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/Foto: AFP
Em cerimônia reservada à tropa e às famílias dos desaparecidos, o comandante-geral do CBMMG, coronel Edgard Estevo da Silva, e o chefe do Estado-maior da corporação, coronel Erlon Dias do Nascimento Botelho, discursaram afirmando que os esforços serão empenhados ao máximo, conta Josiana de Sousa Resende, de 32 anos. A enfermeira ficou comovida após acompanhar o lançamento da operação, que pode ser a chance de encontrar o corpo de sua irmã, Juliana Resende, que trabalhava na mineradora no momento em que a barragem se rompeu. “Saber da volta dos bombeiros é um conforto. Foram cinco meses de muita espera. Com a retomada, o nosso coração fica mais aliviado. A gente espera que consigam encontrar todo mundo”, disse.
A operação foi interrompida em 21 de março e, desde então, esse tempo foi de angústia para os parentes dessas joias – como são chamadas as vítimas ainda desaparecidas. “Um desespero. Como não tinha busca, a esperança do encontro ficava cada vez mais distante e isso machucava cada vez mais”, conta Josiana, ressaltando que a alegria fica nos sobrinhos gêmeos, hoje com 2 anos e 5 meses, que perderam a mãe em 25 de janeiro de 2019. “O que nos ajuda é poder conviver com eles.”
'Queremos fazer um enterro digno. Resta pra nós só isso, acabar esse ciclo de sofrimento. Com a retomada, a gente fica mais aliviada e esperançosa', disse Tânia Efigênia de Oliveira Queiroz, parente de uma das desaparecidas.
Tânia Efigênia de Oliveira Queiroz, de 48, chora ao se lembrar dos últimos momentos da prima Nathália de Oliveira, também funcionária da mine- radora. “Natália era uma moça muito trabalhadeira, muito estudiosa. Estava à procura de um serviço melhor, fez um curso com muita dificuldade e com isso conseguiu o estágio tão desejado, que era na Vale. Já tinha oito meses que estava lá e muito feliz. E aí acontece essa grande tragédia. Na hora, ela ouviu uns barulhos, estava com o marido em ligação e falou com ele que a terra estava tremendo. Quando viu a lama chegando, só gritou e pediu livramento de Deus”, conta a familiar.
Nathália é mais uma joia que ainda não foi encontrada. “Eu estou muito feliz com a volta dos bombeiros. Para nós, que somos da família, é uma angústia muito grande ficar nessa esperança. Queremos fazer um enterro digno. Resta pra nós só isso, acabar esse ciclo de sofrimento. Com a retomada a gente fica mais aliviada e esperançosa”, diz Tânia.
Os 11 desaparecidos
» Angelita Cristiano Freitas de Assis
» Cristiane Antunes Campos
» Juliana Creizimar de Resende Silva
» Lecilda de Oliveira
» Luis Felipe Alves
» Maria de Lurdes da Costa Bueno
» Nathalia de Oliveira Porto Araújo
» Olímpio Gomes Pinto
» Renato Eustáquio de Sousa
» Tiago Tadeu Mendes da Silva
» Uberlândio Antônio da Silva
Para os bombeiros, ponto de dignidade
A esperança por dignidade também direciona o rumo das buscas, segundo os bombeiros. “O que nos motiva até hoje é esse desafio para encerrar essa ocorrência e, principalmente, trazer o acalento e dignidade de volta aos familiares”, afirma o coronel Alexandre Gomes Rodrigues, responsável pela Operação Brumadinho. Equipes de reportagem não foram autorizadas a entrar na Base Bravo, local que abriga os oficiais.
Em um novo cenário, com solo mais seco e medidas de reforço sanitário em função da Covid-19, 60 bombeiros dão continuidade aos trabalhos atuando em seis frentes prioritárias após 159 dias de paralisação das varreduras. “Dissemos entre nós que o bombeiro não vai precisar atolar o pé na lama novamente como era feito antes, porque o terreno estará todo drenado, trazendo muito mais facilidade”, acrescenta Rodrigues.
De acordo com o Corpo de Bombeiros, as buscas estão sendo feitas a partir da escolha de seis áreas que serão priorizadas por meio de um estudo matemático de probabilidades, onde há maiores chances de serem encontrados corpos ou segmentos. A corporação deve utilizar equipamentos de geoprocessamento e programas específicos de análises de dados.
Os drones da corporação – conhecidos como “vespas” –, que eram usados anteriormente, também vão monitorar os trabalhos, e a princípio não haverá necessidade de utilização de helicópteros. As buscas contam também com apoio logístico da Vale. A mineradora disponibilizou maquinário pesado, como retroescavadeira, caminhões fora de estrada e tratores para escavação e movimentação de rejeitos.
Caso na Justiça
Em fevereiro, a Justiça acatou denúncia feita pelo Ministério Público de Minas Gerais, que defendia o julgamento de 16 pessoas – funcionários e dirigentes da Vale e da consultoria TÜV SÜD – por homicídio doloso duplamente qualificado no caso do rompimento de barragem da mineradora. A ação propõe a responsabilização por cada uma das 270 mortes. Os acusados também são réus por crimes contra a fauna, a flora e crime de poluição. As investigações indicaram que as duas empresas atuavam deliberadamente para esconder a situação de insegurança. Na ocasião, a Vale expressou “sua perplexidade ante as acusações de dolo” e destacou que confia no completo esclarecimento das causas da ruptura e reafirma seu compromisso de continuar contribuindo com as autoridades”.
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