Por: Luiz Ribeiro
Publicado em: 16/01/2015 10:52 Atualizado em:
Pescador Josué Reis da Costa caminha no leito seco do rio em Pirapora e mostra que o nível deveria estar com pelo menos 1,5 metro de profundidade. Foto: Aparício Mansur/EM/D.A. Press |
Pirapora – O Rio São Francisco deveria estar com seu volume elevado ou pelo menos no seu leito normal nesta época do ano, mas a estiagem mantém o nível do manancial muito baixo. As consequências são drásticas em Pirapora, no Norte de Minas. Sempre muito movimentada no verão, desta vez, a cidade sofre com a falta de visitantes. O Balneário das Duchas do Velho Chico, principal atração turística da cidade, está praticamente seco. Enquanto comerciantes e pescadores reclamam do prejuízo, toda a população está preocupada, porque nunca viu o rio tão vazio em janeiro, e espera dias piores no segundo semestre. Em plena temporada que deveria ser de chuva, a situação já é crítica.
Josué Reis da Costa, de 73 anos, um dos mais antigos pescadores de Pirapora, está apreensivo: “Se não chover, quando chegar setembro, a água do São Francisco vai diminuir mais ainda e ficarão somente aqueles poções no meio do leito, sem condições de navegar”.
Na semana passada, Josué percorreu o rio de barco por cerca de 70 quilômetros no sentido Pirapora/Três Marias. “Tive de descer e andar dentro do rio, empurrando o barco, mais de cinco vezes”, conta o pescador, depois de caminhar no leito seco, próximo à histórica Ponte Marechal Hermes, entre Pirapora e Buritizeiro. O local, hoje vazio, deveria ter um nível de água com pelo menos 1,5 metro de profundidade nesta época do ano, segundo ele.
Ele complementa a renda transportando barcos de pescadores e turistas pelo rio em janeiro, mas agora a realidade é outra. “Eu mesmo estou deixando de fazer os passeios, falando às pessoas que não compensa porque o rio está vazio.
Velhas
Pirapora, de 51 mil habitantes, a 375 quilômetros de Belo Horizonte, é a primeira cidade abaixo da Usina Hidrelétrica de Três Marias e, por isso, sofre diretamente os efeitos da diminuição do volume de água liberado pela represa, cujo reservatório, hoje com 10,50% da capacidade, tem vazão de 122 metros cúbicos por segundo.
A 15 quilômetros de Pirapora, fica a foz do Rio das Velhas, que também é abastecido pela chuva da Região Metropolitana de Belo Horizonte, onde começa a ser formada a bacia. Mas o volume do Velhas próximo ao seu ponto de encontro com o Velho Chico (distrito de Barra do Guaicuí, município de Várzea da Palma) também está reduzido.
“Estamos no período da piracema, época da reprodução dos peixes. O problema é que os peixes, para se reproduzir, precisam de grande volume de água, para que possam subir o rio e desovar. Como o nível da água está muito baixo, eles não desovam”, afirma o pescador Heberty Rodrigues Castro, de 35.
Outro morador impressionado com a baixa vazão do rio é o aposentado Adalberto Nunes Santos, de 52, que durante mais de duas décadas trabalhou no rio como funcionário da antiga Companhia de Navegação do São Francisco (Franave). Ele recorda que o rio ficou muito baixo durante a grande estiagem de 1971 e 1972. “Mas, desta vez, está pior. Nunca imaginei que o São Francisco fosse chegar numa situação dessa, ainda mais nesta época do ano. O aposentado chama a atenção para a necessidade de contenção da retirada de matas ciliares para interrupção do assoreamento do São Francisco.
Navegar não é possível
Um dos trabalhadores do Benjamin Guimarães, Carlos Henrique da Silva Souto, de 61, diz que, além da tristeza de ver o vapor parado, fica muito desolado com a situação em que se encontra o Velho Chico. “O rio está muito baixo. A gente fica pensando como ficará este rio quando chegar setembro, na época da seca brava mesmo. Somente Deus para dar jeito e mandar chuva”, afirma Carlos Henrique.
O marinheiro disse que não apenas pessoas que trabalham em embarcações, como ele, mas todos os moradores ribeirinhos estão chocados com a redução drástica do nível da água no Velho Chico. “Já vi muitas pessoas chorando por causa dessa situação triste do São Francisco. É muito doído a gente ver o rio tão vazio”, reclama Carlos Henrique, que trabalha na bacia há mais de 30 anos.