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Cientistas identificam importante parte do novo coronavírus

Publicado em: 13/03/2020 07:20

 (Foto: AFP / THOMAS KIENZLE)
Foto: AFP / THOMAS KIENZLE
Embora a ciência não tenha, ainda, respostas para todas as questões sobre o coronavírus, a corrida por uma vacina que contenha a propagação do micro-organismo está acelerada. Com mais de 130 mil pessoas infectadas no mundo em dois meses, a previsão de epidemiologistas é de que esse número continue a aumentar rapidamente. Agora, equipes de pesquisadores do Instituto La Jolla de Imunologia, na Califórnia, e do Instituto J. Craig Venter, ambos nos EUA, afirmam ter detectado os possíveis alvos para tornar o organismo imune ao causador da Covid-19.

Em um estudo que será publicado na segunda-feira, na edição on-line da revista Host, Cell e Microbe, os cientistas descrevem quais as partes do vírus acionam o sistema imunológico humano. “No momento, temos informações limitadas sobre quais partes do vírus provocam uma resposta humana sólida”, diz o autor principal, Alessandro Sette, professor do Centro de Pesquisa de Doenças Infecciosas e Vacinas de La Jolla. “O conhecimento da imunogenicidade de certas regiões virais, ou, em outras palavras, sobre a quais partes do vírus o sistema imunológico reage e com que intensidade, é de relevância imediata para o planejamento de candidatos promissores à vacina.”

Quando o sistema imunológico encontra uma bactéria ou um vírus, ele se concentra em minúsculas características moleculares, os chamados epítopos, que permitem às células de defesa distinguir os invasores e preparar o ataque. Ter um mapa completo dos epítopos virais e de sua imunogenicidade é fundamental para os pesquisadores que tentam projetar vacinas novas ou aprimoradas para proteger contra a Covid-19.

Embora os cientistas saibam muito pouco sobre como o sistema imunológico humano responde ao novo coronavírus, a resposta imune a outros vírus dessa família foi estudada anteriormente, e uma quantidade significativa de dados de epítopos está disponível à comunidade de pesquisadores. Hoje, quatro outros coronavírus circulam na população humana. Geralmente, causam sintomas leves e, juntos, são responsáveis por um quarto de todos os casos de resfriados sazonais. Porém, eventualmente, surgem novos micro-organismos causadores de doenças graves, como foi o caso do SARS-CoV, em 2003, e do MERS-CoV em 2008.

“O novo coronavírus está mais relacionado ao SARS-CoV, que também é o coronavírus mais bem caracterizado em termos de epítopos”, explicou, em nota, o primeiro autor, Alba Grifoni, pesquisador de pós-doutorado no laboratório de Sette. Para o estudo, os cientistas usaram dados disponíveis do Immune Epitope Database (IEDB), que contém mais de 600 mil epítopos conhecidos de cerca de 3,6 mil espécies diferentes, e o Virus Pathogen Resource (ViPR), um repositório complementar de informações sobre vírus patogênicos.

Mapeados

A equipe compilou epítopos já revelados do SARS-CoV e mapeou as regiões correspondentes para o causador da Covid-19. “Conseguimos mapear 10 epítopos de células B (do sistema de defesa) para o novo coronavírus e, devido à alta similaridade geral da sequência entre SARS-CoV e o novo vírus, há uma alta probabilidade de que as mesmas regiões imunodominantes no SARS-CoV também o sejam agora”, explicou.

Cinco dessas regiões foram encontradas na glicoproteína spike, que forma a “coroa” na superfície do vírus, que deu o nome aos coronavírus (corona, em latim, significa coroa); dois, na proteína da membrana, incorporada à fina camada membrana que envolve a estrutura protetora do genoma viral; e três, na nucleoproteína, que forma a parte central do vírus. Em uma análise semelhante, os epítopos das células-T, que também integram o sistema de defesa, foram associados à glicoproteína spike e à nucleoproteína.

Em seguida, Grifoni se valeu de outra abordagem: ele usou algoritmos de previsão de epítopos para prever quais ativam as células B. Um estudo recente de cientistas da Universidade do Texas em Austin, descrito pelo Correio há duas semanas, determinou a estrutura tridimensional das proteínas spike e foi fundamental para o trabalho desenvolvido em La Jolla.

Essa metodologia confirmou duas das prováveis regiões epitópicas que haviam sido identificadas. “O fato de termos encontrado muitos epítopos de células B e T altamente semelhantes no SARS-CoV e no novo coronavírus fornece um ótimo ponto de partida para o desenvolvimento de vacinas”, diz Sette. “As estratégias de vacinas que visam especificamente essas regiões podem gerar imunidade que não é apenas protetora cruzada (que protege contra estirpes semelhantes), mas também relativamente resistente à evolução contínua do vírus.”
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