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História, crença e identidade cigana em foco no Recife

Publicado em: 27/07/2019 00:38 | Atualizado em: 27/07/2019 01:46

Casal Nicolas Ramanush e Ingrid Ramanush Foto: Horst Lambert/Divulgação

Com a intenção de desmistificar os preconceitos e estereótipos acerca da cultura cigana, o casal Nicolas Ramanush e Ingrid Ramanush, pesquisadores e referência no assunto, desembarcaram no Recife no início desta semana, para realizar uma série de atividades ligadas à cultura, história e identidade dos povos em questão. Neste sábado (27), ele irão apresentar o workshop Histórias, Crenças, Linguagens e Lendas. A atividade faz parte do projeto Quebrando o Muro Invisível e será apresentada em duas etapas no auditório do Hotel Malibu, em Boa Viagem, Zona Sul do Recife, a partir das 9h. 

Eles chegaram a Pernambuco na última quarta-feira (24), através do convite feito pelas comunidades Cia Ciganos de Luz e Ramatis. Os seguidores Soraya Silva, Roberta do Espírito Santo, Irmão Ramos e Adriano Cabral se mobilizaram e conseguiram captar recursos para trazê-los. Nicolas é presidente da ONG Embaixada Cigana do Brasil e tem várias obras ligadas à temática. Já Ingrid é diretora Cia de Arte e Cultura, bacharel em matemática, física, artista e escritora. 
 
Espetáculo "Brilha uma estrela no São João", da Junina Tradição, do Morro da Conceição. Foto: Samuel Calado/DP

O historiador e produtor cultural Luciano Rogério, que esteve bastante envolvido com o estudo da temática para propor o espetáculo “Brilha uma estrela no São João”, da Junina Tradição (Morro da Conceição, Zona Norte do Recife), conta sobre a necessidade de trazer a dupla à capital. “Acreditamos na necessidade da troca de conhecimentos para nos ajudar a quebrar os preconceitos. Eles são ciganos de raiz e representam a expressividade do segmento étnico no Brasil. Um povo que se preocupa em manter viva a tradição e romper paradigmas que muitos têm acerca da expressividade das comunidades ciganas. Muita gente atribui negatividade a eles, mas isso não procede. A importância deles é gigantesca para a formação da nossa identidade. No período da colonização, por exemplo, eles vieram para cá e também foram escravizados. Muitos vinham de outros países e aqui sofreram as duras realidades do Novo Mundo”.

Luciano, Soraya, Ingrid Ramanush e Nicolas Ramanush. Foto: Francisco Alexandrino/Cortesia

Luciano ainda revela que muitas profissões que temos hoje são de influência cigana, como por exemplo, os carteiros, dentistas, banqueiros e grandes comerciantes. “Os mascates, por exemplo, que fazem parte da história do povo recifense, possuem raízes fincadas na tradição cigana. Tenho certeza que a vinda do casal de raíz para cá, vai ajudar muita gente e fortalecer o nosso trabalho. 

Aqui na Região Metropolitana do Recife, o casal tem seguido uma intensa agenda de atividades. Houve lançamento de livros, consultas e leituras de cartas. Na noite da sexta, eles participaram da “IV Edição do Arte e espiritualidade”, realizado no Teatro de Santa Isabel. O evento homenageou as pessoas que se destacam nos diversos segmentos artísticos e que trabalham a arte como formação e inclusão social dentro da temática da cultura cigana. 

Foto: Fabio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil

O workshop que acontece neste sábado terá duração de 7 horas e acontecerá no auditório do Hotel Malibu, em Boa Viagem, na Zona Sul do Recife. O investimento custa R$ 100,00. As pessoas que quiserem participar devem se inscrever no local, até a hora do início do evento. O hotel está localizado na Av. Conselheiro Aguiar, 919. Mais informações podem ser obtidas através do site. O grupo retorna à cidade São Paulo na próxima terça-feira (30). Mas antes, eles irão visitar a comunidade Ramatis e a Grita de Santa Sara Kali (28). Vão passar também pelo acampamento de Sara, onde haverá a oração dedicada a santidade e fogueira (29) e também fazer a leitura de cartas. 
 
Confira a entrevista exclusiva do DIARIO com o cigano Nicolas Ramanush, que também é pesquisador:

Como tem sido a receptividade do povo pernambucano? 
O carinho do povo pernambucano é ímpar. Nós já viajamos para diversas partes e sempre fomos bem recebidos, mas o contato com o povo recifense tem sido inexplicável. É como se estivéssemos encontrando amigos de longas datas. Aqui o carinho e o respeito pela cultura cigana é grande. 

Por que ‘Quebrando o Muro Invisível’?
Nos livros didáticos nós temos uma história construída através do olhar do colonizador. Nessas linhas, o povo cigano ficou escondido, invisível. Foi partindo dessa problemática que nós criamos o projeto, para quebrar o muro invisível e mostrar a força do povo cigano. Através desse projeto queremos descortinar essa borracha que tentaram colocar na nossa contribuição, mostrando como fomos importantes para a formação da identidade do povo brasileiro. 

O que as pessoas vão vivenciar no workshop? 
A proposta é que seja algo abrangente. Graças a Deus estamos conseguindo isso. O foco é na cultura. Ele será dividido em duas fases, a primeira, antes do almoço, onde vamos falar da origem étnica. Vamos falar também das três etnias ciganas e sobre as expressividades delas.

Na segunda etapa, iremos falar sobre os principais ritos da questão dos oráculos, que tem chamado bastante atenção das pessoas. A dança cigana também será abordada. Por volta das 17h, vamos encerrar o evento com músicas tradicionais ciganas. Será um pocket show”. 

A leitura de mão é verdadeira? 
Muita gente pergunta se a leitura de mão é verdadeira e eu respondo que sim. Mas é preciso saber quem é a pessoa que vai ler, para ela não interpretar de forma errada. 

Qual a contribuição da cultura cigana para a identidade pernambucana? 
Um dos exemplos que eu costumo dar é que aqui em Pernambuco existe a “La ursa”. Essa é uma tradição entre os recifenses que foi trazida pelos ciganos junto com o circo. Logo depois da imigração dos europeus, em especial os italianos, juntos com eles, veio os donos de circos e junto com eles, vieram os ciganos, que eram adestradores. Nas horas vagas, eles iam às praças públicas para fazer a apresentação e ao final pediam dinheiro. Com a proibição devido aos maus tratos de animais, houve uma incorporação espontânea de crianças que faziam uma apresentação simplória, pedindo dinheiro e isso virou uma manifestação bem presente no carnaval”. 
 
 
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