MUDANÇAS Aquecimento global tem aumentado a quantidade de noites maldormidas Idosos e pessoas de baixa renda são os maiores afetados

Por: Correio Braziliense

Publicado em: 27/05/2017 10:56 Atualizado em: 27/05/2017 11:03

Os problemas gerados ao sono da população nesse período motivaram a investigação científica. Foto: Marcello Casal Jr/Agência Brasil
Os problemas gerados ao sono da população nesse período motivaram a investigação científica. Foto: Marcello Casal Jr/Agência Brasil

As mudanças climáticas têm provocado o aumento da temperatura de forma global, castigando extremamente o meio ambiente. Dentro das casas também há prejuízos. Pessoas podem ter a qualidade do sono comprometida pelo desequilíbrio nos termômetros. É o que mostram cientistas da Universidade da Califórnia em um estudo com 765 mil norte-americanos. Para a equipe, o resultado do trabalho, divulgado na última edição da revista Science Advances, serve de alerta para os impactos pouco usuais na saúde pública e para a necessidade de estratégias que impeçam o agravamento do fenômeno ambiental.

Outubro de 2015 foi um dos meses mais quentes da cidade americana de San Diego. Os problemas gerados ao sono da população nesse período motivaram a investigação científica. “Nossos amigos e colegas de pesquisa não dormiam bem à noite, era muito desagradável. Na época, eu estava trabalhando na análise de impactos gerados pelas mudanças climáticas em humanos. Nós investigamos e vimos que ninguém tinha examinado interrupções do sono como uma implicação potencial da mudança de clima”, conta ao Correio Nick Obradovich, pesquisador da Universidade da Califórnia e um dos autores do estudo.

Os cientistas analisaram dados de 765 mil norte-americanos coletados entre 2002 e 2011. O grupo havia respondido a um questionário da Pesquisa de Vigilância de Fator de Risco Comportamental, realizada pelos Centros de Controle e Prevenção de Doenças, que tinha perguntas sobre a qualidade do sono. Os investigadores compararam as noites em que os entrevistados relataram ter dormido mal com o registro da temperatura nelas e detectaram uma relação entre as noites maldormidas e as noites mais quentes do país.

Temperaturas noturnas que estavam 1ºC acima da média provocaram ao menos três noites maldormidas para cada 100 indivíduos no período de um mês. “O que o nosso estudo mostra não é apenas que a temperatura ambiente pode desempenhar um papel na interrupção do sono, mas também que a mudança climática pode agravar a situação, aumentando as taxas de perda de sono”, ressalta Obradovich.

Ar-condicionado 

Os efeitos do aumento da temperatura sobre o sono não foram distribuídos uniformemente nos grupos analisados. Pessoas com renda inferior a US$ 50 mil e idosos com ao menos 65 anos foram afetados mais severamente. No caso da idade, o impacto foi duas vezes maior que o registrado nos adultos mais jovens. Para o grupo de baixa renda, três vezes pior do que entre os indivíduos com melhor situação financeira. “As pessoas podem lidar com temperaturas excepcionalmente quentes aumentando a compra e o uso de ar-condicionado. Infelizmente, nas partes mais pobres do mundo, o acesso a esse equipamento é escasso”,  justifica Obradovich.

Neurologista do Hospital Brasília e não participante do estudo, Arthur Sousa conta que, de uma forma geral, os idosos têm mais problemas para dormir. “Não se sabe ao certo as razões, mas acreditamos que isso pode estar relacionado a algum desequilíbrio do organismo que influencie a regulação do sono. Talvez, ele seja até provocado por alguma doença”, cogita. “Já sabemos que pessoas que conseguem manter a temperatura abaixo de 40ºC conseguem dormir melhor. Essa relação é algo importante de ser abordada, já que as previsões são de que as temperaturas aumentem ainda mais”, complementa.

A equipe norte-americana também reforça a importância de o fenômeno ser mais estudado e discutido, até pelos prejuízos que vão além das noites perdidas. “O sono tem sido bem estabelecido por outros pesquisadores como um componente crítico da saúde humana. Pouco sono pode fazer uma pessoa mais suscetível a doenças crônicas e prejudicar o bem-estar psicológico e o funcionamento cognitivo”, alerta Obradovich. Arthur Sousa percebe essas complicações no consultório. “Um terço da população enfrenta problemas para dormir, e isso é algo preocupante, já que esses danos podem provocar problemas de saúde cardiovascular e diabetes, entre outros. Tenho muitos pacientes que me procuram e apresentam problemas cognitivos por causa do sono”, relata o neurologista.


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