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Boa para cálculo renal, quebra-pedra é também um ótimo analgésico

Pesquisadores brasileiros atestam que planta usada no tratamento de problema nos rins e vias urinárias tem poder 20 vezes maior que famoso remédio mundial, podendo ser usada ainda como antiespasmódico

Publicado: 14/10/2015 às 11:51

Equipe da Universidade do Vale do Itajaí de Santa Catarina analisou 12 espécies da Phyllanthus, que tem mais de 700 tipos no mundo. (Foto: Jair Amaral/EM/D.A Press)/

Equipe da Universidade do Vale do Itajaí de Santa Catarina analisou 12 espécies da Phyllanthus, que tem mais de 700 tipos no mundo. (Foto: Jair Amaral/EM/D.A Press)/

Equipe da Universidade do Vale do Itajaí de Santa Catarina analisou 12 espécies da Phyllanthus, que tem mais de 700 tipos no mundo. (Foto: Jair Amaral/EM/D.A Press)
Muito empregado no tratamento de cálculo renal, o popular chá de quebra-pedra tem uma importante ação antiúlcera, antiespasmódica e analgésica, concluíram pesquisadores de Santa Catarina. Segundo o estudo, a planta da espécie Phyllanthus apresentou uma eficácia 20 vezes superior à aspirina. Tal poder foi atribuído a substâncias químicas como flavonoides e taninos isoladas do quebra-pedra.

“Há 700 espécies diferentes do quebra-pedra no mundo. Estudamos 12 delas e confirmamos com modelos experimentais todos esses efeitos”, relata Valdir Cechinel Filho, vice-reitor e professor de pós-graduação, pesquisa, extensão e cultura da instituição da Universidade do Vale do Itajaí de Santa Catarina (Univali).

Responsável pela realização do estudo sobre a química, farmacologia e potencial terapêutico da espécie de planta Phyllanthus, Cechinel Filho conta que os trabalhos são desenvolvidos em parceria com a Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Ele enfatiza que a ação da planta sobre as pedras nos rins não é apenas crendice popular, mas vem sendo cientificamente demonstrada. “Uma das espécies mais estudadas é o Phyllanthus niruri, abundante em vários países, incluindo o Brasil. Para essa espécie, comprovamos sua eficácia para atuação direta em cálculos renais, tanto diminuindo o tamanho da pedra como relaxando o canal da uretra, o que facilita sua eliminação”, observa o vice-reitor da Univali.

Chá
Segundo Cechinel Filho, que recentemente apresentou o resultado do trabalho no 1º Congresso Mundial de Fitoterapia e no 4º Simpósio Ibero-americano de Fitoterapia, em Lima, no Peru, além de estudos pré-clínicos em animais, o efeito do quebra-pedra já foi amplamente confirmado em seres humanos, demonstrando que o uso de chá, especialmente do Phyllanthus niruri, é benéfico para o tratamento de afecções renais.

O extrato de Phylanthus niruri, de acordo com os pesquisadores, também normaliza os níveis altos de cálcio urinário, diminuindo a formação dos cálculos em pacientes, provavelmente por interferir nos primeiros estágios de desenvolvimento da pedra nos rins.

Conheça algumas plantas medicinais estudadas pela Universidade do Vale do Itajaí de Santa Catarina (Univali)

Sebastiania schottiana Muell. Arg. (Euphorbiaceae)
Conhecida como sarandi-negro, branquicho, branquilho ou simplesmente quebra-pedra, essa planta cresce nas pequenas ilhas das corredeiras do Rio Itajaíaçu, em Santa Catarina. É usada pela população como remédio para combater afecções renais e infecções.
Os extratos das partes aéreas da planta têm ação antiespasmódica em diferentes preparações in vitro, efeito relacionado à existência de uma substância chamada xantoxilina, presente com bom rendimento na planta. Essa substância, usada como protótipo, originou inúmeros derivados com importantes ações farmacológicas, como antiespasmódicas, analgésicas, antiinflamatórias e antifúngicas. Os estudos fitoquímicos realizados também com as raízes de S. schottiana revelaram ainda a presença de substâncias com notável ação analgésica em diferentes modelos de dor, identificados como o glutinol e a moretenona, mostrando-se várias vezes mais potentes do que o extrato bruto de alguns fármacos.

Epidentrum mosenii Rchb. F (Orchidacense)
Conhecida popularmente como orquídea-da-praia, a E. mosenii cresce na Região Sul do país, especialmente no litoral catarinense. É empregada para fins ornamentais e, algumas vezes, usada na medicina popular com finalidade terapêutica contra as patologias relacionadas aos processos dolorosos e infecciosos. Fazem parte da família Orchidacea várias plantas com diversificada ação farmacológica. Porém, os estudos relativos ao gênero Epidendrum são raros, e a E. mosenii foi investigada pela primeira vez pela Univali.

Buhinia splendens HBK (leguminosa) 
e Wedelia paludosa D.C. (compositae)
Planta nativa, encontrada em abundância em várias áreas da Mata Atlântica. É conhecida como cipó-unha-de-boi, escada-de-macaco ou escada-de-jabuti, por causa de sua casca. Amplamente empregada na medicina popular para combater diversas patologias, principalmente as associadas a processos infecciosos e dolorosos. Os estudos de laboratório demonstraram que ela possui princípios ativos que atuam como analgésicos e extratos contra distintas bactérias patogênicas, como Staphylococus aureus e Salmonella typhimurium.

Fitoterapia
O termo fitoterapia deriva do grego — phyton significa vegetal e therapeia quer dizer tratamento. Consiste no uso interno ou externo de vegetais para o tratamento de doenças, sejam eles in natura ou sob a forma de medicamentos. A prática de usar as plantas para a cura é tão remota quanto a mais antiga das civilizações: estudos arqueológicos em ruínas na região do Irã sugerem que há 60 mil anos elas eram empregadas para fins medicinais. Os primeiros registros de fitoterápicos datam da China, do período de 3.000 a.C.: foram catalogados, a pedido do imperador, 365 ervas medicinais e venenos no primeiro herbário de que se tem notícia.
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