FLORESTA

Pressão internacional por solução para queimadas se intensifica

Publicado em: 25/08/2019 10:44

(foto: Shealah Craighead/The White House)
A pressão internacional por uma solução para as queimadas na Amazônia deve se intensificar, como indicou neste sábado (24) a abertura do encontro de cúpula do G7, que reúne as maiores economias do mundo, em Biarritz, na França. Anfitrião do encontro, o presidente Emmanuel Macron disse que uma de suas prioridades no evento é mobilizar “todas as potências” para combater o desmatamento e investir em reflorestamento. Em meio à crise diplomática instalada, o presidente Jair Bolsonaro disse que conversou com o chanceler Ernesto Araújo sobre a possibilidade de chamar para consultas o embaixador do Brasil na França, em um gesto diplomático que indica insatisfação com o governo do país europeu.

A situação das queimadas na Amazônia  foi incluída na pauta do G7 por sugestão de Macron, que foi seguido por outros líderes mundiais, como a chanceler alemã, Angela Merkel; o premiê Boris Johnson, do Reino Unido; e Justin Trudeau, do Canadá. A discussão pode ser motivo de divergências, já que o presidente americano, Donald Trump, estaria disposto a defender o Brasil. Ele ofereceu ajuda no combate às queimadas na Amazônia. O encontro acaba amanhã. 

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“A Amazônia é nosso bem comum. Estamos todos envolvidos, e a França está provavelmente mais do que outros que estarão nessa mesa [do G7], porque nós somos amazonenses. A Guiana Francesa está na Amazônia”, afirmou Macron, em cadeia nacional, no pronunciamento de abertura da cúpula.

“Vamos lançar uma mobilização de todas as potências que estão aqui, em parceria com os países da Amazônia, para investir na luta contra os incêndios que estão em curso e ajudar o Brasil e todos os outros países que são atingidos. Depois, investir no reflorestamento e permitir aos povos autóctones, às ONGs, aos habitantes desenvolverem atividades preservando a floresta, que nós precisamos”, acrescentou o francês. Segundo ele, a Amazônia “é um tesouro de biodiversidade e um tesouro para o clima, graças ao oxigênio que ela emite e ao carbono que ela captura”.

O discurso de que a Amazônia é um bem internacional é fortemente rejeitado por Bolsonaro e por outras autoridades brasileiras, como o presidente da Câmara, Rodrigo Maia, e o general Villas-Boas, assessor especial do Gabinete de Segurança Institucional (GSI). “Dói na alma ver brasileiros não enxergando a campanha fabricada contra a nossa soberania na região”, tuitou o militar.

Ontem, o presidente Bolsonaro voltou a demonstrar irritação por ter sido acusado por Macron de ter mentido sobre seus compromissos ambientais durante a cúpula do G20, em Osaka, no Japão. Com essa visão, o líder francês anunciou que se opõe à ratificação do acordo de livre-comércio entre o Mercosul e a União Europeia (UE).

As relações diplomáticas com a França estão arranhadas, como mostra a disposição de Bolsonaro de convocar o embaixador brasileiro em Paris para consultas. “Conversei com o Ernesto [Araújo, chanceler), estamos avaliando”, disse o presidente, admitindo essa possibilidade aos jornalistas, quando deixava o Palácio da Alvorada ontem, em Brasília, para um almoço no Palácio do Jaburu, residência oficial do vice-presidente, Hamilton Mourão.

Sobre se falaria com Macron, ele afastou essa possibilidade: “Depois do que ele [Macron] falou a meu respeito, você acha que vou falar com ele? Eu estou sendo muito educado, porque ele me chamou de mentiroso”.

