Punição Condenação de lutador por morte de bebê traz alívio aos avós Agora, família quer que Daryell Dickson de Menezes Xavier assuma a dívida referente à internação do bebê em um hospital particular

Por: Maryna Lacerda

Publicado em: 19/06/2015 08:59 Atualizado em:

Márcia e Márcio Estrela querem agora que condenado pague pelos dias de internação do neto. (Foto: Minervino Júnior/CB/D.A Press)
Márcia e Márcio Estrela querem agora que condenado pague pelos dias de internação do neto. (Foto: Minervino Júnior/CB/D.A Press)

A condenação de Daryell Dickson de Menezes Xavier, 26 anos, pelo assassinato de Miguel Estrela, então com 1 ano e 11 meses, encerra o ciclo de um ano e dois meses de revolta, mas não aplaca a dor da família pela perda da criança. A partir de agora, os avós se preparam para uma segunda etapa de luta: a cobrança, na Justiça, para que o acusado ou a família dele assuma as dívidas decorrentes das 48 horas em que Miguel esteve internado na unidade de terapia intensiva, em um hospital particular de Taguatinga.
A família reconhece a rapidez com que o processo se desenrolou. “Foi rápido para o modelo do Brasil, mas foi demorado, dolorido, ansioso para nós”, conta a avó materna de Miguel, Márcia Valéria Baptista Estrela, 45 anos. Para ela, a mobilização nas redes sociais foi fundamental para que o acusado fosse julgado um ano após o crime. “A gente se manifestou, não teve vergonha. A indignação e a revolta são tão grandes que temos que nos movimentar. Se a gente se cala, é como se a gente se acovardasse”, diz.

Márcia conta que as horas finais do julgamento foram as mais difíceis, pelo cansaço e pelo receio de que Daryell fosse absolvido. “Eu estava tranquila até o momento em que o promotor pediu a réplica (após as etapas de sustentação oral da acusação e da defesa)”, lembra. Até aquele momento, já corriam 13 horas de debate. “O promotor me disse que pediria a réplica porque ainda havia a chance de Daryell ser absolvido. A partir daí, eu chorei muito”, conta.

Ao todo, foram 16 horas de julgamento. Os procedimentos começaram às 9h de quarta-feira e vararam a madrugada de ontem. Somente após a 1h, saiu o veredito: Daryell foi considerado culpado pelo homicídio duplamente qualificado — por motivo fútil e por impossibilidade de defesa da vítima — e setenciado a 22 anos e 8 meses. Destes, 13 anos em regime fechado, por ser reincidente. Agora, ele passa do Centro de Detenção Provisória para a Penitenciária do Distrito Federal, ambos no Complexo da Papuda.

A acusação por estupro de vulnerável que constava contra Daryell foi retirada por decisão do juiz João Marcos Guimarães Silva. Apesar de a equipe médica que acompanhou Miguel ter identificado manchas arroxeadas na região anal da criança e laudos do Instituto Médico-Legal (IML) confirmarem fissura anal, os advogados de Daryell conseguiram uma outra avaliação médica, que descartava a hipótese. Esse documento foi considerado válido e, a denúncia, retirada. “Para nós, foi um absurdo. Todas as suspeitas recaíram sobre ele quando a equipe médica nos falou da fissura anal”, comentou a avó.

Condenação conquistada, Márcia explica que o momento agora é de recolhimento. “Estamos no momento de acomodação após todo o desgaste desde a morte de Miguel. Esperamos demais por esse momento”, explica. O avô conta que a perda é irreparável, mesmo com a justiça feita. “Miguel era meu companheiro de esporte. Adorava caiaque. Não tenho mais a presença dele”, lamentou. Márcia, por sua vez, avalia que, apesar da condenação pelo júri popular, o caso não finalizou. “Sei que a defesa de Daryell vai recorrer da decisão”, diz. Além disso, ela se prepara para mais uma batalha judicial. Eles lutam para que a família do réu se responsabilize pelo pagamento dos custos da internação de Miguel. “Nosso neto estava saudável e, se não fosse o que ele fez, ele ainda estaria entre nós”, afirma.
 
Entenda o caso
Agressões e denúncia

Miguel Estrela tinha 1 ano e 11 meses quando deu entrada desacordado e com sinais vitais fracos na emergência do Hospital Anchieta, em Taguatinga, em 27 de março do ano passado. O diagnóstico foi de edema cerebral e hemorragia, causados por traumatismo cranioencefálico. A criança morreu dois dias depois, após uma parada cardíaca. A equipe médica da unidade de saúde suspeitou de maus-tratos e abuso sexual em razão das manchas pelo corpo da vítima e por causa de uma fissura anal. Diante disso, denunciou o caso à Polícia Civil. Daryell Dickson de Menezes Xavier, 26 anos, fugiu e se apresentou às autoridades uma semana depois do espancamento do enteado.


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