideia de que o roteiro foi espelhado no texto original, uma vez que, de acordo com ele, a roteirização de A Paixão Segundo G.H se encontra na estrutura narrativa, e não em suas palavras cruas. "Roteiro, para mim, é montagem. Tanto que a forma do livro é completamente diferente da forma do roteiro. Desde a ordenação dos capítulos, nada ali é um espelhamento do romance”, rechaça.

Apesar da crença generalizada de que a literatura clariciana é “infilmável” devido à sofisticação das obras, Luiz Fernando fez o caminho inverso: potencializou as palavras através das imagens. “Eu entendo a literatura de Clarice altamente poderosa em termos de produção de imagens e de signos cinematográficos. Busco reivindicar a palavra no centro da questão da linguagem cinematográfica. Não crio uma hierarquia entre palavra e imagem. O meu procedimento é dar potência a essa estranheza, a esses espinhos da linguagem, que fazem a literatura da Clarice. Ao mesmo tempo, eu dou potência à linguagem cinematográfica”. 

Luiz Fernando e Maria Fernanda Cândido já haviam trabalhado juntos na minissérie Correio Feminino, baseada no livro homônimo (2006) de Clarice e exibida no Fantástico, em 2013. Alguns anos depois, em 2017, o diretor ligou para a atriz e a convidou para interpretar G.H. “A intenção sempre foi filmar GH, não uma obra de Clarice”, sublinha Carvalho. Maria Fernanda teve seu primeiro contato com a obra de Clarice aos 19 anos, em 1993, quando leu A Hora da Estrela. Dez anos depois, foi o próprio Luiz quem lhe presenteou com um exemplar de A Paixão Segundo G.H.  O "laboratório" também contemplou a leitura em conjunto do livro e uma série de palestras.

Embora a voz narrativa seja singular em primeira pessoa, G.H incorpora diferentes personalidades ao longo do texto. O diretor, porém, decidiu apostar no potencial de Maria Fernanda para individualizar as múltiplas faces da protagonista. “Eu poderia ter até filmado esse filme com várias atrizes, 20, 30, cada estado emocional, psicológico, espiritual, etc. Seria absolutamente compreensível. Mas eu decidi fazer todos esses desdobramentos, toda essa linguagem prismática, com uma única atriz”, comenta. 

A despeito das semelhanças, a releitura de 2024 se contrasta com a interpretação intimista que A Paixão Segundo G.H recebeu em seu lançamento em 1964. Ao trazer à tona temas subestimados na época, como a desigualdade social, o racismo e o papel da mulher, Luiz Fernando Carvalho convida o público a reexaminar o romance sob uma nova ótica. “Me motivou a ideia do fim que está presente nas entrelinhas do romance. Um fim dessa civilização criada pelos homens. Isso tem que acabar”. Além de G.H, só a empregada Janair (Samira Nancassa) tem um rosto. A funcionária ainda é a única personagem que tem o nome completo revelado.

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