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REINVENÇÕES SUSTENTÁVEIS

Ideologia X Odiologia

Publicado em: 14/05/2019 13:24 | Atualizado em: 14/05/2019 13:29

Foto: Divulgação (Foto: Divulgação)
Foto: Divulgação (Foto: Divulgação)
Existem ideias que inspiram paz, amor e vida. E ideias que atiçam conflitos, ódio e destruição. O que prevalece no mundo real é resultado das nossas crenças, princípios e atitudes.

A sociedade é formada por pensamentos, doutrinas e ideias (ideologias) que criamos, acreditamos, apoiamos e reproduzimos. Logo, o nível de violência e deterioração da vida é diretamente proporcional ao pensamento predominante entre nós.

Se desejamos mais paz e prosperidade, devemos cultivar e fortalecer ideias e soluções pacifistas e eficazes, como desarmamento, inteligência policial, educação, empregos, tolerância, inclusão, democracia e cultura de paz. Fazendo o contrário, é bem óbvio, fortaleceremos o pensamento de vingança violenta, “justiça com as próprias mãos”, morte e degradação, aniquilando os aparatos civilizados de convívio social e ambiental.

Um desenvolvimento inclusivo, pacífico e sustentável (desejado pela maioria da humanidade) depende de invenções e gestões que valorizem a paz, a igualdade e protejam a vida (humana e de diversas espécies). Mas o modelo econômico e as políticas governamentais na maior parte dos países (em destaque o Brasil) estão na contramão, sem freios, sem consciência e sem considerar a ciência. Estudo científico da ONU, elaborado pela Plataforma Intergovernamental sobre Biodiversidade e Serviços Ecossistêmicos (IPBES, na sigla em inglês), com trabalho de 400 especialistas de 50 países (link abaixo), indica que 1 milhão de espécies de plantas e animais, aproximadamente, estão em risco de extinção. Ou seja, cerca de 25% da biodiversidade da Terra está ameaçada de desaparecer em poucos anos se for mantido o padrão atual de degradação ecológica. Isso significa um desequilíbrio sem precedentes nas condições de vida, saúde, produção e consumo dos seres humanos. Um megacolapso socioeconômico, com o modelo industrial-energético atual sendo engolido por sua própria insensatez. Ao mesmo tempo, a banalização da vida humana, demonstrada nos índices de desigualdade, racismo, violência, homicídios e feminicídios (que no Brasil são alarmantes), mostra que as ideias que prevalecem na política, nos governos e na nossa cultura de convivência não estão evoluindo em defesa da vida.

Contribuindo para este cenário tenebroso, o governo do Brasil desmonta as políticas ambientais (destruindo, entre outras coisas, a imagem internacional dos produtos nacionais de exportação), enfraquece a educação (com balbúrdia administrativa), abala as pesquisas científicas (com cortes abruptos) e incentiva o uso de armas mortais até para crianças (Decreto 9.785 - 7/5/2019). Não precisa muita sabedoria e visão crítica para perceber que o poder oficial está sendo tomado por uma ideologia fortemente oposta à vida e à paz. O dia a dia governamental está dominado por armas, mímica de tiros com as mãos, arrogâncias e até palavrões e grosserias. De forma coerente com as suas agressividades ideológicas, os líderes desse pensamento não poupam nem seus próprios aliados. Nos últimos dias, as redes e os noticiários foram bombardeados por disparos grotescos de “ideólogos” do governo na direção de generais-ministros do próprio governo. Inacreditável e preocupante.

Abalada por graves desequilíbrios, a cidadania do século 21 está exigindo Ecodesenvolvimento e Bioideias, baseadas em conhecimentos plurais, para superar ideologias radicais antivida, que atacam universidades e ciências, além de usar a “palavra de Deus” e a religiosidade do povo para vender “soluções” obscuras, violentas, antiecológicas e até ridículas, sem o mínimo bom senso. Hora de pensar com serenidade. Não está em jogo ser a favor ou contra um governo. Trata-se de reprovar democraticamente ideias (antigas e que nunca deram certo) que explodem contra a vida, a paz, a natureza e o bem-estar coletivo. Não basta rotular ideologias de direita ou de esquerda (aliás, esses extremos partidários nunca cuidaram de sustentabilidade). É essencial ter clareza se uma ideia é de paz ou de guerra, sustentável ou insustentável, inclusiva ou preconceituosa, científica ou fanática, democrática ou autoritária, que protege a vida ou incentiva a destruição.

Vamos aceitar uma velha odiologia destrutiva ou inventar uma nova ideologia de futuro pra viver em paz entre nós e com a natureza?

Interação: Relatório ONU – Um milhão de espécies em risco de extinção https://bit.ly/2YqlTeE
Ideologia, Cazuza http://cazuza.com.br/video/ideologia-2/

* Sérgio Xavier é jornalista, consultor e desenvolvedor de inovações para a sustentabilidade (InovSi e Circularis - Porto Digital). É ecologista e foi Secretário de Meio Ambiente e Sustentabilidade de Pernambuco.
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