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Terapia-alvo contra o câncer de próstata agressivo reduz em 66% sua evolução

Publicado em: 05/10/2019 10:10 | Atualizado em: 05/10/2019 10:24

Até hoje não existiam intervenções personalizadas semelhantes para um subgrupo de homens que desenvolve a forma agressiva e, geralmente, letal do câncer de próstata - Foto: Unsplash.
Pela primeira vez, pacientes de câncer de próstata avançado poderão se beneficiar da terapia-alvo, um tratamento que foca na mutação por trás da doença, provocando menos efeitos colaterais e atingindo resultados mais favoráveis. Esse tipo de medicamento é usado em alguns tumores de mama, pulmão, ovário, por exemplo, mas, até hoje, não existia intervenções personalizadas semelhantes para um subgrupo de homens que desenvolve a forma agressiva e, geralmente, letal do câncer de próstata.

Apresentado no Congresso Esmo 2019, da Sociedade Europeia de Oncologia Clínica, o estudo Profound foi recebido com entusiasmo pela comunidade científica. A boa recepção não é apenas porque o único tratamento disponível para o câncer de próstata avançado, a terapia hormonal, tem ação limitada, mas pelo fato de a nova terapia inaugurar uma era de medicina personalizada para pacientes com mutações genéticas.

“Podemos dizer que o estudo Profound certamente é uma mudança profunda na forma como entendemos e tratamos o câncer de próstata”, afirma o oncologista Paulo Lages, do Grupo Oncoclínicas/OncoVida. O médico, especialista em cânceres geniturinários, esteve presente no congresso e afirma que os resultados apresentados significam que a terapia padrão para o tumor de próstata causado por mutação genética vai mudar. “O que a gente tinha de melhor para oferecer a esse tipo de paciente era o bloqueio hormonal, mas podemos ver claramente que o impacto é muito maior quando se usa uma droga que tem como alvo o gene de reparo do que tratar, como a gente trata, um tumor de próstata convencional. Não há dúvidas de que é uma mudança na prática clínica.”

A substância é o olaparibe, droga desenhada originalmente para o tratamento de câncer de mama e ovário em mulheres com mutações no gene BRCA. Enquanto que a maioria dos pacientes de tumores de próstata desenvolve a doença esporádica, não associada a variações genéticas, de crescimento lento e, geralmente, com prognóstico avançado, até 25% sofrem de danos em uma série de genes, incluindo o BRCA.

No estudo, feito com 387 homens com mutações e divididos entre os que receberam o olaparibe e o tratamento padrão, o medicamento oral reduziu em 66% a progressão da doença, comparado ao grupo do bloqueio hormonal. Enquanto os primeiros ficaram, em média, 7,4 meses sem que o câncer avançasse, entre os segundos, o tempo foi de 3,6 meses.
Maior sobrevida
Além disso, o estudo, liderado pelo Instituto de Pesquisa de Câncer de Londres, pela Fundação Royal Marsden NHS Trust da Inglaterra e pela Universidade de Nortwestern, nos Estados Unidos, mostrou aumento da sobrevida geral dos pacientes sob regime do olaparibe. Em média, eles viveram 18,5 meses com o medicamento, contra 15 meses observados nos homens tratados com bloqueio hormonal. Os autores notam, porém, que o impacto na sobrevida só poderá ser medido mais precisamente quando forem realizados estudos de acompanhamento de longo prazo.

“O câncer de próstata ficou atrás de outros tumores sólidos comuns no uso de terapia-alvo, por isso é tão empolgante que, agora, podemos personalizar o tratamento individual baseados em alterações genômicas específicas nas células cancerosas”, disse, em coletiva de imprensa, Maha Hussain, principal autora do estudo e pesquisadora da Universidade de Northwestern, em Chicago. O Profound incluiu pacientes com 15 tipos de mutações genéticas; os mais beneficiados foram aqueles com variantes nos genes BRCA1, BRCA2 e ATM.

“Esse trabalho não apenas provou que a droga é superior ao grupo de controle (o bloqueio hormonal), mas demonstrou que o câncer de próstata pode ser tratado com uma abordagem alvo”, comentou, na coletiva de imprensa, o oncologista Ignacio Duran, pesquisador do Hospital Universitário Virgen del Rocío, em Sevilla, que não participou do estudo. “De forma simples, nem todos os pacientes de câncer de próstata têm os mesmos tumores, e essa é a primeira vez que conseguimos identificar mais precisamente a biologia molecular desses tumores. Isso vai determinar como os trataremos.”

O olaparibe está disponível no Brasil para tratamento de câncer de mama e ovário. Segundo o oncologista Paulo Lages, do Grupo Oncoclínicas/OncoVida, vai demorar até que os pacientes de câncer de próstata no país tenham acesso a esse tratamento. “Nós não temos aprovação para uso em tumor de próstata ainda. Temos de mudar a bula do remédio, e existe o rol de procedimentos da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS), em que a droga tem de estar lá com essa indicação. Vai levar algum tempo, mas não há dúvidas de que ela vai impactar enormemente a vida dos nossos doentes. É, sim, uma grande descoberta e algo que muda a prática clínica.”

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