CIÊNCIAS BIOLÓGICAS

Brasil é o país com maior potencial de espécies desconhecidas, diz pesquisa

Por: Aline Melo

Publicado em: 23/03/2021 19:40 | Atualizado em: 07/04/2021 12:09

 (Foto: Mladen Antonov/AFP)
Foto: Mladen Antonov/AFP
Em todo o planeta estima-se que existam mais de 10 milhões de espécies de seres vivos, porém apenas 1,5 milhão foram catalogadas pela ciência até o momento. De acordo com um modelo desenvolvido por pesquisadores da Universidade Federal da Paraíba (UFPB) em parceria com a Universidade de Yale, dos Estados Unidos, cerca de 60% das espécies ainda desconhecidas devem ser encontradas em florestas tropicais como, por exemplo, a Amazônia e a Mata Atlântica. Segundo o estudo, o Brasil possui cerca de 10% das novas espécies, sendo o lugar com maior potencial para descobertas.

A pesquisa “Dificuldades e oportunidades na descoberta de espécies de vertebrados terrestres”  mapeou o percentual de espécies conhecidas para cada região do planeta. Assim, o mapa antecipa onde estão as espécies ainda não descritas pela ciência. De acordo com o estudo, os países com maior quantidade de espécies não descritas são: Brasil, Indonésia, Madagascar e Colômbia, que juntos somam 25%.


“Quando as futuras descobertas são analisadas por tipo de animal, temos que 48% das novas descobertas serão de répteis (lagartixas, serpentes, lagartos), 30% de anfíbios (principalmente sapo, perereca, e rãs que ocorrem no chão de florestas), 15% de mamíferos (principalmente roedores e morcegos), e 6% de aves (principalmente aves canoras)”, detalha o biólogo Mário Moura, um dos cientistas envolvidos na pesquisa.


Os cientistas usaram como base dados disponíveis on-line para compilar onze tipos de informações que podem influenciar a probabilidade de descoberta das espécies. No total, foram coletados dados de mais de 32 mil espécies de vertebrados terrestres, isto é, anfíbios, répteis, aves e mamíferos. O tamanho do corpo, condições climáticas onde a espécie ocorre e a quantidade de especialistas que estudam cada espécie são algumas das referências disponíveis. 
 (Foto: Mauro Pimentel/AFP)
Foto: Mauro Pimentel/AFP
A descoberta de novas espécies pode trazer valores ecológicos, que influenciam nos estudos de impacto ambiental, serviços ecossistêmicos, e relevância econômica ou social (saúde, produção de alimentos, pestes invasoras, vetor de doenças). Planejamentos estratégicos de conservação, listas de espécies ameaçadas e projetos de licenciamento ambiental são desenvolvidos a partir do nosso conhecimento sobre a biodiversidade local. “Espécies sem uma descrição formal não podem ser avaliadas e categorizadas com relação ao seu nível de ameaça. Para conservar, é preciso conhecer”, destaca o pesquisador.

A pesquisa foi financiada pela National Science Foundation, NASA, National Geographic, junto com a E. O. Wilson Biodiversity Foundation e publicada na revista Nature Ecology and Evolution. Acesse o estado na íntegra clicando aqui.

Desmatamento
O desmatamento acelerado dos biomas no Brasil pode causar a extinção de espécies que ainda não conhecemos, como afirma o biólogo: “Existem outros estudos já publicados que apontam que entre 15-59% das extinções de espécies podem ser de espécies desconhecidas, isto é, foram extintas antes de serem formalmente descobertas”. Dados de monitoramento por satélite do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), divulgados em agosto de 2020, revelam que mais de 9,2 mil km2 foram desmatados em 12 meses, um aumento de 32% em relação a 2019. É uma área equivalente a seis vezes o tamanho do município de São Paulo. O Inpe também divulgou dados sobre desmatamento da Mata Atlântica no Atlas de Remanescentes Florestais de Mata Atlântica, em parceria com a Fundação SOS Mata Atlântica. Houve um aumento de quase 30% no desmatamento do bioma em todo país. Pernambuco registrou pelo segundo ano consecutivo desmatamento zero em sua área de Mata Atlântica.

Falta de investimento
Além do desmatamento, outro obstáculo para os cientistas brasileiros encontrarem novas espécies é a falta de investimento financeiro na área. A verba aprovada para o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), principal agência de fomento à pesquisa no país, em 2021 é  de R$ 22,5 milhões, cerca de 18% de seu valor em 2019 (R$ 127,4 milhões milhões). “O investimento em ciência é o maior desafio aqui. Mesmo nas grandes economias do mundo, como EUA, a maior parte do dinheiro investido em ciência vem dos cofres públicos. No Brasil, a quantidade de verba destinada à ciência tem sofrido cortes drásticos a cada ano.” conta Mario.
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