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COLUNAS

REINVENÇÕES SUSTENTÁVEIS

Inovações multiconectadas para mover a economia

Publicado em: 04/06/2019 07:11

Foto: Paulo Paiva/DP
A economia brasileira se arrasta e o governo federal não consegue apresentar ideias, projetos e rumos animadores. O urgente desafio de criar 13 milhões de empregos e impulsionar um desenvolvimento econômico sustentável exige muito mais do que cortar recursos da educação, aprovar reforma na Previdência e fazer malabarismos financeiros tradicionais, como a liberação do FGTS, em análise no Planalto. Uma economia com firme sustentação, atraente para investimentos e com capacidade de criar oportunidades para milhões de trabalhadores rapidamente, requer inovações estratégicas e políticas públicas integradas, para ativar, simultaneamente e em larga escala, diversas cadeias produtivas. Por onde começar? Incentivar ações de baixo investimento, como instalação de equipamentos e processos que reduzem desperdícios (de água, energia, matéria prima, resíduos etc) é um caminho imediato para aquecer a indústria, gerar empregos e reduzir impactos ambientais.

Exemplo: imagine um grande programa nacional para trocar e reciclar milhões de torneiras, chuveiros e sistemas hídricos por modelos mais eficientes e com reúso de água. Aqueceria a indústria, o comércio, os transportes de cargas e geraria muitos empregos, sem necessidade de grandes treinamentos. A redução do consumo reduziria investimentos imediatos para novas obras de abastecimento d’água. Pessoas e empresas poderiam pagar os novos equipamentos com a redução da conta de água e energia (economizar água sempre gera economia de energia, pois são as bombas elétricas que elevam água nas casas e edifícios).

Imagine grandes programas semelhantes para equipamentos eletroeletrônicos; lâmpadas eficientes; placas solares; hortas urbanas com adubo de compostagem de resíduo orgânico das cidades e muitas outras iniciativas, estruturadas para gerar resultados de alto impacto positivo.

Somadas a este eixo de desenvolvimento econômico baseado no combate a desperdícios, existem 9 cadeias produtivas imensas que, se receberem incentivos e políticas públicas de forma articulada, podem catalisar o desenvolvimento de uma nova economia sustentável. (1) Energias Renováveis; (2) Mobilidade Elétrica e com Biocombustíveis; (3) Economia Circular e Reciclagem (Indústria Reversa e BioIndústrias); (4) Conservação de Água (abrangendo desde proteção ambiental até equipamentos e sistema eficientes de gestão hídrica); (5) Design, BioArquitetura e Urbanismo Verde (Retrofit e construções ecoeficientes); (6) Educação Ambiental e Profissionalização para a Sustentabilidade; (7) Gestão Sistêmica com Tecnologias Digitais (Internet das Coisas e Inteligência Artificial em Rede para gerenciar processos complexos interligados, como o encadeamento produtivo, indústria 4.0, Cidades etc); (8) Solo, Agroecologia e Alimentação e (9) Pagamentos por Serviços Ambientais e captura de Carbono (sair do paradigma poluidor-pagador para o protetor-recebedor, possibilitando benefícios financeiros para projetos de proteção de ecossistemas e produtores agrícolas que preservam matas nativas e paisagens naturais).

Interligar invenções arrojadas de diversos setores e incentivar arranjos disruptivos nestas cadeias produtivas essenciais é uma estratégia objetiva para desenvolver uma efetiva economia sustentável. Esses 9 eixos entrelaçados, fomentados por um conjunto de políticas interconectadas, mudariam comportamentos e puxariam todos os demais setores da economia para um novo rumo sustentável, gerador de empregos e negócios duradouros. Assim, é plenamente possível aquecer a economia, desaquecendo o planeta e revertendo processos poluidores. Considerando que estes eixos econômicos estão alinhados com o Acordo de Paris, os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da ONU e as tendências das economias mais modernas do Planeta, o Brasil ganharia fortes bases para encorajar empreendedores nacionais e internacionais a investirem nesses novos mercados com segurança. É óbvio que desmontar políticas ambientais não é um bom negócio para o Brasil. Por isso, agiu corretamente o presidente do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP), em não ter pautado ontem a votação da Medida Provisória 867 (que desfigura o Código Florestal), tornando-a sem efeito a partir de hoje.

O triste cenário econômico exige a interligação urgente de ideias avançadas e o isolamento imediato de propostas descabidas e sem futuro.

* Sérgio Xavier é jornalista, consultor e desenvolvedor de inovações para a sustentabilidade (InovSi e Circularis - Porto Digital). É ecologista e foi Secretário de Meio Ambiente e Sustentabilidade de Pernambuco.
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