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Indústria e comércio pernambucanos serão afetados pela tarifa de Trump

Entidades da indústria e do comércio de Pernambuco e de outros setores em todo o país reagiram à taxação imposta pelos EUA, ressaltando os impactos na economia brasileira

Por Cecília Belo

Representantes da indústria e comércio apostam na diplomacia para contornar a situação

A decisão do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, de impor uma tarifa de 50% de importação sobre produtos brasileiros, anunciada na última quarta-feira (9), gerou reação de entidades do setor produtivo pernambucano, que consideram a medida uma ameaça direta à competitividade da indústria e comércio do estado no mercado norte-americano, um destino estratégico às exportações pernambucanas.

Federação das Indústrias do Estado de Pernambuco (Fiepe) evidenciou que Pernambuco mantém importantes relações comerciais com os Estados Unidos nos setores de açúcar, frutas tropicais, estruturas metálicas, chapas plásticas e derivados de petróleo.

"A indústria pernambucana pode ser duramente impactada com a redução de embarques, perda de contratos internacionais e retração na demanda por bens produzidos localmente", frisou a entidade em nota. 

A Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo Pernambuco (Fecomércio-PE) considerou a medida uma catástrofe para os negócios locais, especialmente para o agronegócio e o comércio. "Cerca de 35% da exportação de Pernambuco é do agronegócio, que é justamente as frutas e o álcool. Os Estados Unidos é o segundo maior parceiro econômico do Brasil. Se houver uma ruptura, se o governo retaliar, será uma calamidade. Quando cai a exportação, também há queda do comércio interno, e isso se torna uma bola de neve", ressaltou o presidente da Fecomércio, Bernardo Peixoto, em entrevista ao Diario

"Petrolina foi a cidade que mais cresceu, hoje tem o maior IDH do Nordeste, graças à produção de frutas. Se houver uma ruptura, para onde iremos vender?", questionou Peixoto. 

Já o presidente da Fiepe, Bruno Veloso, afirmou ao Diario que uma retaliação por parte do Brasil não seria economicamente inteligente, já que o país depende de produtos norte-americanos, como máquinas, equipamentos, fertilizantes e matéria-prima essencial para a indústria nacional.

"Precisamos de máquinas e equipamentos para poder fazer investimentos nas nossas indústrias. Nós precisamos de matéria-prima, de fertilizante. Ou seja, no momento em que houver uma sobretaxa desses produtos importados, nós vamos encarecer o nosso material", argumentou Veloso. 

Veloso defende ainda que o conflito seja resolvido por meio do diálogo diplomático e alerta para os riscos de transformar a questão econômica em palanque político para evitar riscos de uma retração na economia brasileira. "Temos que resolver pensando no nosso país, no nosso produto, nas nossas indústrias, e não fazer com que esse assunto vire um assunto puramente político, porque então agravaria um problema econômico", disse. 

Já o presidente da Fecomércio acrescentou ainda a possibilidade de diminuição do fluxo de navios pelo estado, enfraquecendo o movimento portuário no Porto de Suape, por exemplo. "Sem carga, até os itinerários das embarcações serão afetados. E isso será muito difícil de recompor", avaliou. 

No país, representantes dos setores econômicos também reagiram.

O Centro das Indústrias do Estado de São Paulo (Ciesp) afirmou que a iniciativa de Trump “ultrapassa os limites da diplomacia ao utilizar a questão tarifária como instrumento de disputa pessoal e ideológica”. Segundo a entidade, não há justificativa econômica plausível, já que os Estados Unidos mantiveram superávit comercial com o Brasil nos últimos dez anos — de US$ 91,6 bilhões em bens e US$ 256,9 bilhões se incluído o comércio de serviços.

 

Outras instituições de abrangência nacional reforçaram o apelo por canais diplomáticos. A Associação Brasileira da Indústria Têxtil (Abit) pediu o restabelecimento da previsibilidade nas relações bilaterais. A Câmara Americana de Comércio para o Brasil (Amcham) alertou para possíveis impactos negativos na geração de empregos, produção e investimentos. Já a Associação Brasileira da Indústria de Café (Abic) classificou a medida como um “grave retrocesso”, que pode comprometer a competitividade da cadeia produtiva do setor.

A Associação Brasileira de Rochas Naturais (Centrorochas) demonstrou preocupação com a perda de competitividade frente a outros países exportadores, como Itália, Turquia e Índia. Para a entidade, o Brasil pode perder espaço no mercado norte-americano.

Em nota, todas as entidades destacaram a importância de preservar os laços comerciais entre os dois países, considerados historicamente relevantes para a economia brasileira. Em Pernambuco, setores como o têxtil, o alimentício e o de minérios têm participação no fluxo de exportações para os Estados Unidos.

 *Com informações da Agência Brasil