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sequestro no rio

Alternativa tática foi a mais adequada e evitou mal maior, diz ex-capitão do Bope

Publicado: 20/08/2019 às 13:07

Foto: OTT/Reprodução/

Foto: OTT/Reprodução/

A ação do atirador de elite da Polícia Militar, que disparou e matou o homem que sequestrava um ônibus na ponte Rio-Niterói, foi um procedimento tático adequado à situação, diz Paulo Storani, ex-capitão do Bope (Batalhão de Operações Especiais), especialista em segurança pública.
 
O sequestrador, identificado como Willian Augusto Nascimento, 20, manteve o motorista e 36 passageiros do veículo como reféns por quase quatro horas. O sequestro começou por volta das 5h30 desta terça-feira (20).
 
Storani explica que há uma escala de alternativas táticas em casos do tipo. A primeira e principal aposta é a negociação, que neste caso foi encabeçada por policiais rodoviários e do Bope.
Ao longo de três horas, o sequestrador trocou mantimentos pela liberação de seis reféns: quatro homens e duas mulheres. 
 
Quando a negociação parece não estar levando ao desfecho do sequestro, a segunda opção é a utilização de artefatos explosivos (que não foi feita) e a terceira é o apelo ao sniper. Essas duas alternativas levam necessariamente a quarta, que é uma intervenção tática, ainda segundo Storani.
 
Quem dá o sinal verde para que o atirador de elite dispare é, neste caso específico, o comandante ou subcomandante do Bope, que assume o papel de gerente da crise, afirma o especialista. "A partir daí o policial espera o melhor momento para gerar o menor risco para os reféns."
 
Segundo Storani, a decisão não passa pelo governador. "Houve más experiências ocorridas no passado, com intervenções de políticos neutralizando medidas técnicas. Hoje, a corporação se blinda e resiste a tais pressões", explica. 
 
Ele diz o perfil do sequestrador pode ter determinado a ordem para disparos. Tal perfil, explica, é feito a partir das perguntas durante a negociação, das atitudes do criminoso e de informações coletadas com os reféns liberados. "Isso determina como vão evoluir as alternativas táticas", diz.
O porta-voz da PM, coronel Mauro Fliess, afirmou que todos os protocolos foram seguidos e a negociação foi difícil porque o sequestrador ameaçava incendiar o ônibus. Ele também disse que houve independência do gerente de crise em relação ao governo do estado. 
 
Após horas de cerco, por volta de 9h, o atirador de elite em cima de um caminhão disparou e fez um sinal de positivo, no momento em que o sequestrador sai do ônibus para se livrar de uma mochila. A corporação não confirmou quantos disparos foram feitos. 
 
A pistola que Nascimento usou no sequestro, segundo a polícia, era de brinquedo, mas ele também tinha uma faca, um taser (arma que dá choques elétricos), um galão de gasolina que ameaçou usar para atear fogo no veículo e chegou a jogar um coquetel molotov na direção dos agentes. Ele tinha passagens na polícia pelos crimes de estupro, porte ilegal de arma de fogo, tentativa de furto e violência doméstica.
 
Para Storani, uma operação concluída com sucesso é "quando todos são salvos, sem nenhum ferido". Mas, se não for possível, a prioridade é resgatar os reféns. A vida do sequestrador é considerada um "efeito colateral". 
 
"O procedimento técnico evitou um mal maior. Foi preciso tirar uma vida para salvar mais de 30 passageiros", diz ele. "A missão foi cumprida: salvar os reféns."
 
O governador Wilson Witzel (PSC) chegou ao local da ocorrência logo após a execução de Nascimento,  de helicóptero, e celebrou o desfecho. Ele determinou a promoção dos policiais envolvidos na ação, cujos nomes foram omitidos para evitar retaliações de criminosos.
 
Ações deste tipo são previstas no Código Penal, como legítima defesa de terceiros.
 
Até a conclusão desta reportagem, a polícia dizia não saber as motivações que levaram o suspeito a sequestrar o ônibus.

PASSO A PASSO DO SEQUESTRO
 
5h26
Willian Augusto Nascimento sequestra ônibus na ponte Rio-Niterói com 37 pessoas e obriga motorista a deixar o veículo atravessado sobre a pista
 
6h11
Sequestrador obriga uma das vítimas a entregar um celular para manter comunicação com os policiais durante a negociação
 
6h20
Primeiro refém é libertado
 
6h38
Segundo refém é liberado pelo sequestrador
 
7h
Terceiro refém deixa o ônibus
 
7h21
Quarto refém é libertado
 
7h58
Quinto refém deixa o ônibus
 
8h14
Sexta passageira é libertada, sai do ônibus, passa mal e cai nos braços de policiais
 
9h02
Tiros são disparados na ponte Rio-Niterói por snipers da PM
 
9h04
PM confirma que sequestrador é atingido por disparos
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