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Ministério da Saúde registra aumento nos três tipos de sífilis no país

Durante o evento, especialistas debateram sobre diagnóstico e soluções para o controle da doença

Publicado em: 15/12/2018 10:16

Foto: SESA

A sífilis voltou a ser uma epidemia no Brasil, e o alto número de infectados preocupa especialistas da saúde. A doença não escolhe gênero, idade ou classe social. Bebês, jovens, adultos, gestantes e idosos podem ser um entre os milhões infectados por ano. A falta de uso de preservativos e a não conclusão de tratamentos dificultam o combate à enfermidade, que se tornou uma das infecções sexualmente transmissíveis (ISTs) mais recorrentes no país e no mundo. Com o objetivo de debater o diagnóstico e as soluções para o controle da epidemia, o Correio promoveu, ontem, o seminário Correio Talks: Infecções sexualmente transmissíveis e o combate à sífilis no Brasil.

Dados do Boletim Epidemiológico da Sífilis-2018 mostram que a taxa de detecção da sífilis adquirida aumentou de 44,1 para cada grupo de 100 mil habitantes, em 2016, para 58,1/100 mil em 2017. No mesmo período, a infecção em gestantes cresceu de 10,8 casos por mil nascidos vivos para 17,2. Já a sífilis congênita passou de 21.183 casos em 2016 para 24.666 em 2017. O número de óbitos por sífilis congênita foi de 206 casos em 2017, enquanto em 2016, tinha ficado em 195.

A médica infectologista e presidente da Sociedade de Infectologia do Distrito Federal, Valéria Paes, uma das palestrantes do evento, afirmou que, mesmo que uma pessoa não apresente sintomas, pode ser portadora da doença. A especialista explicou ainda que a sífilis é uma infecção sexualmente transmissível (IST) e não uma doença sexualmente transmissível (DST). Por isso, pode ser assintomática.

“A recomendação é de que não aguarde a presença de sintomas para buscar o teste. Para uma vida sexual ativa e saudável, faz parte a realização de exames periódicos. O exame detecta e possibilita o tratamento precoce e interrompe o ciclo de transmissão da doença. Algumas pessoas não acham que têm o risco de ter sífilis, julgam pela aparência ou pela relação de confiança”, explica.

Valéria ressalta a importância de alertar a população para a questão das ISTs, ainda um problema de saúde pública. “Muitas pessoas ainda acham que essas doenças não existem mais, ou não sabem bem como se prevenir”, complementa. Para a especialista, a sífilis é uma das infecções mais preocupantes, principalmente por conta das complicações que pode causar. “Todas as ISTs estão relacionadas à redução do uso de preservativos, e temos de nos aprofundar em saber por que isso está acontecendo”, frisa.
Diagnóstico
O diagnóstico precoce é essencial para uma boa recuperação do paciente. É o alerta da diretora do Departamento de Vigilância, Prevenção e Controle das IST, do HIV/Aids e das Hepatites Virais (DIAHV) do Ministério da Saúde, Adele Benzaken. Mesmo em pessoas que têm acesso a informação, há, muitas vezes, resistência para procurar uma unidade de saúde e seguir com o tratamento. Outro obstáculo é, inclusive, a falta de orientação por parte dos profissionais de saúde que, muitas vezes, hesitam em aplicar a penicilina (principal medicamento de cura da sífilis) no paciente.

“Um dos principais trabalhos de prevenção é a boa orientação médica ou a ida do paciente ao consultório ainda nos primeiros sintomas da doença. Se a sífilis for diagnosticada no início, a cura é mais rápida. A penicilina é o remédio mais indicado para o tratamento”, pontua. A especialista ressalta ainda que o Ministério da Saúde já disponibiliza testes rápidos para diagnóstico em unidades de saúde, diminuindo a burocracia em torno do tema. “A sífilis difere do HIV, porque é generalizada, em vez de atingir apenas os mais vulneráveis. Está em toda a população.”

É importante também destacar, de acordo com Adele, que uma pessoa curada da doença, que tenha concluído 100% do tratamento, sempre terá nos exames as taxas apontando para o resultado positivo. “Não é para se assustar. Nesses casos, aparecerá positivo, mas a pessoa não tem sífilis. Porém, se tiver largado o tratamento no meio, não ter tomado as doses certas de penicilina, e ainda assim der positivo, deve começar o tratamento imediatamente”, avisa.

“Para uma vida sexual ativa e saudável, faz parte a realização de exames periódicos. O exame detecta e possibilita o tratamento precoce e interrompe o ciclo de transmissão da doença”
Valéria Paes,  presidente da Sociedade de Infectologia do DF

Impacto na grávida e no bebê 
A sífilis em gestantes é preocupante. A infecção grave pode ser transmitida da mãe para o filho e causar malformação do feto, aborto ou morte do bebê. Por isso, é importante fazer o teste para detectar a enfermidade durante o pré-natal e, quando o resultado for positivo, tratar corretamente a mulher e o parceiro. Só assim se consegue evitar a transmissão da doença para o feto.

O preconceito e o medo do julgamento social, no entanto, ainda afetam pacientes, que, muitas vezes, resistem em informar ao médico que fizeram sexo sem preservativo. Esse cenário atrapalha o diagnóstico precoce da doença, avalia Eliana Bicudo, consultora da Sociedade Brasileira de Infectologia.

“Não é sempre que os sintomas aparecem. Por isso, é preciso atenção. A transparência nas consultas é essencial para manter a saúde do paciente. E o debate não é só em torno da sífilis, mas de todas as doenças sexualmente transmissíveis”, frisou.

A especialista destacou ainda que a sífilis é um dos microrganismos sexualmente transmissíveis mais preocupantes por conta das complicações que pode causar. Quando a doença é congênita, ou seja, transmitida de mãe para filho, há um risco de comprometimento do sistema neurológico da criança. Se não for tratada, pode colocar em risco, inclusive, a vida do bebê. “A mãe e o pai devem fazer o tratamento. O que se observa é que os homens, muitas vezes, não o concluem, e não ficam 100% curados. Eles têm maior resistência”, acrescentou.

Bicudo ressaltou também a banalização da penicilina benzatina. “A adesão à penicilina benzatina não pode ser perdida. O tratamento da doença que está mais avançada é mais longo do que o da pessoa que conseguiu o diagnóstico precoce. Na fase inicial, são necessárias duas doses da penicilina. Nas avançadas, seis. Se o paciente não concluir o tratamento, pode se tornar, inclusive, resistente (a bactéria que causa o mal).”

Segundo a especialista, o tratamento para a grávida com sífilis prossegue até um mês antes do parto. “Ela tem oito meses para se tratar e evitar que o bebê nasça com sífilis congênita. Esse é um problema de saúde e precisa ser encarado de forma séria. A sífilis é passível de prevenção, e a penicilina é a única opção segura e eficaz. É curável, mas passa por aceitação e mudança de comportamento do indivíduo. Tem de testar. Se descoberta, tratar”, finalizou.


“A mãe e o pai devem fazer o tratamento. O que se observa é que os homens, muitas vezes, não o concluem, e não ficam 100% curados. Eles têm maior resistência”
Eliana Bicudo, consultora da Sociedade Brasileira de Infectologia

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