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Diabetes: limitação ou oportunidade? Pacientes quebram rótulos sobre a doença

'Eu saboreio o doce da vida', diz Bruno Helman, 24 anos, há seis foi diagnosticado com diabetes tipo 1, ao saber da doença, ele decidiu correr uma maratona junto ao pai e não parou mais

Publicado em: 14/11/2018 13:30 | Atualizado em: 14/11/2018 14:23

Foto: Facebook/Reprodução

"Sempre depende da gente, encarar a realidade de maneira prática. É necessário questionar a si mesmo sobre o que precisa ser feito para ver oportunidade na dificuldade. Limites todos temos e é saudável. O diabetes me deu muitos ganhos, o maior deles foi o amor próprio. Eu saboreio o doce da vida", exalta Bruno Helman.  Nesta quarta-feira (14), é comemorado o Dia Mundial da Diabetes. A doença acomete cerca de 12,5 milhões de pessoas somente no Brasil, segundo dados de 2017 do Atlas International Diabetes Federation (IDF). Apesar de existir tantos diagnósticos no cenário nacional, de acordo com os pacientes, a doença ainda é estigmatizada pela sociedade. 

Um diagnóstico de diabetes tipo1 poderia ter sido uma limitação para um jovem de 18 anos, mas Bruno Helman, agora com 24 anos, aproveitou a doença para ver uma oportunidade: ser maratonista. Logo após o diagnóstico, ele decidiu retribuir o afeto do pai e dedicação dos cuidados do pai e aceitou correr uma maratona junto dele, desde maio de 2016, não parou mais. Hoje, utiliza do espaço dado pela corrida para levantar a bandeira sobre a necessidade de mais informações, conscientização e promoções de políticas públicas para a doença.

Para o corredor, ainda há muita desinformação e preconceito com as pessoas com diabetes. Não foi fácil para ele entender como uma pessoa que praticava esportes e tinha uma boa alimentação pudesse estar com diabetes. "Não conseguia assimilar que estava adquirindo diabetes", comentou. Apesar do diagnóstico, ele avalia que teve privilégios. "Tive uma família que me deu suporte, acesso a insumos e medicamentos, mas nem todos tem isso", ressaltou.  Hoje a corrida para Helman é quase uma ferramenta política. "Nunca tive empecilho com a maratona por conta da diabetes. Quando corri nos Estados Unidos  estava frio e chovendo, quase tive hipotermia, já em Salvador era extremamente quente. Diabetes demanda uma série de cuidados extras, não é para pintar um quadro cor de rosa, mas é possível realizar até uma maratona", afirmou.

De acordo com a endocrinologista, coordenadora dos Departamentos da Sociedade Brasileira de Diabetes e diretora da ADJ Diabetes Brasil , Denise Franco, os tipos mais comuns de diabetes são: as do tipo1 (precisa usar insulina a vida toda e é autoimune) e a tipo2 a mais existe no Brasil e está mais relacionada com sedentarismo e má alimentação. No tipo 2 o paciente pode precisar do uso de insulina em algum momento do tratamento, mas não é para vida toda, como no caso da primeira. Além dos dois, há também a diabetes gestacional que ocorre na mulher durante a gestação, no geral, assim que o bebê nasce a diabetes some. Porém,  as mulheres que desenvolveram diabetes gestacional devem ficar alertas porque há mais riscos de desenvolver diabetes tipo 2 durante a vida.  É necessário ressaltar que o tratamento é diferente para cada paciente.   

Bruno viu no diagnóstico uma oportunidade para além da corrida. Ele idealizou o ‘Correndo pelo Diabetes’, que tem o compromisso de levar a corrida para cidades brasileiras em prol da causa, além de compartilhar histórias, trocar experiências, desmistificar a condição de um paciente portador de diabetes e discutir os benefícios da atividade física.  A última edição de 2018 acontece neste sábado, em Curitiba.

A publicitária Fabiana Couto foi diagnosticadas com diabetes aos 13 anos. Foto: Ilana Brajterman

Assim como ele, a publicitária Fabiana Couto, 38 anos, também levanta a bandeira pela causa. Ela descobriu diabetes tipo1, ainda cedo, aos 13 anos de idade e relembra que havia poucos grupos de discussões sobre diabetes no Brasil e também eram raros os lugares de trocas de experiência sobre a doença. Com poucas informações a respeito da doença, a publicitária criou o projeto Divabética. O intuito da iniciativa é reforçar a auto estima e empoderamento das mulheres que possuem diabetes."Não foi tão simples aceitar que tinha a doença. Descobri na adolescência, período em que todos querem ser iguais. Por vezes, escondia o tratamento e aplicava insulina sem nenhum parâmetro. Hoje, sei que não preciso viver com medo da diabetes, mas devo ter responsabilidades." 

Atualmente, Fabiana checa durante o dia se glicose está alterada ou não, e todas as vezes que  se alimenta, quinze minutos antes, aplica insulina, uma média de sete vezes por dia. Além disso, ela reforça a necessidade de tomar cuidado com machucados na pele, infecções e até mesmo ansiedade. "Aos 26 anos, me sentia incapaz. Não sabia que o que me faltava de verdade era um aceitamento melhor da diabetes, com mais auto-estima e amor próprio. Percebi que existem muitas questões voltadas para técnicas médicas, mas que a gente não lida com o emocional como deveria", refletiu. 

O primeiro ano do projeto Divabética aconteceu em São Paulo, nesta segunda edição a iniciativa ocorreu no Rio de Janeiro com a ajuda da Associação dos Diabéticos da Lagoa, no Rio de Janeiro. "Eles viram nossa iniciativa em São Paulo e abriram as portas e foi no Rio que o evento ocorreu neste ano. O objetivo de quem faz o projeto é levá-lo opara outras capitais no Brasil", confirmou a idealizadora.

Mesmo depois de tanto tempo engajada em causas referentes à doença, a publicitária afirma que ainda escuta inverdades sobre o assunto. "Muitas pessoas tem a imagem de basta não comer doce, por exemplo. Hoje ainda falam que má alimentação causa a doença, mas a minha diabetes é a tipo 1, que  é autoimune. Claro que há influências mas a diabetes é muito mais complexa do que só não comer doces", avaliou.

Segundo Denise Franco, o maior alerta dos especialistas é para que as pessoas conheçam a doença. " Não há um tipo mais perigoso de diabetes, quem tem a glicemia alterada, ao longo dos anos pode ter cegueira, problemas cardiovasculares, infarto, derrame, relacionado as complicações da doença. É necessário fazer um tratamento adequado, saber que se pode fazer atividades físicas, monitorar a glicemia, é necessário o trabalho em conjunto, mas dá para ser atleta e maratonista mesmo tendo a doença", explica

A publicitária que também atua como coach revela que muitas pessoas que atendem minimizam a doença. "Falam que não é nada, mas essa é uma forma de não cuidar, de negligenciar a diabetes. Ela não aceita emocionalmente, não faz as pazes com essa limitação", disse Fabiana, que realiza um trabalho multidisciplinar com outras pessoas com diabetes.

Saiba Mais 
De acordo com Denise Franco, a diabulimia, é um transtorno alimentar parecido com a bulimia. Mas o paciente, diagnosticado com diabetes ao comer opta por não tomar insulina e acaba perdendo peso, com isso, sofre riscos ficando debilitado e com a saúde comprometida.
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