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Teste rápido de coronavírus pode ajudar a pôr fim ao isolamento, dizem especialistas

Publicado em: 01/04/2020 10:34

 (Foto: Douglas Magno/AFP)
Foto: Douglas Magno/AFP
A promessa de um teste rápido para coronavírus é esperança para o fim do isolamento social. Isso porque o resultado do novo exame liberado pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) pode sair em até 30 minutos e identificar se a pessoas que já apresentaram sintomas de resfriados ou tiveram contato com infectados pelo Sars-CoV-2, o novo coronavírus, foram contaminadas. Se a pessoa testar positivo, teoricamente, está imune e livre para retornar às suas atividades, dizem especialistas.

No entanto, o novo método ainda não é utilizado em laboratórios privados de Belo Horizonte, que permanecem com o teste chamado RT-qPCR. Esse exame demora pelo menos dois dias para ficar pronto – com a alta demanda, o prazo tem aumentado cada vez mais. Mas cada um dos testes oferece vantagens e desvantagens (veja quadro).

A nova liberação da Anvisa se refere ao exame sorológico, também chamado de teste rápido, que detecta se a pessoa já produziu anticorpos contra o vírus. Ele analisa dois tipos de anticorpos, o IgM e o IgG. O IgM é o anticorpo que, quando está presente, mostra que a pessoa tem o vírus e seu sistema imunológico está produzindo anticorpos contra ele. O IgG positivo significa que a pessoa tem ou já teve contato com o vírus e já possui anticorpos que levam a uma possível resistência à COVID-19. Ou seja, o IgM indica infecção ativa e o IgG, anticorpos de imunidade.
 
Esse teste é feito com uma gota de sangue do paciente e fica pronto em 15 a 30 minutos. Entretanto, o paciente precisa esperar pelo menos sete a 10 dias após sentir sintomas de gripe ou ter tido contato com uma pessoa doente para que o resultado seja correto, pois esse é o tempo que leva para os anticorpos começarem a ser produzidos. Se feito antes desse prazo, o teste pode dar resultado falso-negativo, mas tem alta sensibilidade e especificidade se o período indicado já tiver transcorrido.

Atualmente o teste de RT-qPCR é realizado em maior escala. Ele é feito por meio da coleta de material da garganta e do nariz do paciente para detectar se a pessoa testada está com a infecção. Esse tipo de exame é capaz de detectar o vírus logo nos primeiros dias da doença; no entanto, o resultado pode demorar entre dois e seis dias para ser liberado.
 
Os testes sorológicos não analisam o material genético do vírus, mas, sim, a presença de anticorpos contra ele. Dependendo do resultado, o teste pode sugerir que a pessoa já teve contato com o vírus e se já desenvolveu resistência contra ele.
 
O médico oncologista André Márcio Murad defende que os testes rápidos sorológicos sejam usados primeiro para a população com risco de infecção diretamente ligado à sua atividade, como profissionais da saúde, policiais, bombeiros e trabalhadores de serviços essenciais. “Acho que o teste bem indicado e interpretado vai ser fundamental. A partir do momento em que o teste aponta que a pessoa está imune, ela tem passaporte para circular livremente”, defende Murad.
 
Sabe-se que o ser humano produz anticorpos contra vários patógenos, incluindo diversos tipos de vírus. Os estudos com o novo coronavírus ainda são muito recentes, mas acredita-se que a presença de anticorpos do tipo IgG indicaria uma possível resistência a ele. “Já houve testes em macacos, por exemplo, que adquiriram a imunidade ao Sars-CoV-2. Em estudos,  o soro de pessoas que se contaminaram e se curaram está sendo usado para tratar pessoas com quadros graves. Isso prova que a imunidade é inclusive passada adiante”, afirma o médico que é também pós-doutor em genética, professor da UFMG e pesquisador.

Impacto na economia 
Apesar disso, é importante ressaltar que o vírus pode sofrer mutação e futuramente pesquisadores tenham que voltar a estudar novos métodos de combate. Mas quanto ao micro-organismo que causou a pandemia, cientistas afirmam que ele é eliminado após o primeiro contágio. Essa é a premissa que faz a medicina se aliar à economia. “Minha sugestão como pesquisador, médico, professor e cidadão é que o governo disponibilize esses testes em massa. Se der positivo, a pessoa, teoricamente, não vai se infectar mais nem infectar outra pessoa. Essa é a vantagem da testagem em massa. Isso vai ter um impacto muito produtivo na nossa economia”, finaliza.
 
A reportagem do Estado de Minas consultou laboratórios da capital mineira que fazem o teste para a COVID-19. O Hermes Pardini informou que está validando metodologia para teste rápido, mas, “nesse momento”, a rede está “priorizando a realização dos exames de biologia molecular com a metodologia PCR, cuja demanda é muito grande em todo o país”. O resultado demora seis dias úteis e só é feito em domicílio e com pedido médico, custando R$ 298.
 
No Laboratório São Marcos também não é adotado o novo método.  No entanto, não é necessário pedido médico para a coleta e execução do exame PCR. O resultado sai em cinco dias úteis e pode ser feito em laboratório sob agendamento, custando R$ 290, que podem ser divididos em até seis vezes.

O Laboratório Personal Diagnósticos Moleculares de Precisão informou que vai oferecer ambos os testes, a partir da segunda quinzena de abril. Porém, devido ao momento e à grande procura, mais de 40% dos testes encomendados já foram reservados. A bióloga, PhD em Genética e diretora do laboratório, Juliana Carneiro defende que ambas as tecnologias são importantes para ajudar na detecção dos casos positivos.

“O teste molecular deve ser realizado em pacientes que apresentam os sintomas de forma grave ou branda. O teste rápido deverá ser aplicado às pessoas que tiveram sintomas gripais ou possuem contato com pacientes doentes e precisam saber se já possuem anticorpos e, com isso, voltar a trabalhar sem correr o risco de infectar outras pessoas”, explica a especialista.
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