Inteligência financeira: a arma para combater o crime organizado
José Custódio Delegado de Polícia de Pernambuco
Publicado: 11/06/2025 às 00:20

Lavagem de dinheiro (br.freepik.com)
Sob a fachada da legalidade, bilhões em recursos ilícitos atravessam fronteiras, financiam organizações criminosas e corroem o orçamento público brasileiro. A lavagem de dinheiro deixou de ser apenas um crime financeiro: hoje, é um mecanismo estruturante do crime organizado, sendo que seu enfrentamento exige ação direta da investigação policial qualificada.
É importante destacar que sem inteligência financeira, tecnologia e integração institucional, as polícias judiciárias continuarão operando no escuro diante das engrenagens sofisticadas da lavagem. As transações ilícitas estão cada vez mais anônimas, movimentadas por “laranjas”, criptomoedas e empresas de fachada.
A Lei 12.683/2012, ao revogar o rol taxativo de crimes antecedentes, ampliou a capacidade investigativa para qualquer infração penal. Agora, cabe ao delegado mapear a trilha do dinheiro, com base em indícios suficientes, utilizando instrumentos como a quebra de sigilo bancário/fiscal e cooperação com o COAF, Conselho de Controle de Atividades Financeiras, que é o órgão responsável pela comunicação de operações suspeitas, além de representar (pedir ao juiz competente a adoção de providências para garantir a efetividade de uma futura responsabilização penal/ou ressarcimento ao erário) pelas medidas cautelares assecuratórias de bens, direitos e valores do investigado ou em nomes de interpostas pessoas (que intermediam ou “emprestam a identidade”, para mascarar a verdadeira titularidade do dinheiro ou dos bens oriundos do crime). O uso estratégico dessas ferramentas pode ser decisivo para bloquear fluxos financeiros e descapitalizar organizações criminosas, antes mesmo da sentença.
Outro ponto alarmante: a lavagem alimenta o ciclo de corrupção sistêmica. Recursos desviados via contratos públicos, voltam “lavados” por meio de imóveis, empresas e paraísos fiscais. O impacto é direto, ou seja, menos investimento em saúde, segurança e educação. A Polícia Civil, enquanto responsável pela repressão penal na ponta, precisa assumir o protagonismo nesse combate.
Em síntese, prender o autor do crime antecedente é apenas o primeiro passo, pois o verdadeiro golpe está em cortar o fluxo financeiro, que alimenta a engrenagem criminosa. Sem dinheiro, o crime se asfixia. A repressão qualificada à lavagem de capitais não é coadjuvante, mas sim a linha de frente no desmonte do poder das organizações criminosas.
Descobrir, bloquear e recuperar ativos é mais do que uma ação investigativa: é atacar o coração financeiro da criminalidade. E essa responsabilidade estratégica, decisiva e intransferível é missão do delegado de polícia.

