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Paciência

Exercendo a função de advogado e professor por 25 anos, lidando com pessoas, observo que a sociedade tem se tornado cada vez mais impaciente e, de certo modo, intolerante.

Sérgio Ricardo Araújo Rodrigues

Publicado: 23/05/2025 às 10:59

Paciência/Foto: Freepik

Paciência (Foto: Freepik)

Exercendo a função de advogado e professor por 25 anos, lidando com pessoas, observo que a sociedade tem se tornado cada vez mais impaciente e, de certo modo, intolerante.

A impaciência da sociedade parece estar ligada a vários fatores. Vivemos na era da informação instantânea, onde tudo está a um clique de distância. Isso cria expectativas de respostas rápidas, soluções imediatas e resultados instantâneos. As redes sociais e a tecnologia aceleram nosso ritmo de vida e reduzem nossa tolerância à espera.

A tecnologia nos acostumou a respostas rápidas, compras instantâneas e entretenimento imediato, tornando a espera algo cada vez mais difícil de tolerar. As redes sociais reforçam essa urgência, já que estamos sempre expostos a novidades e estímulos que exigem nossa atenção o tempo todo.

Além disso, a cultura da gratificação instantânea, impulsionada pelos algoritmos, faz com que percamos a prática de lidar com processos mais lentos. Isso pode afetar não só nossa paciência, mas também nossa capacidade de concentração, criatividade e reflexão.

Por outro lado, se usadas de forma consciente, as ferramentas digitais podem ajudar a promover momentos de calma e equilíbrio. O segredo está em como interagimos com elas e no controle que exercemos sobre o tempo gasto nelas.

Além disso, há uma pressão constante por produtividade e eficiência. As pessoas estão sobrecarregadas, lidando com prazos apertados, trânsito caótico e uma enxurrada de estímulos o tempo todo. Isso acaba gerando frustração e impaciência em situações do cotidiano.

Também não podemos esquecer o impacto emocional: o estresse e a ansiedade são cada vez mais comuns, e isso influencia a maneira como reagimos às situações ao nosso redor. A falta de pausas, de momentos de reflexão e de conversas mais profundas contribui para essa sensação de urgência constante.

Melhorar a impaciência da sociedade — e a nossa própria — exige algumas mudanças de hábitos e mentalidade. Aqui estão algumas estratégias que podem ajudar:

Praticar a paciência intencionalmente: Treinar a mente para aceitar que nem tudo acontece de forma imediata pode fazer uma grande diferença. Pequenos desafios, como esperar um pouco mais antes de responder uma mensagem ou observar algo por alguns minutos sem distrações, ajudam a desenvolver essa habilidade.

Cultivar momentos de desaceleração: Incorporar pausas ao longo do dia, como respirar profundamente, caminhar sem pressa ou apreciar um café sem distrações, pode reduzir a sensação de urgência constante.

Diminuir a exposição ao excesso de estímulos: O bombardeio de informações, notificações e pressão social contribui para a impaciência. Reduzir o tempo de tela, escolher momentos para desconectar e até filtrar o que realmente importa podem ajudar.

Exercitar a empatia: A impaciência muitas vezes vem de expectativas irreais sobre os outros. Lembrar que cada pessoa tem seu próprio ritmo e desafios nos ajuda a ser mais compreensivos e menos reativos.

Mudar o foco: Em vez de se concentrar na frustração de esperar algo acontecer, pode ser útil pensar no que há de positivo na espera. Muitas vezes, é nesse espaço de calma que surgem reflexões e oportunidades inesperadas.

Deixo para reflexão a letra de Lenine, Paciência:

“Mesmo quando tudo pede
um pouco mais de calma
Até quando o corpo pede
Um pouco mais de alma
A vida não para
Enquanto o tempo
Acelera e pede pressa
Eu me recuso, faço hora
Vou na valsa
A vida é tão rara
Enquanto todo mundo
Espera a cura do mal
E a loucura finge
Que isso tudo é normal
Eu finjo ter paciência
O mundo vai girando
Cada vez mais veloz
A gente espera do mundo
E o mundo espera de nós
Um pouco mais de paciência.”

 

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