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SAÚDE CAPILAR Xô, chapinha e secador! Pesquisa indica que eles são prejudiciais aos fios Prejuízos são maiores no cabelo afro-étnico e quando são feitos procedimentos químicos

Por: Correio Braziliense - Correio Braziliense

Publicado em: 14/08/2017 21:36 Atualizado em: 14/08/2017 21:51

Cabelos ao vento depois do secador, da chapinha e da tintura. Ainda assim, não tem alívio. Um estudo brasileiro alerta que esses procedimentos estéticos podem afetar definitivamente a estrutura dos fios. Nenhum tipo de cabelo escapa, segundo a pequisa, que também indica quais os produtos mais indicados para evitar os danos causados pela exposição ao calor e para fazer com que as intervenções estéticas se tornem mais seguras.
 
“Os tratamentos térmicos, como as chapinhas, podem causar danos à estrutura interna dos fios, o córtex. O calor pode desnaturar (mudar a forma) a queratina, a proteína responsável pelas propriedades mecânicas, como elasticidade e resistência dos fios de cabelo. Portanto, essa modificação na estrutura interna pode afetar os fios de maneira negativa”, resume Cibele Lima, pesquisadora da Faculdade de Ciências Farmacêuticas da Universidade de São Paulo (USP) e autora do estudo.

Cibele Lima fez os experimentos com amostras capilares de diferentes etnias — oriental, de pessoas com ancestralidade do Japão, da China e da Coreia; caucasiano, de origem europeia; e afro-étnico, cujos fios foram coletados de pessoas da África do Sul e de Gana. No experimento, os cabelos foram submetidos a diversas temperaturas por meio da exposição a secadores e chapinhas, e avaliou-se a quantidade de calor em que cada cabelo perdia a queratina.

Um dos resultados que mais chamaram a atenção foi a vulnerabilidade do cabelo afro-étnico. Os fios mostraram-se menos resistentes, comparados às outras amostras. "Acredito que essa diferença pode ter relação com a fragilidade desse tipo de cabelo. Ele, por exemplo, tem menor resistência ao estiramento e também quebra mais fácil ao ser penteado. Também possui o diâmetro do fio mais irregular, apresenta menos brilho e retém menos água, ou seja, é mais seco que os outros tipos de cabelo", destalha a pesquisadora.

Na exposição acima de 250ºC, os danos foram irreversíveis para todos os tipos de cabelos. Cibele Lima explica que o calor prejudica o fio internamente, e isso geralmente só é percebido quando é tarde demais, pois a evolução dos danos costuma ser imperceptível. "Os estragos podem ser causados aos cabelos virgens e potencializados em cabelos submetidos a tratamentos químicos prévios, como alisamento, progressivas, descoloração e tingimento", destaca a investigadora.

No caso da combinação descoloração e chapinha, constatou-se que há maior desnaturação da queratina do que nos cabelos virgens. "Ou seja, o dano é maior. A tintura e a descoloração tornam os fios mais porosos, e isso pode aumentar a suscetibilidade deles aos prejuízos causados pelos dispositivos térmicos, em especial, se utilizados em demasia", explica Cibele Lima.

Análise precisa
 
Bruna Duque Estrada, coordenadora do Departamento de Cabelos e Unhas da Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD), destaca que o estudo brasileiro consegue trazer dados precisos para um tema recorrente na área médica. "É uma das primeiras pesquisas que tenta comparar os efeitos nos tipos de cabelo por etnia. O caucasiano e o africano são provavelmente as maiores influências para a formação do cabelo brasileiro, e essa individualidade é bastante importante. Os danos causados pela chapinha e o secador são conhecidos, mas não precisamente, com temperaturas específicas, como foi feito nessa pesquisa", avalia.

Segundo Erick Omar, dermatologista da clínica AE Skin Center, em São Paulo, a maioria das chapinhas brasileiras funciona com cerca de 150ºC. Aparentemente, não causariam danos graves às cabeleiras, conforme os resultados do estudo. "Mas temos que ter em mente que uma pessoa que usa esses aparelhos todos os dias, o que é comum, está expondo o cabelo de forma mais severa", alerta o especialista em tricologia.

O dermatologista explica que, ao longo da vida, a reação dos fios aos procedimentos estéticos vai mudando. No caso das mulheres, depois da menstruação, perde-se parte do volume do cabelo, que fica mais fino. "Isso não ocorre de repente, é com o passar dos ciclos menstruais. Tenho pacientes que dizem que, antes, faziam chapinha e escova, e o cabelo aguentava melhor. Precisamos destacar também que, quando você usa tratamentos, como vitaminas, está cuidando do cabelo que ainda vai nascer. Os fios atuais não recebem esse auxílio", ensina.

