Educação Vice-diretor acusado de humilhar aluno diz que denúncias são jogo político A professora que dava aula na hora do ocorrido competiu com Jordenes da Silva no mês passado pelo cargo de diretor do Centro de Ensino Fundamental Arapoanga

Por: Correio Braziliense

Publicado em: 09/12/2016 21:13 Atualizado em:

Quatro dias após o incidente envolvendo suposta humilhação de aluno de 13 anos por parte do vice-diretor, o acusado, Jordenes da Silva, conversou com o Correio e declarou que o garoto pode ter sido usado em uma briga política. O incidente ocorreu na última segunda-feira, no Centro de Ensino Fundamental Arapoanga (Cefa). O adolescente teria sido obrigado a andar pelos corredores da escola descalço depois de o vice-diretor ter recolhido os chinelos que ele usava. 

O incidente  foi publicado em um vídeo na internet, onde o menino estava de cabeça baixa e chorava. “A professora que ministrava a aula no momento que o episódio aconteceu concorreu comigo no mês passado pelo cargo de diretor da gestão que começa em 2017, mas acabou perdendo”, explica.

Na versão do vice-diretor, Jordenes diz que não sabia quem era o dono da sandália, e que o fato teria ocorrido durante uma aula de Promoção de Saúde. “Estava fazendo ronda pelo colégio e, ao passar pelo pátio, vi quatro alunos fazendo algazarra com uma bolinha feita de papel e fita crepe. Fui ao local, recolhi a bolinha e avistei um par de sandálias, que peguei e, antes de levar à direção, falei que o aluno que fosse dono dos calçados deveria ir na direção recolher os itens”, afirmou.  
 
Segundo o vice-diretor, qualquer professor pode recolher, temporariamente, qualquer objeto que esteja inviabilizando a harmonia do ambiente escolar, e foi o que ele reconhece ter feito. “Em momento algum eu humilhei o aluno por estar usando calçados, pois a própria mãe relatou que o aluno já havia usado sandálias para ir ao colégio antes, e qualquer pessoa que andar pelo pátio do Cefa vai ver que existem alunos que vão à aula de sandália normalmente”, disse. A mãe do aluno confirmou que não foi a primeira vez que o garoto foi a escola de sandália e que ele nunca havia sido repreendido por isso.  
 
O aluno relatou que ficou descalço no intervalo porque estava brincando de futebol com uma bolinha de papel. “Estava com a sandália na mão. Aí, coloquei no chão para calçá-la e, nesse momento, o Jordenes pisou no meu pé e levou a sandália para a direção. Quando tentei pegar de volta, ele disse que, já que eu gostava tanto de andar descalço, que eu fosse para a sala assim mesmo”, conta. O menino chorou ao ouvir as risadas dos alunos. “Fiquei com muita vergonha. Assim que cheguei à sala, abaixei a cabeça e fiquei chorando, mas os meus amigos me defenderam e falaram para eu não ficar triste”, conta.

Após recolher a sandália, por volta das 12h40 de segunda-feira, Jordenes foi à Regional de Ensino de Planaltina. Ao voltar para a escola, por volta das 15h50, foi surpreendido pelo conselheiro tutelar, que o deu voz de prisão. “Quando cheguei, toda a confusão já estava armada. O conselheiro entrou na escola sem autorização e retirou o aluno de sala sem autorização. Quando cheguei, perguntei o que estava havendo e ele me respondeu dizendo que não precisava me explicar, que eu estava preso e que iria ficar até dois anos atrás das grades”, alega. 

Vídeo
O vídeo que viralizou na internet é filmado de cima, o que, na avaliação do vice-diretor, indicaria que a gravação foi feita por um adulto. “Mesmo que não tenha sido ela a fazer a gravação, teria sido realizada em uma aula ministrada por ela, a responsabilidade sobre o que acontece na sala, era dela. E até agora não vi ninguém reclamando do ato de alguém gravar uma criança sem autorização dos pais e colocar o vídeo na internet, expondo o menor”,  relata. 
 
A Divisão de Comunicação da Policia Civil (Divicom), declarou que o delegado-chefe da 31ª Delegacia de Policia, Marcory Mohn, recebeu, nesta sexta-feira, cópia do vídeo, e que vai analisá-lo para ver o conteúdo integral. "Há suspeitas de quem foi o autor da gravação. A perícia só será acionada se não for possível confirmar a autoria. Em se confirmando, será apurada qual a responsabilidade do autor na propagação do vídeo".
 
Nesta sexta-feira, Jordenes voltou ao trabalho. “Minha vida virou de cabeça para baixo e temo que, agora, por uma confusão, todo meu trabalho profissional de 18 anos seja destruído. Ninguém quer saber da minha versão, estão querendo fazer comigo o que fizeram com os donos da Escola Base em São Paulo”, destaca Jordenes, referindo-se a caso emblemático em que integrantes da direção do colégio foram acusados de abuso sexual e, depois, inocentados.
 
O caso está sendo investigado pela Corregedoria da Secretaria de Educação. Se ficar provado que o professor cometeu excessos, será aplicada uma punição, que varia de suspensão de até 90 dias a perda do cargo. Procurada pela reportagem, a diretora do Cefa, Eunice Correia, ainda não se manifestou sobre a versão do vice-diretor. A secretaria da escola aguardava a autorização da professora acusada pelo vice-diretor para enviar o contato dela à reportagem.


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