POLÊMICA
'Lobo-terrível' extinto há 10 mil anos está de volta? Cientistas divergem
Em outubro de 2024, a startup americana Colossal Biosciences anunciou o nascimento dos lobos após um avanço inovador na ciência da desextinçãoPublicado em: 08/04/2025 16:08
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A espécie de lobo gigante foi extinta há cerca de 13 mil anos (foto: Colossal Biosciences/Divulgação) |
A startup americana Colossal Biosciences gerou polêmica ao anunciar o nascimento dos lobos-terríveis Romulus, Remus e, posteriormente, Khaleesi, após um "avanço inovador na ciência da desextinção". Os animais, de acordo com a empresa, pertenceriam a uma espécie extinta há mais de 10 mil anos, o que seria um novo capítulo para o campo da biotecnologia. O feito foi divulgado na última segunda-feira (7/4) pela revista norte-americana Time, no entanto, pesquisadores ainda aguardam dados mais precisos sobre o estudo - que gerou controversas entre os especialistas.
O renascimento de uma espécie perdida
O lobo-terrível, conhecido por sua imponência, habitava as Américas e desapareceu na era Pleistocênica. Com características marcantes, como um peso de até 80 quilos e fortes habilidades predatórias, caçava grandes presas, como mastodontes e bisões. Fósseis dessa espécie foram encontrados em várias regiões da América do Norte, incluindo Canadá e Venezuela.
O renascimento desses lobos foi possível graças a uma ousada estratégia de engenharia genética. Utilizando o CRISPR, uma técnica avançada de edição genética, cientistas da Colossal Biosciences reconstituíram o genoma do lobo-terrível a partir de DNA extraído de fósseis de até 72 mil anos. A partir dessa base, a empresa conseguiu criar embriões de lobos cinzentos modificados para se assemelharem ao extinto predador.
Os primeiros filhotes nasceram em condições controladas, com o auxílio de cães domésticos como mães de aluguel, e foram cuidadosamente alimentados e monitorados. A Colossal celebrou o feito como um marco na biotecnologia, mas o evento também suscitou debates entre cientistas. Alguns questionaram a definição de "desextinção" no caso desse animal, uma vez que os filhotes não foram criados em seu habitat natural nem se alimentaram de uma dieta ancestral.
Em entrevista à companhia americana de radiodifusão, ABC News, Jeremy Austin, diretor do Australian Centre for Ancient DNA, afirmou que, embora o feito seja significativo, ele não constitui uma verdadeira ressurreição da espécie. Para ele, os filhotes não representam exatamente os lobos-terríveis originais, mas sim uma versão geneticamente modificada. “Acho que a melhor definição de uma espécie é se ela se parece com aquela espécie, se ela age como aquela espécie, se ela cumpre o papel daquela espécie, então você conseguiu”, diz.
Ele comparou o acontecimento ao conto popular literário "As Roupas Novas do Imperador". “Se você diz que fez algo e muitas pessoas acreditam, então, bem, você fez”, apontou. “Enquanto eu acho que muitos cientistas vão coçar a cabeça, dizendo, ‘olha, você tem um lobo branco e cinza’. Isso não é um lobo-terrível sob nenhuma definição de espécie... Eu não acho que isso represente a desextinção de nenhuma maneira, forma ou formato".
Já outros especialistas, como Adam Boyko, geneticista da Universidade Cornell, em entrevista ao jornal norte-americano The New York Times, levantaram questões sobre o comportamento e a alimentação dos filhotes, que não foram expostos a um ambiente natural e não têm as interações típicas de uma matilha do animal.
Apesar das críticas, a startup vê a desextinção como uma ferramenta poderosa para a conservação de espécies ameaçadas e o restauro de ecossistemas. De acordo com Beth Shapiro, diretora científica da empresa, as lições aprendidas com o estudo podem ser aplicadas para ajudar a salvar seres em risco. A Colossal também visa utilizar essas tecnologias para reverter os danos causados pela ação humana e preservar a biodiversidade do planeta.
No entanto, especialistas em ética e biotecnologia alertam para os riscos potenciais desse uso. A possibilidade de criar espécies invasoras ou enfrentar consequências imprevistas, como problemas de saúde para os próprios animais, tem gerado preocupações sobre as implicações a longo prazo.
O futuro da desextinção
A Colossal não para por aí. Além do lobo-terrível, a empresa tem como objetivo restaurar outros animais extintos, como o mamute lanoso, o dodô e o tilacino, por meio de técnicas avançadas de engenharia genética.
Com a continuação dos avanços e a criação de novos modelos genéticos, o mundo aguarda ansiosamente os próximos capítulos dessa jornada rumo à recuperação de espécies perdidas, que promete revolucionar a ciência e a conservação ecológica.
Confira as informações no Estado de Minas.