Assassinato

Vídeo mostra delegado e agentes que atiram e matam policial em RR

Publicado em: 31/10/2019 20:05

O delegado e os agentes poderão responder por homicídio qualificado (Foto: Reprodução )
O delegado e os agentes poderão responder por homicídio qualificado (Foto: Reprodução )
Um delegado, três agentes da Polícia Civil de Roraima e outras duas pessoas se tornaram réus na última semana por envolvimento na morte de um policial rodoviário federal em abril do ano passado em Boa Vista.

O crime ocorreu em abril do ano passado, mas nesta semana circulou na cidade um vídeo em que os suspeitos aparecem disparando contra a vítima, que cai ao chão. Todos estão trabalhando normalmente.

Entre os que aparece nas imagens atirando está o delegado Paulo Henrique Tomaz Moreira. Ele foi escolhido, em março deste ano, pela gestão do governador Antonio Denarium (PSL) como diretor do Departamento de Operações Especiais (Dopes) da Polícia Civil, considerado um grupo de elite da instituição. Ele posteriormente foi exonerado e agora está lotado como titular na delegacia de proteção ao idoso.

O policial rodoviário Ivo Seixas Rodrigues, do Amazonas, chegou a Boa Vista na época para visitar a namorada, segundo a Polícia Federal. Ele se hospedou em um hotel no centro.

As imagens mostram o delegado Moreira e os agentes Eduardo da Silva Castro, Gilvandro Pascoal Alves e Raimundo Nonato Alves Teixeira batendo na porta do quarto. Ivo abre a porta e os agentes e o delegado disparam.

Na sequência, o policial rodoviário cai e se vê manchas de sangue no chão. Segundo o Ministério Público, ele foi morto por dois dos três tiros dados pelos suspeitos.

Outros agentes de colete chegam no local. A vítima é arrastada e levada para o Hospital Geral de Roraima, mas não resistiu e morreu na unidade, diz a PF.

Horas após o episódio, a Polícia Civil de Roraima disse, em nota, que o rodoviário participaria de organização criminosa, e que seria responsável por escoltar 19 kg de droga a Manaus para um traficante, preso durante a mesma ação que resultou em sua morte. Em versão anterior, chegou a dizer que eram 25 kg –não detalhou onde e como foram achadas.

Pelas informações desencontradas e após pedido da PRF, a Polícia Federal deflagrou a operação Farsa, que negou que Ivo estivesse envolvido no suposto tráfico de drogas.

Afirmou que ele foi morto por engano pela Polícia Civil na operação. O delegado e os agentes foram presos, mas logo foram soltos e ainda trabalham normalmente no órgão de segurança pública estadual.

O delegado e os agentes poderão responder por homicídio qualificado. Além deles, foram processados por fraude processual Nalmir Brito de Queiroz e Eric Bruno Falcão de Queiroz, –pai e filho, amigos do delegado, que, segundo a PF, teriam ajudado Paulo Henrique a forjar a apreensão de uma mala cheia de drogas na ação. 

Procurado, o governo de Roraima informou em nota que a corregedoria da Polícia Civil instaurou três processos administrativos disciplinares para averiguar se as condutas dos servidores no caso da morte de Ivo Seixas configuram infração funcional e violação de deveres enquanto agentes públicos.

Depois de mais de um ano da morte do agente federal, a denúncia foi aceita e o processo agora está na 1º Vara do Tribunal do Júri e da Justiça Militar de Boa Vista na última quarta-feira (23).

A peça corre na Justiça estadual porque o Ministério Público Federal entendeu que Ivo não estava em serviço quando foi morto, apesar de ser funcionário público da União.

O atual delegado-geral de Roraima, Herbert de Amorim, era corregedor da Polícia Civil quando Ivo Seixas foi morto. Ele chegou a afirmar que as informações partiram dos próprios agentes envolvidos no caso, e que as versões foram retiradas dos canais oficiais de divulgação.

DEFESA

A defesa do delegado Paulo Henrique Tomaz disse que se manifestará apenas no processo, postura que adotou quando o processo estava em segredo de justiça. Pediu providências referentes ao vazamento de informações à imprensa e que aguarda resposta do Poder Judiciário e do Ministério Público.

"Com fito de não influenciar a população com ilações ou intenções escusas, querendo denegrir a imagens de agentes públicos que combatem diuturnamente a criminalidade, e mesmo antes de exercerem seu contraditório e ampla defesa, a defesa corrobora o que todos os profissionais da área jurídica aprendem nos bancos acadêmicos, ou seja, o que é básico: que a atividade probatória se exerce no processo", disse em nota.

As defesas de Pascoal, Brito e Queiroz afirmaram que se pronunciarão sobre o caso somente nos autos do processo.

O agente Eduardo Castro disse, por telefone, que se manifestaria, mas posteriormente ignorou os pedidos de resposta. Todos os demais citados no caso foram procurados pela reportagem, mas não atenderam telefonemas e não retornaram contato. Os réus têm dez dias de prazo para apresentar defesa.

Sobre os agentes estarem trabalhando, o governo estadual afirmou que as esferas criminal e administrativa são independentes, cabendo à Polícia Civil se manifestar apenas sobre questões administrativas e que a legislação estabelece prazo para o afastamento, que teria sido obedecido pelo órgão. Perdas de cargos seriam efeitos de uma eventual condenação.

O irmão de Ivo Seixas, Ivon Rodrigues disse que aguarda uma decisão judicial idônea para o caso, que os envolvidos sejam punidos de acordo com a lei. Ele também afirmou que os envolvidos não deveriam continuar trabalhando porque são "completamente despreparados". "É absurdo o que fizeram [com Ivo]. Fazem a abordagem da forma que entendem e, se alguém morre, para eles tudo bem".
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