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CIÊNCIA

Novo medicamento contra o câncer de mama em estágio avançado será comercializado no Brasil

Pesquisa inédita, realizada pelo Instituto Provoker e o laboratório Pfizer, revelou o impacto do câncer de mama metastático na vida afetiva, doméstica e financeira; Nova droga será comercializada a partir de junho

Publicado em: 28/05/2018 15:57 | Atualizado em: 28/05/2018 17:11

Coletiva realizada em São Paulo. Foto: Divulgação (Foto: Divulgação)
Coletiva realizada em São Paulo. Foto: Divulgação (Foto: Divulgação)

SÃO PAULO - Sessenta mil brasileiras recebem o diagnóstico de câncer de mama todos os anos e em 30% dos casos a doença progride para o estágio metastático, quando o tumor se espalha para outros órgãos. Nessas mulheres, os sonhos e perspectivas de futuros se misturam aos sentimentos de medo, insegurança, impotência e tristeza. A família sofre junto e a doença conduz uma nova realidade à vida das pacientes. Buscando trazer um olhar aprofundado e sensível sobre o assunto, o Instituto Provoker e o laboratório Pfizer realizou uma pesquisa inédita sobre o impacto do câncer de mama avançado na vida afetiva, doméstica e financeira de pacientes e familiares.

O levantamento foi feito a partir de entrevistas pessoais, envolvendo 170 mulheres, diagnosticadas com câncer de mama metastático, com idade média de 47 anos, atendidas na rede pública e privada, e 240 familiares de nove capitais do Brasil (São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Salvador, Recife, Fortaleza, Belém, Curitiba e Porto Alegre). Das pacientes analisadas, 74% têm filhos, 44% não trabalham mais por causa da doença e 37% tinham histórico de câncer na família.

"Muitos questionamentos passam pela cabeça da mulher que recebe um diagnóstico de câncer de mama avançado. Como contar para os filhos? Será que o(a) companheiro(a) estará ao lado dela durante todo o tratamento? E o trabalho, será necessário abandonar a profissão? Todas essas dúvidas reforçam a importância do apoio e do acolhimento a essa paciente", comenta a presidente do Instituto Oncoguia, Luciana Holtz.

Dados apontam que familiares são mais impactados do que as próprias pacientes pela descoberta da doença. Se 72% dos pacientes relatam muito sofrimento, a percepção é ainda mais contundente entre os familiares, 88% deles experimentaram esse sentimento quando o tumor é identificado. "Quando a família se vê diante de uma doença como essa, é claro que todas as atenções se voltam para a paciente. Mas é preciso olhar com atenção para o familiar que, embora profundamente abalado com a descoberta, tenta se manter firme para fornecer o apoio", destaca a psico-oncologista do Hospital Sírio Libanês Paula Kioroglo. 
Após o diagnóstico, uma nova realidade

Rotina, lazer, mercado de trabalho. Aproximadamente nove em cada 10 pacientes ouvidas estão convencidas que a doença trouxe modificações importantes na vivência do dia a dia. 91% das mulheres apontam essas mudanças como negativas, o abandono do mercado de trabalho, por exemplo, é a principal queixa entre elas.

A sexualidade é outro fator significante na vida dessas mulheres. O médico e Presidente da Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica, Sérgio Simón, ressalta a importância dos profissionais de saúde conversarem com suas pacientes. A pesquisa aponta que elas relatam vergonha do próprio corpo e 51% dos companheiros dizem que a mulher já não gosta de ser tocada nas mamas. "Em quase 80% dos casos, a plástica é feita. No entanto, o resultado é diferente de uma cirurgia estética", explica Simón. 53% afirma que, com a doença, a libido se perdeu. 

Apesar dos desafios impostos e das dificuldades que precisam superar, a maioria das mulheres diagnosticadas com câncer de mama metastático se apresenta cheias de planos e projetos de vida. Além de se estarem confiantes em relação ao tratamento, 76% dessas mulheres afirmam que continuam a realizar seus sonhos.

 (Foto: Divulgação)
Foto: Divulgação


Em 2013, prestes a subir no altar, Renata Lujan foi diagnosticada com câncer de mama em estágio inicial. Passou por sessões de quimioterapia, radioterapia e cirurgia. Depois de 1 ano e 4 meses, descobriu a metástase, com lesões nos ossos, fígado e, a mais recente, no cérebro. A força dela se mantém firme: Renata se mostra esperançosa na evolução do tratamento. "Descobri que viver vai muito além da garantia de ter uma vida longa. Viver deve ser sempre no agora".

Novo medicamento 
 
O avanço da ciência tem desenhado um cenário otimista para as mulheres diagnosticadas com câncer de mama avançado. A partir de junho, o medicamento oral Ibrance (palbociclibe), da farmacêutica Pfizer, será comercializado no Brasil. A droga já havia sido licenciada nos Estados Unidos e na União Europeia, apresentando altos índices de eficácia e segurança.

O tratamento considera duas indicações. A primeira envolve mulheres na pós-menopausa, que não receberam nenhum tipo de medicamento anterior para a doença em estágio de metástase. Nesse caso, o Ibrance é aprovado em primeira linha na combinação com o letrozol, um tipo de hormonioterapia que inibe a ação do estrogênio nas células cancerosas.

Já o segundo cenário para a prescrição do fármaco é a situação de mulheres adultas que receberam tratamento e o câncer de mama metastático continua avançando. Essas pacientes podem entrar como uma segunda linha de tratamento, em associação ao fulvestranto, uma droga injetável. 

O palbociclibe é um agente oral e sua ação é direto na célula cancerígena, provocando o seu envelhecimento e não a morte, como na quimioterapia. O objetivo final é bloquear a progressão de contágio no ciclo celular. De acordo com os estudos que garantiram a comercialização, o palbociclibe e a hormonioterapia, juntos, foram capazes de frear a progressão do câncer, em média, por 25 meses.

O Ibrance é um medicamento de alto custo e ainda não entrou no Rol de Procedimentos e Eventos em Saúde estabelecido pela Agência Nacional de Saúde - lista de consultas, exames e tratamentos, na qual os beneficiários de planos têm direito à cobertura obrigatória

A integração da droga ao sistema público de saúde ainda é uma realidade distante. "Para as mulheres do SUS, o processo é mais complicado. O medicamento tem que passar pela aprovação da Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologia no SUS (Conitec), onde uma droga de alto custo tem pouca ou nenhuma chance de chegar às pacientes", justifica o oncologista Sérgio Simón.  


*Repórter viajou a convite da Pfzizer. 


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