Uma dica para evitar lesões é sempre fazer alongamentos nas áreas mais sobrecarregadas. Foto: João Velozo/Esp DP

Vivemos conectados ao mundo virtual quase 24 horas por dia. Muito graças ao celular, companheiro inseparável nos dias de hoje. No entanto, o uso excessivo de smartphones, tablets e outros aparelhos eletrônicos portáteis pode causar sérios danos à saúde. Se você sente dores na coluna ou pescoço constantemente, saiba que o culpado talvez esteja nas suas mãos.

A postura normalmente utilizada, de cabeça baixa e com os olhos voltados para baixo em direção à tela do aparelho é capaz de ocasionar dores e problemas em áreas como coluna, ombros, punhos e cotovelos. A dor se inicia no pescoço e desce até os ombros, deixando o indivíduo quase que impossibilitado de mover a cabeça. Além disso, a repetição de movimentos ao digitar mensagens também pode causar tendinites.


Um estudo do Centro Médico de Cirurgia Espinhal e Reabilitação de Nova York criou o termo "text neck" (ou "pescoço da mensagem de texto") para esse tipo de complicação, que tem como consequências a perda da curva natural da cervical e o desgaste precoce da coluna. Em alguns desses casos, é necessário até realizar uma cirurgia de reparo. Acostumada a aguentar o peso da cabeça (cerca de seis quilos, em um adulto), a coluna cervical recebe até 27 quilos extras a depender do grau de inclinação do pescoço, o equivalente a andar com uma criança de oito anos permanentemente sobre os ombros.

O coreógrafo Allan Delmiro chega a passar cerca de 15 horas diárias com o celular, pois também utiliza o aparelho nos estudos. Allan conta que sofre com dores no tórax e na coluna frequentemente. "As dores são intensas ao ponto de me deixarem 'travado' e passam quando faço uma pausa no uso do celular e faço algum exercício ou alongamento. Mesmo assim, há vezes que elas persistem e duram o dia todo. Já cheguei a passar semanas assim", relata ele.

O ortopedista Luciano Temporal ensina que é necessário ter muita atenção com a postura corporal durante o uso desses aparelhos. "Quando estamos sentados devemos apoiar os cotovelos sobre uma superfície e colocar o telefone à nossa frente sem abaixar a cabeça, deixando a mesma numa posição neutra", orienta. Entretanto, o especialista adverte que a medida apenas minimiza os problemas. “Nunca deixamos de correr riscos, até porque nossa atenção está voltada muito mais para o celular do que para nossa postura", alerta.

Uma dica para evitar lesões é sempre fazer alongamentos nas áreas mais sobrecarregadas durante a utilização dos celulares. Outra orientação é evitar longos períodos usando o celular - ou fazer intervalos, se isso for preciso. Em caso de lesões já detectadas, é possível tratá-las através da manipulação muscular (técnica em que os fisioterapeutas utilizam as mãos), alongamentos, RPG (Reeducação Postural Global), ou exercícios para fortalecer e alongar a musculatura corporal.

Conscientizar crianças pode evitar problemas no futuro
Engana-se quem pensa que os riscos estão presentes apenas na vida adulta. Ganhando celulares cada vez mais cedo, as crianças ficam expostas precocemente aos problemas causados pelo uso excessivo dos aparelhos. A auditora da Prefeitura do Recife Margarida Campello, mãe de Letícia, já se preocupa com a postura da filha quando ela está no celular ou tablet. Para evitar complicações, procurou uma clínica de fisioterapia para realizar uma reeducação na postura da menina.


"Minha fica cerca de 1 hora no celular e no tablet por dia. Eu e o pai dela tentamos controlar o uso desses aparelhos, e agora resolvemos prevenir possíveis problemas porque ela também passa muito tempo sentada na escola", afirma. Os exercícios já têm dado resultados. "Agora eu presto muito mais atenção quando faço algum movimento e sempre tento não baixar a cabeça quando fico no celular", conta a estudante de nove anos, que faz as sessões desde fevereiro.

A fisioterapeuta Andrezza Palmeira realiza um trabalho voltado especialmente para crianças na clínica dela, no bairro de Casa Forte, Zona Norte do Recife. O tratamento é feito com muitos aparelhos também utilizados em aulas de pilates. "Atuamos primeiro para corrigir a postura dos garotos. Em seguida, o objetivo é garantir o crescimento 'normal' do indivíduo, fortalecendo as áreas que se desenvolvem com a idade", explica.

A fisioterapeuta reitera que é muito mais fácil começar a reparar a postura de um jovem do que um adulto. Pensando nisso, ela e a irmã Andréa, também fisioterapeuta, desenvolveram um projeto que busca conscientizar as crianças sobre a importância de permanecer na posição correta nas suas atividades diárias. É o ABC da Postura, que atua desde março em escolas realizando atividades como palestras e dramatizações para orientar alunos e educadores.

"Abordamos tópicos como a forma de sentar nas cadeiras, o peso da mochila e o uso de celulares e aparelhos eletrônicos. Queremos instruir também os pais, que muitas vezes percebem que os filhos têm problemas mas não sabem o que devem fazer em seguida", explica Andrezza. Segundo ela, até mesmo um baixo rendimento escolar pode ser causado por erros na postura do corpo. "É comum ver as crianças dispersando sua atenção durante a aula porque não encontram uma posição certa ao sentar na cadeira", exemplifica.