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Israel vai controlar Gaza e evitar fome 'por motivos diplomáticos'

Benjamin Netanyahu afirmou que tem o objetivo de "prosseguir com a guerra" ao decidir tomar controle de Gaza

Por AFP

 AFP
Palestinos deixando a faixa de Gaza após lsrael ordenar a evacuação. AFP

Israel tomará "o controle" de toda Gaza e evitará a fome no território palestino "por razões diplomáticas", para assim prosseguir com a guerra, afirmou o primeiro-ministro, Benjamin Netanyahu, após a intensificação da ofensiva contra o Hamas, que deixou 91 mortos nesta segunda-feira (19).

Após mais de dois meses de bloqueio total imposto por Israel, a Organização Mundial da Saúde (OMS) alertou, nesta segunda-feira, que dois milhões de pessoas passam fome em Gaza.

Netanyahu se pronunciou nesta segunda-feira após o Exército israelense anunciar, no fim de semana, uma nova operação em Gaza contra o movimento islamista palestino Hamas, que atacou Israel em 7 de outubro de 2023.

"Os combates são intensos e estamos progredindo. Tomaremos o controle de todo o território da Faixa", declarou Netanyahu.

"Não vamos ceder. Mas para ter sucesso, temos que agir de forma que não nos detenham", acrescentou, ao explicar o que levou Israel a anunciar no domingo a entrada limitada de ajuda humanitária no território palestino bombardeado.

"Não devemos deixar que a população caia na fome, nem por razões práticas, nem por razões diplomáticas", declarou no mesmo vídeo.

Ele explicou que "os amigos" de Israel disseram que não tolerariam "imagens de fome em massa" em Gaza.

Vinte e dois países, entres França, Alemanha, Reino Unido, Canadá, Japão e Austrália, exigiram de Israel nesta segunda-feira "a imediata retomada completa da ajuda na Faixa de Gaza", e que esta seja organizada pela ONU e as ONGs.

Israel impõe um bloqueio a Gaza desde 2 de março, que impede a entrada de insumos básicos no território de 2,4 milhões de habitantes.

O diretor-geral da OMS, Tedros Adhanom Ghebreyesus, alertou nesta segunda-feira de Genebra para o crescente risco de fome no território.

Há "dois milhões de pessoas morrendo de fome" em Gaza, apesar das "toneladas de comida bloqueadas na fronteira", destacou.

Israel anunciou a entrada - a primeira autorizada desde 2 de março - de cinco caminhões de ajuda humanitária da ONU na Faixa de Gaza, que sofre com a fome.

Por sua vez, o responsável humanitário da ONU, Tom Fletcher, disse em comunicado que nove caminhões com ajuda humanitária da ONU receberam autorização para entrar na Faixa de Gaza nesta segunda-feira.

Como o "Apocalipse"

A Defesa Civil de Gaza informou, nesta segunda-feira, que bombardeios israelenses mataram 91 pessoas em diferentes pontos do território nas últimas horas.

"Foi como o Apocalipse", disse à AFP Mohamed Sarhan, morador de Khan Yunis, a principal cidade do sul da Faixa de Gaza.

"Há disparos vindos de todos os apartamentos, rajadas de fogo, caças F-16 e helicópteros atirando", disse ele.

O porta-voz militar israelense em árabe, Avichay Adraee, havia pedido anteriormente aos moradores da cidade que a evacuassem imediatamente.

"De agora em diante, Khan Yunis será considerada uma zona de combate perigosa", alertou ele nas redes sociais.

O gabinete de Netanyahu informou no domingo que Israel autorizaria "a entrada de uma quantidade básica de alimentos" em Gaza, "para evitar que ocorresse fome". Também enfatizou que agiria "para impedir que o Hamas confiscasse essa ajuda".

O movimento islamista negocia da maneira indireta com Israel para alcançar uma trégua, em conversações que acontecem no Catar, um dos países mediadores ao lado do Egito e dos Estados Unidos, mas não apresentaram resultados.

As negociações conseguiram apenas uma trégua de uma semana no final de 2023 e outra de dois meses no início deste ano, que acabou quando Israel retomou sua ofensiva em 18 de março.

O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, o aliado mais próximo de Israel, admitiu na semana passada que "há muitas pessoas passando fome" em Gaza.

A guerra começou após o ataque do Hamas ao território israelense em 7 de outubro de 2023, que deixou 1.218 mortos, segundo uma contagem baseada em dados oficiais israelenses.

Os islamistas também sequestraram 251 pessoas no mesmo dia. Destas, 57 continuam em cativeiro em Gaza, mas 34 foram declaradas mortas pelo Exército israelense.

Segundo o último balanço do Ministério da Saúde de Gaza, a ofensiva israelense já deixou mais de 53.486 mortos no território, um número que a ONU considera confiável.

Netanyahu afirmou que está aberto a um acordo de trégua que inclua o fim da ofensiva, mas destacou que este deva incluir o "exílio" do Hamas e o "desarmamento" do território, demandas que até agora foram rejeitadas pelo movimento palestino.