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Redes sociais podem afetar negativamente como mulheres vêem próprio corpo

A participação ativa em redes sociais pode afetar negativamente a forma como mulheres jovens enxergam e valorizam o próprio corpo, mostra estudo canadense

Publicado em: 25/11/2018 13:05 | Atualizado em: 25/11/2018 13:08

Foto: Reprodução/Internet (Foto: Reprodução/Internet)
Foto: Reprodução/Internet (Foto: Reprodução/Internet)
As redes sociais conseguiram diminuir distâncias e fazer com que as pessoas mantenham contato mesmo estando em cidades e países diferentes. Essa proximidade, porém, pode gerar prejuízos. Um deles é a construção de uma autoimagem negativa do corpo, segundo estudo canadense. Após experimento com mulheres jovens, os pesquisadores da York University observaram que aquelas que se envolviam ativamente com imagens postadas por amigas e colegas que consideravam mais atraentes se sentiam pior quanto à própria aparência. Segundo especialistas, para combater ou minimizar esse efeito negativo, é necessário usar com bom senso as ferramentas de relacionamento virtual.

A pesquisa foi conduzida com 118 alunas de graduação, de diversas origens étnicas, com idade entre 18 e 27 anos e que davam “curtidas” ou comentavam fotos de pessoas que consideravam mais atraentes do que elas. Esse perfil foi filtrado por meio de um questionário on-line preenchido seis semanas antes do experimento. Segundo as autoras, o foco do estudo era a forma com que jovens mulheres interagem com imagens compartilhadas na internet e como esse comportamento pode afetar o que elas sentem sobre o próprio corpo.

“Sabíamos, de pesquisas anteriores do nosso laboratório, que as mulheres jovens, em particular, usam muito as mídias sociais e gostam de postar fotos de si mesmas. Para esse estudo, estávamos interessados na atividade de pessoas que olham e comentam as fotos de mídia social dos outros”, conta ao Correio Jennifer Mills, professora-associada do Departamento de Psicologia da universidade e uma das autoras do estudo, publicado na revista Body Image. Jacqueline Hogue, estudante da universidade canadense, também participou do trabalho. “Essa investigação foi a tese de mestrado da minha aluna e parte de um programa maior de pesquisa que estou conduzindo sobre a relação entre mídias sociais e imagem corporal”, detalha Mills.

Cada participante recebeu um questionário em que deveria indicar, usando uma escala gradativa, como estava satisfeita ou insatisfeita com a própria aparência ou imagem corporal. As voluntárias foram, então, aleatoriamente designadas para executar tarefas distintas. Cada integrante de um grupo teve que acessar o Facebook e o Instagram por ao menos cinco minutos e encontrar uma colega com a mesma idade que achasse ser mais atraente do que ela. Depois de olhar as fotos, era preciso deixar um comentário.

No segundo grupo, as voluntárias foram orientadas a acessar a conta de alguém da família que considerasse menos atraente e a comentar sobre um post desse indivíduo. “Nós hipotetizamos, com base na teoria da comparação social em psicologia, que as pessoas tendem a se sentir piores quando se comparam com alguém que consideram mais atraente. Por isso, projetamos o estudo para que as duas condições criassem efeitos diferentes na imagem corporal (par atraente versus membro da família)”, justifica Mills.

Os dados mostraram que as opiniões das participantes sobre a própria aparência não foram afetadas quando elas interagiram com familiares. Porém, as mulheres se sentiram piores em relação ao próprio corpo após comentar as fotos de colegas. “Essas jovens se sentiam insatisfeitas, pior com a própria aparência, depois de olharem as páginas de mídia social de alguém que consideravam mais atraente. Mesmo que já se sentissem mal antes de entrar no estudo, elas se sentiram ainda pior depois de completar a tarefa”, ressalta a autora.

Mais real

A dupla de pesquisadoras acredita que os efeitos negativos gerados pela interação com conhecidos podem ser justificados pela proximidade, que impulsiona ainda mais a comparação entre as mulheres. “Acho que nossos resultados são um pouco diferentes de pesquisas sobre os efeitos da publicidade e da mídia porque nossas voluntárias estavam olhando pessoas ‘reais’, o que provavelmente afeta ainda mais. Nós pensamos que devemos ou poderíamos ser tão bonitas quanto as pessoas que conhecemos. Em outras palavras, os colegas são um alvo de comparação mais realista do que os modelos profissionais, que são inspiradores, mas não necessariamente pensamos que podemos ou devemos ser como eles”, compara  Mills.

Segundo Kassiana Pozzatti, psicóloga clínica e escolar, o efeito visto na pesquisa é algo que ocorre principalmente durante o início da adolescência. “Na época em que eles começam a ter a percepção do outro por interesse, nos 13, 14 anos, notamos essa comparação exagerada. Nós também vemos que, hoje, as meninas não se comparam mais com a capa da revista, algo que parecia distante para as mulheres. Agora, se comparam com a colega de classe, uma pessoa que senta ao lado, o que gera um efeito mais forte”, diz. A psicóloga também acredita que o mesmo ocorra com os homens, sendo que, geralmente, não envolve o físico. “Esses jovens sempre comparam se o colega é mais bem-vestido ou se tem mais dinheiro e se sentem mal com isso”, ilustra.

Nicole Bacellar Zaneti, psicóloga do Instituto Castro e Santos (ICS), em Brasília, diz que as comparações geradas pelas interações nas redes sociais também estão relacionadas a construções passadas e atuais ligadas ao corpo da mulher e fomentadas pelas mídias. “Ao se compararem com conhecidas, isso afeta de forma negativa as mulheres e mexe com sua autoestima. Essa reação também está relacionada à construção social e cultural a respeito de um determinado corpo, que somos cobradas a tê-lo há muito tempo”, observa. “Ao tentar se encaixar nesses padrões estabelecidos pela sociedade, você adoece. Mas seu referencial precisa ser você,  não o outro.”

“Essas jovens se sentiam insatisfeitas, pior com a própria aparência, depois de olharem as páginas de mídia social de alguém que consideravam mais atraente”
Jennifer Mills, professora-associada do Departamento de Psicologia da York University e uma das autoras do estudo

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