Este ano é o do rato, que é justamente o signo de Lina Chang. Ela se anima: “Dizem que estar no ano do meu signo potencializa tudo que é positivo. Dentro do equilíbrio, eu gosto de horóscopo. E me identifico com alguns dos comportamentos que atribuem ao signo do rato”, afirma. Mas mais do que isso, ela tem certeza de que a cultura taiwanesa lhe fez ser quem é: “Me fez ter foco, disciplina e valorizar aquilo que eu tenho”. De resolução para o Ano do Rato que se inicia, ela quer trabalhar a gratidão. Todos os dias.
Representando renovação, transformação, sorte e prosperidade, o vermelho é predominante. E as crianças, em especial, aguardam ansiosamente por um envelope dessa cor, recheado de dinheiro. Os pais costumam fazer uma espécie de cofre durante o ano para garantir o presente dos filhos. Nos dias que sucedem, é tempo de visitar os avós, tios e primos. E algumas regras são inquebráveis: é proibido aparecer de mãos vazias.
“É de suma importância levar um presente a quem se visita. É um sinal de respeito e carinho para a pessoa que irá te receber”, afirma Shu. Catarina Chen explica que o envelope deve conter uma quantidade par de dinheiro, além de não poder ter o algarismo 4, que significa “morte”. “Muitos dos nossos prédios nem têm o 4º andar. Em especial, os hospitais”, afirma.
Celebrações de Brasília
Para o mestre Moo Shong Woo, médico, 88, o ano-novo chinês é um momento importante porque marca dias de folga principalmente para quem vive no campo, da terra. “Eles trabalharam o ano inteiro, em função do plantio, da colheita. Finalmente, vão descansar”, refere-se ao fato de que a celebração envolve cerca de 15 dias de descanso. “Para trabalhar bem precisa descansar bem. Para descansar bem, precisa trabalhar bem”, afirma.
Woo acredita na importância da tríade corpo, mente e espírito, algo intrínseco à cultura chinesa. Ele defende, inclusive, a “papoterapia”. Há 45 anos, ele batizou a área entre as superquadras 104 e a 105 Norte de Praça da Harmonia Universal e passou a conduzir ali aulas de tai-chi-chuan. Atualmente, não dá aula mais, mas está sempre ali: leva café, frutas, biscoitos. “Sentar nessa praça e ficar jogando conversa fora faz bem pra saúde (a papoterapia)”, garante. Com fé no poder das palavras, a casa dele está preparada para receber o novo-ano, com faixas vermelhas com as palavras “felicidade”, “paz” e “saúde” em mandarim nas paredes.
Cidadão honorário de Brasília, o Mestre Woo tornou-se um difusor da cultura chinesa na capital do Brasil. Descendente de taiwanês, mudou-se da terra natal para os Estados Unidos aos 27 anos e, em 1961, para o Brasil.
Embora, em Brasília, a celebração do ano-novo chinês não seja tão difundida quanto em São Paulo, — onde há uma comunidade grande de orientais —, na Praça da Harmonia, todo ano, ele é comemorado com uma confraternização aberta a todos, organizada pelos praticantes do tai-chi. A deste ano, será em 2 de fevereiro e deve seguir os moldes do ano passado. Houve um grande café da manhã comunitário com o qual todos contribuíram, rodas de conversa sobre o significado daquele então do Ano do Porco e, claro, uma grande aula de tai-chi. Dessa forma, além de praticar o exercício, as pessoas ainda conhecem toda a filosofia e a cultura oriental.
No horóscopo chinês, Mestre Woo conta que é do signo do macaco. E realmente se identifica com o bicho. “Com 89 anos — porque na China, a gente também conta o tempo na barriga — eu ainda me mexo muito”, afirma mostrando que ainda consegue fazer agachamentos e levantar a perna até em cima da mesa. Tais demonstrações nem eram necessárias, já que, no ano passado, levou o ouro em uma competição de judô. Mora no 5º andar e não só sobe de escadas, como vai até o 6º e, só então, depois desce um.
De capricórnio a dragão
Ana Luiza Varela, 55, síndica, é uma das que se encantaram não só pelo tai-chi-chuan como por toda a cultura oriental. Participou da aula pela primeira vez depois de levar uma amiga que estava em um momento difícil, acabou ficando. Agora, pratica há seis anos e há dois passou a conduzir aulas. “Mudou a minha forma de ver o mundo. Se eu soubesse, tinha até vindo antes”, afirma.
Ela participou de muitas das comemorações do ano-novo chinês ali na Praça da Harmonia, e conta o quanto toda aquela aproximação com o Mestre Woo fez com que ela tivesse curiosidade por tudo da cultura. Descobriu que, no horóscopo chinês, o signo dela é dragão. Até comparou com o signo ocidental dela, capricórnio e conseguiu ver semelhanças.
“Mas eu ainda estou aprendendo. Pesquisando. Tem só uma sementinha aqui em mim”, afirma com modéstia. Semente que rendeu frutos, ela levou a prática do tai-chi para o espaço entre as superquadras 112 e 113 Sul. Todos os sábados, às 9h, a comunidade pode se beneficiar do exercício por ali.