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Rompimento da barragem de Brumadinho causa insegurança em Itabira

Publicado em: 28/01/2019 08:15

O rompimento da barragem da mineradora Vale em Brumadinho (MG) causou insegurança para moradores de Itabira, onde a empresa tem grandes empreendimentos. Outra barragem, a de Itabiruçu, que tem capacidade para receber volume 18 vezes maior de rejeitos do que a barragem Córrego do Feijão, destruída na sexta-feira, passa por um processo de alteamento para receber rejeitos da Mina de Conceição, segundo a Prefeitura da cidade. Itabira é a cidade natal do poeta Carlos Drummond de Andrade (1902-1987), que tratou dos problemas da mineração em sua obra (veja  abaixo)

Com o tamanho mais robusto, os moradores e os políticos cobram por garantias da companhia sobre a segurança da barragem. A preocupação tomou conta das conversas nas praças do município e se espalhou pelas redes sociais, além de grupos de mensagens. Em novembro, durante audiência pública, a Vale apresentou o plano de aumentar para 850 metros a altura da barragem, que tem 835 metros. Segundo a mineradora, Itabiruçu tem capacidade para receber mais de 220 milhões de metros cúbicos de rejeitos. Em Brumadinho, a barragem que se rompeu tinha capacidade para 12 milhões de metros cúbicos.

“Diante de uma tragédia inesperada como essa, ficamos preocupados com nossa situação em Itabira. A Vale tem as barragens de Ponto, de Conceição e a maior de todas, que é de Itabiruçu. Passo na estrada em frente quase todo dia e o tamanho é impressionante. A construção está muito próxima de bairros e um rompimento aqui causaria um estrago inimaginável”, diz Heitor Tomás Ferreira, de 71 anos, que mora em Itabira há 52 anos.

Ex-funcionário da Vale do Rio Doce, quando ainda era estatal, ele critica a expansão dos projetos de mineração em busca de maior lucro e conta que nunca ouviu nada sobre plano de evacuação da cidade em caso de rompimento da barragem. “Não conheço nada sobre plano de emergência ou sirene avisando para deixarmos a cidade. Se existe algo do tipo, acho que pouca gente aqui tem conhecimento”, completa.

Por meio das redes sociais, o prefeito de Itabira, Ronaldo Magalhães (PTB), afirma que acompanha com preocupação a tragédia em Brumadinho e que, na próxima semana, vai pedir um diagnóstico sobre a situação das barragens da cidade. “Essa situação se tornou motivo de muita apreensão. O nosso município abriga duas das maiores barragens de rejeitos do Brasil. Cobrarei da direção da Vale novo diagnóstico sobre a situação das barragens”, diz o prefeito.

Vários moradores cobram do prefeito o cancelamento do projeto de ampliação da Barragem Itabiruçu. “Não adianta diagnóstico novo. Todos vão apontar as barragens como seguras. O que tem que ser feito é a interdição da obra de alteamento. Moro a menos de 500 metros da barragem. Essa será uma tragédia anunciada”, reclama Angela Maria, moradora da comunidade Rio do Peixe, em Itabira.

O secretário de governo, Ilton Magalhães, informa que, ao final do ano passado, quando aconteceram reuniões para discutir a ampliação da Barragem de Itabiruçu, a Vale deu garantias de que o local não corre risco de rompimento. “Eles nos garantiram que a barragem está segura. Mas isso foi na mesma época em que falaram que as barragens de Brumadinho também eram seguras. Depois desses episódios, ficamos na dúvida se essa garantia é real. Temos que cobrar uma reavaliação”, afirma.

Segundo ele, no ano passado, a empresa apresentou um plano de contingenciamento em caso de acidentes no empreendimento de Itabira, mas não sabe se os procedimentos foram implementados. “Não sei se o plano foi finalizado, mas foi discutido. Não sei se as sirenes foram instaladas. Mas, nesta semana, vamos intensificar as cobranças sobre questões de segurança”, diz o secretário.

Procurada pela reportagem, desde a manhã de ontem, a Vale comunicou que não poderia informar os detalhes sobre os empreendimentos em Itabira ou se foram instalados na cidade sistemas de alerta e evacuação.
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