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Turistas podem ser escravocratas por um dia no Rio, diz jornal

O problema seria a semelhança que os passeios querem passar para o público

Publicado: 09/12/2016 às 15:55

Quem recebe os turistas é uma das bisnetas do coronel Lemos, Elizabeth Dolson. Foto: Internet/Reprodução/

Quem recebe os turistas é uma das bisnetas do coronel Lemos, Elizabeth Dolson. Foto: Internet/Reprodução/

Quem recebe os turistas é uma das bisnetas do coronel Lemos, Elizabeth Dolson. Foto: Internet/Reprodução
Circuitos de um dia no Vale do Café estão dando o que falar. A partir de dezembro começam a ser realizados no Rio de Janeiro um roteiros de férias em fazendas que foram responsáveis pela maior produção de café do país. Dentro do roteiro estão 13 empreendimentos turísticos entre fazendas históricas.O problema seria a semelhança que os passeios querem passar para o público.

O The Intercept Brasil trouxe um artigo ressaltando o racismo por parte dos organizadores do evento. Não é novidade que durante a época da cafeicultura os negros eram escravizados pelos donos das terras. Em um dos vídeos de divulgação, o da Fazenda Santa Eufrasia, construída a partir de 1830, quem recebe os turistas é uma das bisnetas do coronel Lemos, Elizabeth Dolson. Vestida com roupas de época, ela apresenta toda a estrutura do lugar, com direito até a um café feito na própria fazenda, servido por mulheres negras vestidas de mucamas.

Anteriormente o Mapa de Cultura do Rio de Janeiro informava o roteiro, mas depois da repercussão negativa a busca no site aparece como inválida.

Em nota, a Fazenda Santa Eufrasia informou que:
Foi publicada no dia 06 de dezembro, no site The Intercept, a matéria com o título: Turistas podem ser escravocratas por um dia em fazenda “sem racismo”, narrando a experiência que a jornalista Cecília Olliveira teve em visita à Fazenda Santa Eufrásia durante recepção turística que é conduzida pela proprietária, Beth Dolson.

Em seu artigo, a jornalista teve uma percepção incomum acerca das experiências relatadas pelos milhares de visitantes que por aqui passam, fruto de um trabalho responsável e feito de maneira coletiva há anos na região, visando o resgate da história e da cultura do Vale do Café.

Estamos falando da região que foi o centro da economia no século XIX, a maior produtora de café do país. O lado triste dessa história é que toda riqueza desse tempo foi construída com base no trabalho escravo, de um povo sofrido, que teve sua vida reduzida a horas e horas de esforço, castigos e poucos momentos de descanso.

A recepção feita na Santa Eufrásia é o retrato de uma época, que se materializa a partir da encenação teatral com elementos da cultura, das danças, da música, das vivências e do relato de histórias que não podem ser esquecidas. A história contada de forma lúdica leva os visitantes a refletirem sobre a época em todos os aspectos, e a experiência vivida desperta diversas emoções. Esse é um dos princípios do turismo de experiência e lamentamos que apenas aspectos negativos possam ter sido sentidos e relatados pela autora da matéria.

Lamentamos mais ainda que o trabalho tenha sido associado com práticas racistas e escravistas, sendo que repudiamos qualquer tipo de ação relacionada a esses temas, já que justamente lidamos diariamente com o peso e as marcas desse triste período da história.

É injusto e questionável que uma única visão possa se perpetuar como verdade absoluta para diversas pessoas que nunca estiveram ou presenciaram as visitas na Santa Eufrásia. Essa imagem errônea denigre o trabalho de mais de 15 anos que vem sendo desenvolvido como parte do fortalecimento do turismo regional, oferecendo uma reflexão social a partir da experiência turística que, dentre diversas potencialidades, também cria oportunidades em seu entorno, fomentando a economia criativa.
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