INTERNET
Idosos conquistam as redes sociais e se tornam influenciadores digitais
Por: Renata Rusky
Publicado em: 03/11/2019 12:07
A população está envelhecendo. No Brasil, pessoas acima dos 65 anos já representam 14,3% dos brasileiros, ou seja, 29,3 milhões de pessoas, segundo dados do Ministério da Saúde. Ao passo que a sociedade fica mais velha, novas tecnologias surgem e, enquanto os nativos digitais as assimilam sem muito esforço, os idosos precisam correr atrás para aprendê-las.
Nesse contexto, há senhores e senhoras no Brasil — e fora dele — que estão fazendo sucesso nas redes sociais. Por diferentes motivos, jovens e mais velhos se interessaram pelos conteúdos deles. Ainda são poucos, mas eles podem incentivar mais pessoas a entenderem que internet e bom humor não são coisas só de jovem.
Dona Anna Peleja, 87 anos, é uma dessas influencers. Mais conhecida na família como Índia, por conta da origem paraense, ela inspirou vários netos a projetos ligados à internet. Três deles usaram as experiências com a avó para movimentar a rede e até alavancar os negócios. Em 2012, ainda no início da carreira, a neta Luísa Peleja, influenciadora digital, atualmente com mais de 100 mil seguidores no Instagram, tinha um blog e resolveu lançar a coluna Armário da vovó. “Eu tinha tanta roupa, que dava pra eu não repetir o ano inteiro”, conta Anna. “E ela só usava as mesmas”, emenda o neto Leonardo Peleja, professor de educação física.
Luísa escolhia alguma peça de dona Anna, vestia de uma forma moderna, repaginada, e depois era a vez de a avó colocar do jeito que costumava usar, mais tradicional. Então, tirava foto de ambas e postava, com algumas dicas. Fã de animal print, vovó Peleja começou a ser reconhecida na rua. “Eu não tinha paz. Aonde eu ia, me reconheciam. Mas era bom, porque eu gosto da fofoca e topo tudo. O que pedirem pra fazer, eu faço, pois também quero ajudar”, alegra-se.
Mais sucesso
Mais ou menos em meados de 2016, vovó Peleja inspirou outros dois netos com projetos relacionados à tecnologia. Leonardo já tinha um perfil no Instagram para divulgar seu trabalho e passar informações sobre exercício físico e estilo de vida saudável. Achou, então, que a avó era tão expressiva que seria possível criar conteúdos humorísticos com fotos dela e alternar com o que já publicava anteriormente. “Todo mundo gosta de cachorro, criança e idoso. É máquina de likes”, brinca Leonardo.
Dona Anna se diverte com o neto e conta que, às vezes, fica pensando: “O que será que ele vai aprontar na próxima?”. Da mesma forma que ela procura sempre relembrar o que comeu no café da manhã, no almoço e no jantar para “treinar o cérebro e manter as faculdades mentais”, Leonardo acredita que fazê-la decorar um texto ou outro ou falar alguma palavra difícil com a qual ela não está acostumada, como “Instagram”, é uma forma de fazer a cabeça dela trabalhar.
O conteúdo do neto alcançou ainda mais pessoas, e o reconhecimento na rua ficou maior. “Outro dia, eu estava sentada e um jovem ficou me olhando. Eu pensei: por que diabos ele está perdendo o tempo com uma velha como eu?”, brinca dona Anna. Depois, o homem voltou e perguntou se era a Índia, e disse que a conhecia da internet.
Vovó inspirou um negócio
E dona Anna não só aparece nas redes como sabe usá-las. Isso ela aprendeu com uma terceira neta, Paula Peleja. A experiência de ensinar a avó a usar o aplicativo do banco no celular e a conversar com bisnetos que ela ainda nem conhece pessoalmente inspiraram a neta a criar uma empresa que esclarece a idosos como usar a internet.
Paula estava concluindo um curso de marketing digital e precisava fazer um plano de negócios. “Não queria criar algo para deixar na gaveta, por isso tive a ideia fazer disso um negócio real. Montei então o Vovó Hi-Tech. Uni o que já fazia com a minha avó Anna e com alguns clientes para quem prestava consultoria em marketing. Ensinar está na minha essência. Sempre tive facilidade de aprender, e é bem engraçado como eu consegui transformar isso em algo mágico, que insere não só idosos e idosas, afinal, todos nós também temos nossas dificuldades. Criei, então, em 2016 um plano de negócios, com metodologia própria e fui desenvolvendo com a minha avó ao longo dos meses”, relata.
Ela vai à casa dos alunos, os ensina e os insere no mundo da tecnologia “levando pra casa deles um pouco mais de independência”. Segundo Paula, o que a maioria dos idosos querem aprender é mexer no WhatsApp, em redes sociais como Facebook, YouTube e Instagram, além de fazer operações bancárias, acessar e-mails, enviar pedidos médicos para clínicas e as funções básicas do celular, como deixar no silencioso e conectar no wi-fi. “Eu levo a liberdade para eles. Muitos não têm ajuda dos filhos nem das pessoas próximas. Além disso, ficam mais próximos dos parentes que moram longe”, afirma Paula.
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