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Exercícios podem prevenir o Alzheimer, segundo pesquisa

Publicado em: 08/01/2019 22:03

Foto: Marcello Casal Jr/Agência Brasil
O Alzheimer é uma das doenças que mais assustam as pessoas devido aos danos irreversíveis à memória. Em busca de maneiras de tratar essa enfermidade neurodegenerativa com alta incidência em idosos, pesquisadores brasileiros, em parceria com cientistas estrangeiros, resolveram analisar os efeitos neurais gerados pelos exercícios físicos, cuja prática está associada a melhorias na memória. Em experimentos com ratos, a equipe notou que o aumento, pelos músculos, da liberação do hormônio irisina está ligado a esse benefício, e que essa mesma substância também é produzida pelo cérebro. As descobertas foram publicadas na última edição da revista especializada Nature Medicine.

Os autores explicam que estudos feitos na Universidade de Harvard, nos Estados Unidos, mostraram que o hormônio irisina —liberado durante a prática de atividades físicas — melhora, em roedores, os sintomas do diabetes tipo 2. Indivíduos com essa doença metabólica apresentam mais riscos de terem Alzheimer. Pesquisas anteriores também sinalizaram relação entre memória mais eficiente e prática de exercícios.

“Eles têm sido mostrados como indutores da memória e propostos como uma abordagem para reduzir o risco de Alzheimer”, frisam os autores do estudo divulgado ontem, liderados por Fernanda de Felice e Sérgio Ferreira, ambos pesquisadores da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). O trabalho contou com a participação de cientistas da Universidade de Columbia, nos Estados Unidos, da Queen’s University, no Canadá,  e dos institutos Oswaldo Cruz e  D’Or, também no Rio de Janeiro.

Os investigadores analisaram ratos manipulados para ter Alzheimer em duas condições: enquanto produziam irisina ao realizar exercícios físicos ou após receberem doses regulares do hormônio. Os do primeiro grupo foram analisados enquanto nadavam uma hora por dia, durante cinco semanas. A equipe identificou que a atividade aumentou a concentração de irisina e tornou os animais mais aptos a aprenderem.

No grupo de camundongos que recebeu doses regulares do hormônio, percebeu-se que o procedimento conseguiu reverter a perda de memória causada pela doença neurodegenerativa. “A irisina não é uma causa provável de comprometimento cognitivo precoce na doença de Alzheimer, mas pode contribuir para a perda de memória”, ressaltam.

O grupo também sabia que há menos irisina no cérebro de pessoas com Alzheimer —  análises do post-mortem de tecido cerebral e de liquor de pacientes vivos levaram a essa conclusão. A condição foi confirmada no novo experimento com roedores. “Os níveis reduzidos de irisina no cérebro de pacientes e em modelos animais apoiam a ideia de que a sinalização hormonal cerebral está relacionada à formação da memória”, destacam.

Variados
Para a equipe, não é preciso definir quantos exercícios físicos devem ser praticados ao longo da vida para prevenir a ocorrência do Alzheimer. Mas os cientistas acreditam que as atividades podem ser variadas, não apenas a natação, como ocorreu com o experimento com os ratos. Outra aposta é que as constatações atuais poderão ajudar no combate à doença que tem preocupado cada vez mais especialistas e leigos.

“A incidência de Alzheimer, a forma mais comum de demência em indivíduos mais velhos, está aumentando à medida que a população mundial envelhece, com mais de 35 milhões de pessoas afetadas em todo o mundo. Atualmente, não há tratamento efetivo para essa enfermidade, e esforços notáveis têm sido destinados a desenvolver estratégias para combater os mecanismos que levam ao dano neuronal, à falha de sinapse e ao comprometimento da memória”, justificam.

Segundo os investigadores, os próximos estudos poderão focar nos “papéis fisiológicos precisos do cérebro e da irisina na formação e na consolidação de diferentes tipos de memórias”. A equipe também não descarta a criação de uma droga contra a doença. Os medicamentos atuais ajudam a mascarar os sintomas do Alzheimer, mas não tratam a doença subjacente ou retardam sua progressão.

Palavra de especialista

Horizonte promissor
“Mais recentemente, a irisina foi relacionada ao neurocomportamento e ao metabolismo neurais, o que implica em um importante papel no cérebro. Estudos têm mostrado que o exercício físico pode ajudar a prevenir ou a retardar o desenvolvimento do Alzheimer e outras demências associadas à idade. Isso torna plausíveis investigações como essa, que relacionam os dois temas. Identificar o mecanismo molecular mediador dos efeitos benéficos do exercício poderia levar a novas estratégias terapêuticas que imitam esses efeitos, particularmente em idosos que sofrem com Alzheimer. Entender melhor a relação íntima entre os tecidos cerebrais e a memória terá implicações significativas de tratamento não só para essa doença, como para outras enfermidades neurais semelhantes em suas características.”

Xu Chen, pesquisador do Departamento de Neurologia da Universidade da Califórnia, em um artigo opinativo também divulgado na revista Nature Medicine 
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