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Solidariedade X Justiça Social

Publicado em: 19/04/2019 10:23

Arquivo DP
A solidariedade normalmente tem uma origem em comum. Vem sempre de pessoas que passaram por uma situação difícil ou que presenciaram as dificuldades de alguém muito próximo. Raramente vemos a solidariedade brotar em corações de pessoas que sempre tiveram "vida fácil". 

Nas últimas semanas vimos as tragédias que se abateram sobre os moradores do Rio de Janeiro. Primeiro com a chuva, depois com o desabamento de dois prédios construídos justamente numa das comunidades mais atingidas pela água. A dor, as mortes e os prejuízos se sobressaem diante de qualquer análise sobre os problemas, mas, em meio à tragédia, uma imagem de solidariedade também ganhou destaque: a de um guardador de carros que improvisou uma ponte com caixotes para ajudar uma idosa a atravessar um alagamento. 

O vídeo se espalhou pelas redes sociais, sendo compartilhado por milhares de pessoas em todo o País. O protagonista da cena é o guardador de carros Varlei Rocha Alves, de 50 anos. Ele trabalha há anos na região onde o vídeo foi gravado e já é conhecido por sua simpatia e generosidade. Sem pensar duas vezes, improvisou dois caixotes para permitir que as pessoas atravessassem a área alagada sem se molhar, o que lhe rendera alguns trocados. No vídeo, a pessoa beneficiada era Dona Anúzia, uma aposentada de 86 anos. 

Mas o que alguns enxergaram como um gesto de solidariedade, outros viram como humilhação. É que as cenas de pessoas negras ocupando espaços considerados inferiores, de fato, é comum no Brasil. Infelizmente, não se pode negar essa constatação. A polêmica também gerou em torno da falta de agradecimento da idosa após ser ajudada pelo homem, o que, segundo ele, aconteceu logo depois. 

O fato é que, mesmo as cenas de solidariedade demonstram como estamos longe de promover justiça social no nosso País. Será que veríamos o mesmo episódio acontecendo com os personagens em posições contrárias? Um homem branco, loiro, de classe média, se dispondo a ajudar um idoso negro e pobre a atravessar o alagamento? 

Gosto de crer que sim, mas sabemos que as possibilidades são menores. E por que? Porque nossa cultura de justiça social ainda é muito jovem e vale para poucos. Ainda está sendo construída e enfrenta nossos costumes e hábitos originários da época da escravidão.

Infelizmente estamos longe de alcançar esse avanço, mas cada passo é importante. Que possamos caminhar para que a solidariedade ganhe espaço não apenas nos corações dos que já sofreram algum dia, mas em todos aqueles que não querem ninguém passe por qualquer sofrimento. Sigamos sendo solidários.Sigamos em busca de uma sociedade ávida por justiça social.


*Fábio Silva é empreendedor social, fundador da ONG Novo Jeito e presidente do Porto Social e da plataforma Transforma Brasil
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