O presidente disse que a média de  queimadas na Amazônia é inferior à dos últimos anos e está indo  para a normalidade . “A floresta não está pegando fogo como o pessoal está dizendo. O fogo é onde o pessoal desmata”, disse. Ele acrescentou que já foi iniciado o trabalho de combate aos focos de incêndio e reclamou da falta de recursos orçamentários. “É difícil ter recurso, tudo contingenciado. É o Brasil que eu peguei. Estamos em busca de fazer o melhor pelo meu país”, afirmou. Questionado se o governo não demorou a agir,  citou as dimensões continentais da região. “A Amazônia é uma área maior que a Europa. Se eu tivesse 10 milhões de pessoas, não conseguiria fazer a prevenção”, disse. A Agência Espacial Americana (Nasa) afirma que esta é a pior temporada de queimadas desde 2010. Segundo dados do Inpe, de janeiro a agosto, os satélites registraram o maior número de queimadas desde 2013.   
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No dia do início da reunião de cúpula do G7, em Biarritz, na França, jornais franceses e o italiano La Reppublica destacaram os incêndios em suas capas. Encontro termina amanhã.

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Recado da União Europeia 
O presidente do Conselho Europeu, Donald Tusk, defendeu, neste sábado (24/8), a ratificação do acordo entre a União Europeia (UE) e o Mercosul, mas ressalvou que, em razão das queimadas na Amazônia, e da postura do presidente Jair Bolsonaro, a conclusão do acordo pode não ocorrer de forma harmoniosa. Ele falou sobre o assunto durante entrevista coletiva antes do início da cúpula do G7, em Biarritz, na França.

“Apoiamos o acordo UE-Mercosul, que também implica a proteção do clima, mas é difícil imaginar uma ratificação harmoniosa pelos países europeus enquanto o presidente brasileiro permite a destruição dos espaços verdes do planeta”, afirmou Tusk.

Reino Unido, Alemanha e Espanha, no entanto, têm adotado um discurso mais cauteloso. “Há todo tipo de pessoa que usará qualquer desculpa para interferir no comércio e frustrar os acordos comerciais, e eu não quero isso”, disse, por exemplo, o premiê britânico, Boris Johnson, na reunião do G7. Em nota, o governo espanhol afirma será por meios das cláusulas ambientais do acordo comercial que se poderá avançar no tema.

Celebrado em junho, após 20 anos de negociação, o acordo ainda terá um longo caminho a percorrer para entrar em vigor. Ele precisa ser ratificado no parlamento europeu e pode precisar de aprovação dos parlamentos dos países do bloco, a depender de decisão da Comissão Europeia. Também no Mercosul, o arranjo comercial precisa da aprovação dos congressos nacionais. Na prática, significa que o acordo terá que ser aprovado pelos parlamentos dos 31 países envolvidos, uma tramitação que deve levar anos e enfrentar resistências, como já demonstraram França, Irlanda e Islândia.

O tratado de livre-comércio pretende eliminar tarifas de importação para mais de 90% dos produtos comercializados entre os dois blocos. O processo de redução de tarifas vai variar de acordo com cada produto e deve levar até 15 anos, a partir da entrada em vigor da parceria intercontinental.

Estimativas do Ministério da Economia indicam que o tratado poderá representar um aumento do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro, de US$ 87,5 bilhões em 15 anos. Se considerados fatores como a eliminação das barreiras não tarifárias e o incremento esperado na produtividade, o reforço no PIB poderá subir para US$ 125 bilhões.

Na reunião do G7, a “emergência climática” foi inserida no tópico “combate às desigualdades”, um dos três temas principais da cúpula, além da guerra comercial entre os Estados Unidos e a China, a desaceleração da economia global e segurança.

Para o professor Juliano da Silva Cortinhas, do Instituto de Relações Internacionais da Universidade de Brasília (Irel/UnB), o Brasil segue cada vez mais na contramão da tendência mundial em relação à preservação do meio ambiente. “Os possíveis efeitos para as exportações brasileiras têm relação com o padrão do comércio internacional nos últimos anos, que não é mais regulado apenas pelo lucro. De acordo com o especialista, tanto os países como os consumidores querem produtos com “origem limpa, que respeitem os princípios do desenvolvimento sustentável, originários de países com uma boa imagem internacional e com padrão de respeito ao meio ambiente”.  

 

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