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MÚSICA

Com curadoria de Juvenil Silva, coletânea carnavalesca aproxima frevo da psicodelia

Publicado em: 11/02/2021 15:23 | Atualizado em: 11/02/2021 16:04

Juvenil Silva, curador e diretor musical do projeto, e capa feita por João Lin (Foto: Juvenil Silva/Divulgação e João Lin/Divulgação)
Juvenil Silva, curador e diretor musical do projeto, e capa feita por João Lin (Foto: Juvenil Silva/Divulgação e João Lin/Divulgação)

A necessidade de registrar um momento histórico, de não passar o carnaval em branco e de proporcionar experimentações com o frevo são os motes do álbum O ano que não teve carnaval, cujo subtítulo é Coletânea kaosrnavalesca anárquica mista de frevo jovem. Com curadoria e direção musical do recifense Juvenil Silva, o projeto conta com faixas gravadas por artistas da cena pernambucana independente: Isaar, Publius, Feiticeiro Julião, Juba, Graxa, Manuca Bandini, André Macambira, Ex-Exus, Julio Samico, Marcelo Cavalcante, além do próprio Juvenil. As únicas canções inéditas são interpretadas por Dunas do Barato e Evandro Negro Bento.

São 13 faixas que trazem sonoridades tradicionais do frevo com toques psicodélicos setentistas e influências de ritmos da música latina, MPB, rock e música instrumental. Não coincidentemente, são referências e gêneros bem presentes nas obras de Juvenil Silva.

"Essa coletânea é uma das coisas que veio em mente em relação a um movimento que perdemos muito no meio da pandemia: o projeto coletivo. Não dava para fazer algo presencial, como é o projeto Avoada, um dos quais eu faço parte", diz Juvenil. "Pensei em fazer algo que remetesse aos volumes da série Asas da América, de Carlos Fernando, em que nomes da MPB cantam frevo. Uma coletânea que não necessariamente iria reunir artistas carnavalescos ou de frevo."

O ano que não teve carnaval é um respiro interessante de contemporaneidade para ritmos que embalam o nosso carnaval, sobretudo o frevo, mostrando mais uma vez como esse gênero musical recifense apresenta múltiplas possibilidades de cruzamentos e fusões. Para Juvenil, o grande mote é quebrar uma barreira entre o contemporâneo e o experimental.

Banda Dunas do Barato (Foto: Divulgação)
Banda Dunas do Barato (Foto: Divulgação)

"Nós crescemos ouvindo que ‘a gente é do rock e frevo é uma coisa de velho’. Na real, o rock já pode ser considerado música velha também. Nós, músicos, precisamos entender a música como uma linguagem universal, e o frevo é só mais uma delas. Nós vemos um potencial maior nele do que muita gente que acredita que o frevo deve estar apenas no carnaval ou em um comercial de água sanitária. Vemos o frevo como o nosso jazz. Queremos pegá-lo e trazê-lo para a nossa vivência, nossa sensibilidade. O frevo é livre, então é nosso", diz o artista.

A renovação do frevo é uma pauta constantemente revivida na cena musical de Pernambuco. Para citar alguns exemplos, o projeto Frevotron (Spok, Yuri Queiroga e DJ Dolores) flertava com a world music; Romero Ferro quis tornar o frevo mais pop no show Frevália; Flaira Ferro trouxe o frevo-rock em Révolver; e Mônica Feijó desacelerou em Frevo para ouvir deitado. Essa reivindicação por atualizações segue. "Acho que uma das coisas de O ano que não teve carnaval é essa reivindicação, essa solicitação dos artistas. 'Olha, temos que colocar o frevo na rádio’, na trilha, e tratá-lo como música popular mesmo", diz Juvenil.

"Chega a ser uma coisa estigmatizada, o forró agora tem um pouco disso também. São ritmos que ficam nesses nichos, presos a datas e questões geográficas. Ficamos montando como um trabalho formiguinha. Para o pessoal de fora é ainda mais folclorizado. Eu conheço grandes músicos famosos que, quando falo de frevo, olham para mim como se o frevo fosse uma loucura, a coisa mais difícil. Quando eu era de uma banda tropicalista, fui fazer um repertório de carnaval e também senti essa estranheza, essa dificuldade, mas depois senti uma sensação de balanço, brilho. É uma música muito rica, linda e pop. O frevo consegue ser pop", finaliza.

Ouça o álbum: 

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