Adepta da alta temperatura nos cabelos, Sofia Corrêa, 20 anos, também recorre a produtos que possam protegê-los. "Como uso sempre o secador e, às vezes, o babyliss, passo o leave-in, porque ele dá uma proteção térmica. Isso ajuda, mas, geralmente, sinto que a ponta do meu cabelo fica danificada", conta. A universitária ressalta que percebia maiores danos quando combinava mais um procedimento estético: a mudança na coloração. "Eu pintei um tempo atrás. Também secava e lavava todos os dias. Foi quando notei o quanto o secador deixava meu cabelo bem mais ressecado", lembra.
 
Protetores térmicos testados

A eficácia de protetores térmicos, recursos utilizados antes de procedimentos que usam a chapinha e o secador, também foi avaliada pela pesquisadora Cibele Lima, da Faculdade de Ciências Farmacêuticas da Universidade de São Paulo (USP). Dois tipos existentes no mercado foram testados: o condicionador leave-on (que não precisa de enxágue) e os fluidos de silicone. Conforme o resultado, se o cabelo tiver sido submetido a algum tipo de procedimento químico (descolorido/com luzes/poroso), os fluidos são mais indicados.

"Eles permanecem aderidos à superfície dos fios, com uma menor penetração do que os condicionadores leave-on, por exemplo, que, por conter água, penetraram mais facilmente nos cabelos", compara a pesquisadora. "Em cabelos virgens, que possuem a superfície mais uniforme e não porosa, pode ser indicado o uso tanto dos fluidos de silicones quanto dos condicionares leave-on."

Segundo Bruna Duque Estrada, coordenadora do Departamento de Cabelos e Unhas da Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD), a indicação desse produtos não é consenso entre os médicos. Dessa forma, o resultado da pesquisa brasileira pode ajudar a embasar as prescrições. "(O estudo) traz um dado que ainda não tínhamos. A dermatologia, em geral, questiona muito a ação desses produtos, porque, muitas vezes, as pacientes usam o protetor térmico e abusam do secador e da chapinha, achando que, na verdade, isso pode proteger, e não é o que acontece", explica.

Novos produtos

Camila Vaz,  29 anos, passou a utilizar protetores para o cabelo depois que pintou os fios. "Sempre usei secador e chapinha, mas não me preocupava tanto. No início do ano passado, tive que fazer um corte químico porque fiz descoloração e o cabelo ficou muito debilitado. A partir desse momento, vi o quanto era necessário protegê-lo", conta. A servidora pública, que tem como paixão assuntos relacionados à cosmética capilar, saiu em busca de produtos que pudessem ajudá-la, pois não pensava em abandonar o secador e a chapinha. "Comecei a descobrir novos produtos, encontrei até shampoos que têm essa função de proteger termicamente. Utilizo o leave-in, géis de silicone e até sprays. Com isso, consegui evitar os danos e mantive o uso do  secador e da chapinha."

Para Cibele Lima, os resultados da pesquisa poderão facilitar a vida de consumidoras como a Camila, ajudando no desenvolvimento de soluções capilares mais específicas. "As indústrias poderão direcionar os produtos para cabelos quimicamente tratados e para cabelos virgens, por exemplo. Sabendo que o calor pode causar danos à estrutura interna dos fios, as consumidoras poderão utilizar o que dará melhor proteção, a depender de sua etnia e dos tratamentos anteriores, bem como a recorrência das intervenções estéticas", prevê. (VC)

Paixão nacional

"Nos últimos 10 anos, os estudos sobre cabelos melhoraram muito, principalmente com o advento de um exame chamado dermatoscopia capilar, que analisa profundamente o bulbo. Saber mais sobre os fios é importante, porque o Brasil se destaca como um dos países que mais se preocupam com o cabelo. No último congresso internacional em que estive, fiquei sabendo que as brasileiras têm 10 centímetros de cabelo a mais em relação à população mundial. Também sabemos que elas estão entre as que mais buscam tratamentos nessa área, perdendo apenas para as norte-americanas. Com essa pesquisa, vemos também como o cabelo afro é frágil, mas a maioria das pessoas olha para ele e pensa o contrário. Agora, foi mostrado que o cuidado com ele deve ser ainda maior", Alessandra Juliano, tricologista, 
especialista no estudo de pelos e cabelos e médica da Aepit Cabel, em Brasília 
 


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