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Novo estudo descobre que microplásticos se infiltram mais no cérebro

Os microplásticos, além disso, são um dos principais poluentes dos oceanos

Publicado em: 06/02/2025 18:19

A maior parte dos fragmentos de plástico encontrada nas amostras de cérebro era de polietileno (Crédito: Pexels)
A maior parte dos fragmentos de plástico encontrada nas amostras de cérebro era de polietileno (Crédito: Pexels)

Um novo estudo de investigadores da Universidade do Novo México, nos EUA, divulgado na revista científica Nature Medicine, descobriu que os microplásticos, com menos de cinco milímetros de diâmetro e os nanoplásticos, que são ainda menores com um tamanho entre 1 a 1000 nanômetros, se acumulam em níveis mais elevados no cérebro do que em órgãos como fígado e rins. 

A mesma investigação desvendou que foram detectadas concentrações bem mais elevadas em amostras de corpos de 2024 do que nos de 2016 e, níveis mais altos ainda em cérebros de pessoas diagnosticadas com demência. As amostras de cérebro analisadas mostraram um aumentou de 50%.

A maior parte dos fragmentos de plástico encontrada nas amostras de cérebro era de polietileno, que é amplamente usado em embalagens de alimentos e bebidas, assim como em frascos de xampu entre tantos outros. Estas partículas minúsculas têm origem na decomposição de plásticos maiores e se espalharam de tal forma que é muito difícil localizá-los e detectá-los.

“Os tecidos cerebrais acumulam maiores proporções de polietileno em comparação com a composição dos plásticos no fígado ou rim. A microscopia eletrônica verificou a natureza dos micro e nanoplásticos cerebrais isolados, que se apresentam amplamente como fragmentos semelhantes a cacos em nanoescala”, revela o estudo.

Há muito tempo que os cientistas suspeitam que estes podem atravessar a barreira hemato-encefálica, que atua como um filtro entre o sistema nervoso central e o resto do corpo, protegendo o cérebro de substâncias tóxicas e fornecendo-lhe nutrientes. Ainda não existem resultados totalmente conclusivos que relacionem, por exemplo, o material com problemas de memória e demência. Mas, os microplásticos penetram nos nossos cérebros com consequências desconhecidas para a saúde humana, segundo o estudo.

Eles são derivados de objetos ou fragmentos maiores de plástico e estas minúsculas partículas de plástico podem se infiltrar e se acumular em níveis alarmantes no corpo humano, à medida que o uso de plástico cresce no mundo e todos os dias as pessoas respiram, inalam, comem e ingerem minúsculos fragmentos desses resíduos. Os microplásticos já foram anteriormente identificados no sangue humano, nos pulmões, na placenta, no leite materno, no pênis e nos testículos. 

Os microplásticos, além disso, são um dos principais poluentes dos oceanos e podem ser encontrados no ar, na água, no solo e absorvidos por meio de inúmeros produtos no organismo, sendo um risco para os seres humanos e várias espécies. Cientistas afirmam também que a maioria dos microplásticos encontrados na água potável é muito fino e, por isso, mais suscetível de passar do intestino humano para o sangue e os órgãos.  

"As provas científicas que documentam a contaminação por plásticos em todas as matrizes imagináveis estão se acumulando, por isso, infelizmente, já não me surpreende ver isto. No entanto, a ideia de que as partículas podem atravessar a barreira hemato-encefálica é preocupante. É sempre difícil provar a causalidade, especialmente em estudos com seres humanos, que tendem para correlações e as provas do impacto das partículas de plástico na saúde também estão aumentando", disse Carney Almroth, ecotoxicologista que estuda os efeitos ambientais dos plásticos na Universidade de Gotemburgo.

Os investigadores da Universidade do Novo México anunciaram que  são necessários mais estudos para determinar se os microplásticos no cérebro causam efetivamente problemas de saúde.  Mesmo assim, os pesquisadores dizem que os resultados são preocupantes, tendo em conta a propagação dos microplásticos no ambiente.

Porém, outros estudos já identificaram potenciais ligações e indução ao processo de problemas graves, incluindo vários tipos de câncer, problemas respiratórios e de fertilidade, ataques cardíacos, doenças inflamatórias intestinais e reações alérgicas.

“Entretanto, o aumento da concentração de microplásticos no cérebro reflete provavelmente a crescente produção e uso de plásticos. Não se verificou qualquer relação entre a idade dos doentes quando morreram e a quantidade de microplásticos nos seus cérebros, o que sugere que os microplásticos não se acumulam continuamente nos tecidos cerebrais à medida que envelhecemos. Este fato é significativo porque sugere que, se reduzíssemos a contaminação ambiental com microplásticos, os níveis de exposição humana também diminuiriam", avaliou Tamara Galloway, professora de ecotoxicologia na Universidade de Exeter, no Reino Unido, que não esteve envolvida neste estudo norte-americano.

O que outras pesquisas cientificas já indicaram:

De acordo com um estudo realizado por cientistas do Canadá em 2019, os seres humanos consomem até 52 mil partículas de microplástico por ano.

Segundo um estudo da American Chemical Society (ACS), só as tábuas de plástico para cortar carnes e outros alimentos podem expor os seres humanos a até 79,4 milhões de microplásticos de polipropileno, um tipo de polímero plástico, por ano.

Já outro estudo realizado em 2023 por investigadores da Universidade de Nebraska-Lincoln encontrou até 4 milhões de microplásticos por centímetro quadrado em certos alimentos para bebês embalados em plástico "seguros para micro-ondas". Ao microscópio, verificou-se que estas partículas matavam até 75% das células renais em cultura, o que suscita preocupações quanto aos potenciais impactos na saúde humana.

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