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População ainda desconhece perigos do diabetes

Pesquisa mostra que boa parte dos brasileiros ignora características e consequências de enfermidade, aumentando o risco de descontrole da doença.

Publicado em: 07/08/2018 13:08 | Atualizado em: 07/08/2018 13:22

Sonia Fong convive com diabetes e diz que é desafio controlar a alimentação. Crédito: Thalyta Tavares/Esp.DP  (Crédito: Thalyta Tavares/Esp.DP )
Sonia Fong convive com diabetes e diz que é desafio controlar a alimentação. Crédito: Thalyta Tavares/Esp.DP (Crédito: Thalyta Tavares/Esp.DP )

Uma doença que provoca uma morte a cada oito segundos e uma amputação a cada 20 segundos. É a terceira causa de mortes no Brasil e o principal desencadeador de cegueira e insuficiência renal. Mesmo assim, é negligenciada e subestimada. Para a população brasileira, enfermidades como Aids e febre amarela são mais perigosas que o diabetes, ainda que tenham índice de mortalidade e prevalência menor. A pesquisa O que os brasileiros sabem (e não sabem) sobre o diabetes evidenciou uma urgência: é preciso disseminar informação sobre o diabetes.

Em todo o país, estima-se que existam 12 milhões de diabéticos. Em 2045, esse número saltará para 20,3 milhões, um aumento de 69%. A pesquisa - realizada pela Abril Inteligência e AstraZeneca - mostra que parte desse crescimento poderá ocorrer por desconhecimento da população sobre as formas de prevenção e cuidado. Cerca de 25% dos brasileiros não acreditam que o diabetes possa matar, ainda que nos últimos seis anos a mortalidade tenha crescido 12%. Quando questionados sobre a gravidade, o diabetes é apenas a sexta doença citada pelos entrevistados.

“É um resultado brutal, sobretudo quando levamos em consideração o público-alvo da investigação. São pessoas de um nível econômico mais alto, a maioria com renda familiar maior que R$ 4,7 mil, que têm acesso à internet e são atendidas por um médico especializado”, afirmou o endocrinologista e pesquisador da Universidade de São Paulo (USP) Carlos Eduardo Couri. Segundo ele, o desconhecimento sobre o diabetes tem duas explicações: a população que não busca a informação e o sistema de saúde, que tem sua parcela de responsabilidade. “O cuidado é sempre colocado em segundo plano. Enquanto as consultas são cada vez mais rápidas. Nós médicos ficamos falando de tecnologias avançadas, mas o paciente não está sabendo do básico”, diz. “Você é diabético 24 horas e tem que saber conduzir isso. O médico tem que orientar você, para quando for dormir, for beber, tomar remédio”, afirma.

Cerca de 46% dos pacientes não realizam check-ups no período de seis meses. Um em cada quatro deles sequer sabe o limite normal de glicose. Um em cada três diabéticos admite que a doença está mal controlada. Na prática, esse número pode ser ainda maior, se considerado que 40% das pessoas com diabetes sequer foram diagnosticadas. O diagnóstico costuma demorar de cinco a sete anos. Se não houver tratamento, a doença pode levar a amputações, cegueira, fraturas, osteoporose, infertilidade e impotência.

A comerciante Sônia Fong, 58, convive com o diabetes há oito anos. Falhou por seis meses no tratamento e sentiu o peso do descuido. “Deixei de tomar o remédio e minha glicose disparou. Também havia parado de fazer exercícios porque machuquei o joelho”, conta ela, que retomou o tratamento e já reduziu a taxa. “É difícil controlar, deixar de comer farinha de trigo, pizza, torresmo, coisas que eu amo. Mas faz parte. Agora vou voltar para a ginástica com tudo.”

Privar-se de comer o que gosta é a maior dificuldade dos diabéticos, mostrou o estudo. Porém, os endocrinologistas deixam claro que um diabético não precisa deixar de comer açúcar ou parar de beber. O segredo é fazer tudo em parceria com profissionais. Dessa forma, o medo de três em cada quatro deles de ter complicações associadas à doença nunca irá se concretizar.


Associação com doenças cardiovasculares é desprezada

Quando se fala de problemas associados ao descontrole do diabetes, as primeiras coisas que vêm à mente de muitas pessoas são a cegueira, amputações e falta de sensibilidade nos pés. De forma equivocada, a população se esquece das doenças cardiovasculares. A maior parte dos diabéticos morre em decorrência de infarto e acidente vascular cerebral (AVC). Eles têm cerca de três a quatro vezes mais risco de desenvolver esses problemas e duas vezes mais chances de morrer por causa deles.

“O diabetes é um fator de risco para as doenças cardiovasculares como fumar. E essa correlação é duas a quatro vezes pior nas mulheres”, explicou Carlos Eduardo Couri. De acordo com a médica do Instituto de Endocrinologia de Pernambuco Daniela Coelho, a redução na produção de insulina produz um enrijecimento arterial. “Pacientes diabéticos têm uma produção aumentada do colesterol LDL, que sofre um processo conhecido como glicação”, explica.

Ao longo do tempo, essa aderência leva à obstrução do vaso e favorece o infarto e o AVC. O risco é similar para pessoa com diabetes tipos 1 ou 2. “O ideal é que os pacientes tenham hábitos saudáveis, pratiquem atividades físicas de 30 minutos, de três a cinco vezes por semana, e evitem fumar e consumir bebida alcoólica. Mas também não adianta fazer isso e não fazer o tratamento adequado”, acrescenta Daniela Coelho. A pesquisa mostrou ainda que 39% dos pacientes diabéticos entrevistados afirmaram ter também pressão alta. Essas pessoas têm 20% mais risco de ter infarto e AVC. 

*A repórter viajou a convite da AstraZeneca


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