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'As cidades são deficientes, as pessoas não', diz especialista em fisiatria

Publicado em: 17/01/2019 18:38 | Atualizado em: 17/01/2019 18:38

Foto: Edilson Rodrigues/Agência Senado
"As cidades são deficientes não as pessoas", é com essa declaração que a Professora Adjunta e Chefe da Residência de Fisiatria da Faculdade de Medicina de São José do Rio Preto, Regina Chueire, define as limitações das Pessoas com Deficiencia (PCD). Para ela, o limite é imposto pela falta de estrutura das grandes cidades, como calçadas esburacadas ou falta de acessibilidade.  De acordo com o Censo 2010 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), mais de 45 milhões de brasileiros têm algum tipo de deficiência.

De acordo com a médica, que também é Chefe do Ambulatório de Bloqueio com Toxina Botulínica das DRS XV e II que atende 200 municípios, as limitações não passam por dentro da cabeça, mas sim são obstáculos perceptíveis nas estruturas das próprias cidades, o que ela chama de "preconceito das mobilidades". Segundo Chueire,o Acidente Vascular Cerebral  (AVC) é uma das doenças mais incapacitantes que existe. Perguntada sobre se há mais pessoas que nascem com uma má formação ou adquirem alguma paralisação durante a vida, a médica informou que as duas coisas acontecem e podem ser variáveis de região pra região.

A médica lista danos que podem causar incapacitação total ou parcial: "acidentes automobilísticos, derrames cerebrais e as más formações nas crianças, além de diabetes e violência contra mulher. Então é um mix de fatores", afirmou.  

Segundo ela, a quebra do preconceito, historicamente, se deu após o retorno dos "heróis de guerra". "Muitos soldados foram mutilados durante guerras e ao voltarem aos lares perceberam as barreiras da cidade. Então, muitos foram responsáveis por forçar os gestores de políticas públicas que garantissem acessibilidade.

"Nosso país é muito preconceituoso. Vivi em uma época que nenhuma empresa patrocinaria e teria a marca associada a deficientes. A sociedade está mudando mas há um longo caminho para chegarmos ao ideal".

A médica ressaltou que é necessário pensar que o termo incapacidade está referindo a uma condição que nem sempre causa uma parada brusca ou limitação no que se é. Para isso, a médica comentou sobre o cantor Roberto Carlos. "Ele ter uma deficiência não muda em nada o ritmo de vida do cantor", disse. 

De acordo com a médica, a toxina botulínica é uma aliada do paciente durante o período de recuperação. Os pacientes têm uma lesão que desenvolve músculos duros, espaticidades, que os impedem de, por exemplo, esticar braços ou pernas. "A toxina botulínica relaxa esses músculos e auxilia o trabalho do fisioterapeuta". O produto, conhecido pelo uso na estética, também pode ser encontrado no Sistema Único de Saúde (SUS). A indicação dada por Regina é que o paciente procure o médico para que ele veja a possibilidade de trabalhar com o produto que ajuda na recuperação. 

A assistente social, Maria José Graciliano, 50 anos, agradece a equipe médica e a  toxina botulínica pela recuperação do equilíbrio.  Há 13 anos,  ela teve que se adaptar a paralisia do braço e perna esquerda, após um dos três aneurismas se romper. "Eu não tenho movimento de fechar e abrir a mão, tenho dificuldade em dobrá-las".  Maria admite que pessoas com deficiências não faziam parte da vida dela.  "Não conhecia ninguém com deficiência e depois do que me acometeu passei a perceber o mundo de uma forma mais intensa. Comecei a dar valor as coisas que fazemos de forma automática, por exemplo, beber água".

Depois de passar por uma equipe formada por diversos profissionais da saúde, como fisioterapeuta e terapeuta ocupacional,  ela sentiu que estava pronta para o recomeço. "Percebi e entendi que posso e com essa certeza fiz faculdade de serviço social.  Após concluir o curso, prestei concurso para o Tribunal de Justiça de São Paulo. Onde atuo desde 2014", comentou.

Depois de quatro anos, ela voltou a ter um bom equilíbrio. "A toxina melhorou bastante. Eu tinha muita dificuldade para andar. Com alongamento, toxina e fisioterapia sai de uma dependência e passei a ser, novamente, independente". 
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