Brasil
Direitos Humanos
Perseguidos, curdos fogem do Iraque e se refugiam em Brasília
Embaixada do Iraque no Brasil conseguiu um apartamento para abrigá-los temporariamente
Publicado: 20/05/2015 às 09:23

"Nossa cidade acabou. Ela era linda, tinha prédios e construções bonitas. Acabou tudo. Por fim, vivíamos em campos de refugiados", Hasan Qasim Hassoon, 33 anos. (Foto: Daniel Ferreira/CB/D.A Press)/

A televisão ligada no canal de notícias escancara o horror da guerra na terra natal, o Iraque. Na tela, as cenas de explosões e ofensivas militares reproduzem aquilo que Hasan Qasim Hassoon, 33 anos, e mais cinco conterrâneos assistiram a poucos metros deles, nos últimos meses. O grupo deixou a cidade de Sinjar por serem curdos, minoria social e religiosa no país. Lá, eram perseguidos políticos. Para fugir da morte, eles cruzaram fronteiras do Iraque, da Turquia e do Brasil. Tentavam chegar à Alemanha pela Argentina, mas os passaportes albaneses ilegais — descobertos no Aeroporto Internacional Juscelino Kubitschek — interromperam a travessia.
O grupo foi preso em flagrante, em março deste ano. Tão logo conseguiram explicar aos defensores públicos a trajetória — a comunicação é difícil, pois somente um deles fala inglês —, tornou-se evidente a situação de insegurança em que estavam. No grupo, estão três irmãs, um sobrinho, Hasan e a irmã. Todos ficaram quatro dias na carceragem da Polícia Federal até que a Embaixada do Iraque no Brasil conseguisse um apartamento para abrigá-los temporariamente, no Sudoeste. Seria o primeiro teto sem ameaça de bomba em que dormiriam, depois de dias de fuga. “Passamos uma semana sem comer nem beber água, escondidos nas montanhas”, relembra Hasan. O Estado Islâmico ocupa o território iraquiano e destrói tudo por onde passa. “Nossa cidade acabou. Ela era linda, tinha prédios e construções bonitas. Acabou tudo. Por fim, vivíamos em campos de refugiados”, conta o homem.
Ele quer desesperadamente reencontrar a mulher e os dois filhos, que estão na Alemanha. “Não os vejo há oito meses. Minha esposa foi com eles primeiro. Estou preocupado porque meu filho tem paralisia cerebral e minha bebê é muito pequena ainda”, revela, emocionado. Os demais companheiros também têm vínculos na Europa. “Temos irmãos e irmãs, sobrinhos e cunhados na Holanda e na Suíça. Queremos uma vida nova”, diz. A situação dos imigrantes é delicada, uma vez que foi aberto um processo criminal em razão dos passaportes ilegais. Por isso, a concessão de refúgio é fundamental na defesa deles. “A legislação internacional determina que, quando o processo criminal é ligado ao refúgio, ele deve ser suspenso”, explica a defensora pública Manoela Maia. “A decisão agora cabe ao Conselho Nacional para Refugiados (Conare)”, destaca.
Regularização
No início do mês, os seis receberam identidades provisórias e iniciaram o processo de regularização no país. Eles estão instalados em um apartamento simples de três quartos alugado pela Embaixada do Iraque. A medida facilitou a soltura deles. “Ficamos muito felizes com o apoio da embaixada porque, em casos como esse, há a dificuldade de soltura por causa da ausência de residência fixa”, salienta. Como a situação deles ainda é incerta, ninguém tirou Carteira de Trabalho ou retornou aos estudos. “Não temos dinheiro algum. Só temos a ajuda da embaixada e do governo brasileiro”, conta. A vontade deles ainda é chegar à Europa, apesar das dificuldades. Consciente, Hasan sabe que não pode retornar ao país de origem “Se voltarmos, eles (terroristas do Estado Islâmico) nos matam. É desesperador ver o que eles fazem”, afirma. As fotos do horror guardadas no smartphone do iraquiano demonstram a aflição constante. “Ainda temos familiares lá e nos preocupamos como eles estão”, lamenta.
Últimas

Mais Lidas
