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A gratidão é uma forma de se fazer enorme bem

Cientistas norte-americanos trabalham em pesquisa que aponta benefícios provocados pelo sentimento

Publicado em: 12/01/2018 07:02

Arte: Greg/DP
Ontem, lembraram-me que era o Dia Internacional do Obrigado e eu, que nunca ouvira falar na data, fui pesquisar sobre a origem. Nada de muito relevante, mas logo imaginei que deveria ter surgido a partir da visível ausência de gratidão numa sociedade enormemente necessitada dela. Sinal de que passou a preocupar o automatismo cotidiano e a indiferença de quem consegue apenas olhar para o próprio umbigo, isto é, a maioria. No elevador, na primeira descida para compromissos no próprio bairro, gente com os olhos enfiados no celular ou olhando disfarçadamente para objetos como chaves e bolsas, sem a menor disposição para dizer ao menos bom dia. No quarto andar, a porta abriu-se para uma jovem com duas malas, que eu, sem perguntar, ajudei a transportá-las para dentro da caixa de metal. O “obrigada” saiu tão de má vontade que só poderia ser interpretado, não ouvido claramente. Na saída, a mesma coisa – gratidão quase inaudível, pedindo tradutor. Os outros ocupantes dispararam lá de dentro rumo aos seus carros como se houvessem ganho uma carta de alforria desobrigando-os de ser gentis.

Nunca consegui entender porque gestos mínimos de educação demandam tanto esforço, mas não pretendo aqui me colocar como suprassumo da cordialidade, enfatizando o que sobra em mim e falta em muitos. Se falo em gratidão, educação, gentileza e coisas do gênero, é apenas porque tudo deságua em uma questão comum, que diz muito de nós como povo. Como podemos despontar no continente como os habitantes mais simpáticos, se não conseguimos nem dizer obrigada com todas as letras, coração e consciência? E de onde vêm estas pesquisas, que desejam ser levadas a sério sem qualquer questionamento por parte de quem as lê? De fato, num mundo empurrado por tantas, ficamos sempre a meio caminho da verdade, embora tenha a ciência para tentar convencer através de meios e mecanismos mais sérios. Neste caso, convencer sobre a importância e o que está ao redor da gratidão, que é o que nos falta e interessa.

Para a Sociedade Brasileira de Inteligência Emocional (ABIE), esse sentimento gera emoções positivas, fortalece a relação com as outras pessoas e com a própria vida, além de funcionar como escudo contra energias perturbadoras. É a partir dela – que naturalmente estimula a compreensão sobre os outros – que se desenvolve um olhar maduro e sereno para as pequenas coisas do cotidiano. Ou seja, a gratidão, antes de ser boa para quem é alvo dela, é extremamente benéfica para quem a sente. Não apenas isto: pesquisadores da Universidade de Indiana (EUA) concluíram, há dois anos, que se sentir grato em relação àquelas tais pequenas coisas pode causar mudanças expressivas inclusive em nível cerebral. Além disso, quanto mais praticada mais bônus gera em termos de satisfação pessoal.

Mesmo os pesquisidores considerando-se ainda em nível inicial quanto às investigações sobre como a gratidão nos afeta, não resta dúvidas de que ela nos melhora substancialmente como indivíduos. Daí porque o Dia Internacional do Obrigado precisa ser todos os dias, como estímulo a que reconheçamos o esforço/contribuição do outro na tentativa de nos proporcionar alguma alegria ou benefício. Assim, da próxima vez que encontrar pessoas sisudas ou ensimesmadas no caminho, seja em qual dia for, prometa abusar do “obrigada” e da paciência quando não ouvi-lo. Como disseram os cientistas, insistir na frase só pode mesmo gerar alegria em mão dupla.
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