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REINVENÇÕES SUSTENTÁVEIS

Dia da Verdade!

Publicado em: 01/04/2019 08:36

Foto: Paulo Paiva/DP
Verdade é uma construção que fortalece e gera evolução. Mentira é desconstrução que atrasa o desenvolvimento humano. Expressar verdades exige consciência, ética, conhecimento, trabalho, e, em muitos casos, coragem. Mentiras, qualquer idiota pode jogar ao vento virtual das redes de desinformação. Basta cara de pau e falta de vergonha. 

A força sustentável de uma civilização está na sua capacidade de construir verdades e combater mentiras. Verdades construídas colaborativamente são a alma de um povo. Uma sociedade que se estrutura a partir de princípios éticos, liberdade artística, conhecimentos científicos e saberes populares aceitos consensualmente, será sempre mais vigorosa e resiliente do que uma comunidade baseada em crenças manipuladas, fanatismo, falsa moralidade, mitos imbecilizantes e mentiras engolidas sem reação crítica (como ocorre toda hora em grupos de WhatsApp, num Brasil onde a educação está à deriva). 

Constituir verdades é um processo que exige ambiente democrático; estado de direito; diálogos com diversos pontos de vista; transparência; informações corretas; comprovação de fatos e contextualização antropológica . E aqui entra a Política. Que, para mim, tem um conceito simples, resumido em duas palavras: construir confiança.   

Ou seja, para se ter uma sociedade justa, forte e sustentável é preciso edificar instituições comprometidas com verdades. Para estabelecer verdades é necessário diálogo intenso e construtivo entre pensamentos e visões diferentes. E isso requer clima de confiança, respeito e civilidade multilateral, que depende diretamente da Política.

Infelizmente, não é isso que prevalece no Brasil de hoje. A Política, em vez de ser o canal mais confiável do debate construtivo nacional, está contaminada com o oposto da ética, tolerância, conhecimento e inovação. As maiores lideranças são incapazes de um diálogo propositivo e criativo, visando soluções animadoras para a população. Grosseiras, fakenews e ignorâncias  parecem engolir o bom senso. Não há espaço para leveza, bom-humor inteligente e empatia. 

O presidente da república, que deveria dar exemplo, pois tem o papel institucional de unir a nação, mediar conflitos e defender o bem comum, age no sentido inverso. Desestabiliza diariamente o ambiente politico, econômico e social com declarações desagregadoras e absolutamente improdutivas.

Neste 31 de março, que marca 55 anos do início da ditadura militar (ocorrida de 1964 a 1985), o extremismo ganhou destaque. Ao propor oficialmente a “comemoração” do golpe que violou direitos humanos, o presidente quebrou decoros e desrespeitou a Constituição.  Essa página infeliz da nossa história deve ser sempre lembrada e debatida sim, mas com propósito de aprendizado histórico; rememorando fatos e exercitando autocríticas multilaterais, visando o compromisso de todos (militares, civis e lideranças de todas as matizes ideológicas) com o fortalecimento da democracia. 

Mas o presidente, mesmo tendo sido eleito por um caminho democrático, preferiu atiçar a polêmica, enaltecer o autoritarismo e intensificar a divisão. Perdeu uma grande oportunidade de atuar na reconciliação do país e se posicionar como um integrador da pátria. 

A Comissão Nacional da Verdade – CNV (lei nº 12.528/11), investigou e constatou as graves violações de direitos humanos ocorridas na ditadura, objetivando efetivar o direito à memória e à verdade histórica. O trabalho de investigação evitou abordagens subjetivas e foi embasado na descrição circunstanciada de fatos hediondos: torturas, execuções, desaparecimentos forçados e ocultação de mortos. O relatório, apresentado em 2014, retrata as cadeias de comando; o uso de aparato do Estado em crimes; os métodos das violações de direitos humanos e descreve a história de 434 mortos e desaparecidos políticos. 

Após 34 anos do fim da ditadura, com todos esses documentos públicos disponíveis, um governo democrático deveria estar avançando no restabelecimento da verdade histórica e na reconciliação, reconhecendo os graves erros do passado e destacando o imprescindível papel dos militares na construção da paz e da democracia no presente. Cumprir o dever constitucional e defender a  República é o pensamento que prevalece nas forças armadas da atualidade. E isso pode ser celebrado. Mas censuras, exílios, torturas e assassinatos, jamais!

Antigamente, quando a mentira tinha pernas curtas, 1º de Abril podia ser um engraçado Dia da Mentira. Mas hoje, com enganações e falsidades que giram o mundo em um segundo, impactando negativamente bilhões de pessoas, não dá pra encarar gigamentiras como brincadeiras.  1º de abril deve ser um dia para refletir sobre esse mundo de trapaças, e, acima de tudo, para defender e dizer boas verdades! Vale lembrar que, há 55 anos, exatamente neste dia, começaram as prisões, perseguições, torturas e mortes da ditadura. E todas as vítimas merecem, no mínimo, respeito. 

Precisamos reverter a terrível confluência de mentiras, extremismos, falta de imaginação e carência de lideranças políticas inventivas e agregadoras. Isso não depende de inovações mirabolantes ou sistemas sofisticados. Depende de caráter, vontade e coragem coletiva para reinventar um Brasil de Verdade!

Interação:  @sergio_xavier (Instagram) / Comissão Nacional da Verdade - CNV https://bit.ly/2Copz8g / Dia Internacional para o Direito à Verdade para as Vítimas de Graves Violações dos Direitos Humanos (24 de Março) https://bit.ly/2QQ8c9j 

*Sérgio Xavier é jornalista, empreendedor de inovação tecnológica (InovSi - Porto Digital), consultor e desenvolvedor de projetos de Economia Circular e Gestão da Sustentabilidade. É ativista ambiental e foi Secretário de Meio Ambiente e Sustentabilidade de Pernambuco.

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